Serginho tomava remédio para o coração

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Por Agencia Estado
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Um exame de laboratório realizado por Serginho no dia 11 de agosto mostrou a presença de digoxina no sangue do jogador. A substância é um remédio para o coração, mais especificamente para doenças do miocárdio, o músculo cardíaco. A quantidade identificada (0,58 nanograma por mililitro) aponta que Serginho tomava o medicamento na época do exame. Em entrevistas e depoimentos dados após a morte do atleta, entretanto, familiares de Serginho e pessoas ligadas ao São Caetano negaram que o zagueiro fizesse uso de algum medicamento para o coração. O Agência Estado teve acesso à folha de resultados do exame de sangue feito por Serginho. Em papel timbrado do laboratório São Caetano Saúde, localizado em São Caetano do Sul, o documento traz a data de 11 de agosto de 2004 e aponta 0,58 ng/ml de digoxina. O médico do São Caetano, Paulo Forte, é indicado como o responsável pelo pedido. E a realização do exame consta do prontuário de Serginho no Instituto do Coração (Incor) do Hospital das Clínicas. Pelo prontuário, no mesmo dia 11, o resultado do exame foi entregue por Paulo Forte a Edimar Bocchi, cardiologista que cuidou dos exames do jogador no Incor. O promotor encarregado do caso Serginho na Justiça, Rogério Leão Zagallo, da 5ª Vara do Júri, confirma que o exame integra as mais de 200 páginas do inquérito. "Se ele estava tomando um remédio para cardíacos, fica ainda mais caracterizado que sabia do problema", diz Zagallo. O promotor, que ontem devolveu o inquérito ao delegado Guaracy Moreira Filho, do 34.º DP, para novas diligências, incluiu duas perguntas sobre a digoxina nas questões que enviará à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), junto com o pedido de parecer técnico sobre o caso. "Quero saber o que significa o uso da digoxina para o quadro do Serginho e se ela aponta para um tratamento maior da doença cardíaca." A versão do São Caetano e da família de Serginho, até aqui, é que o clube jamais foi informado da gravidade do problema do jogador. "O clube desconhece que Serginho usava algum medicamento e desconhecia que ele tinha problema grave", diz Luiz Fernando Pacheco, advogado do São Caetano. Assim como os profissionais ligados ao clube, o cardiologista Edimar Bocchi nega ter receitado digoxina ao jogador. Além de revelar que Serginho buscou algum tratamento para seus problemas cardíacos, a presença da digoxina no sangue do jogador alimenta novas dúvidas. Segundo especialistas, o remédio é normalmente usado para miocardiopatia dilatada e extremamente contra-indicado para miocardiopatia hipertrófica, a doença que matou o jogador. Isto é, Serginho teria sido mal orientado no uso da digoxina, que pode ter acelerado seus problemas. "A digoxina normalmente é indicada para diagnóstico de insuficiência cardíaca. Ela é usada quando o músculo está dilatado, ou seja, tem dificuldade para se contrair. Sua ação é fazer o músculo cardíaco se contrair com mais força", diz o cardiologista Antônio Carlos Lopes, professor da Unifesp. "Não se usa digoxina para hipertrofia. Se usada por pessoas com miocardiopatia hipertrófica, ela faz mal, piora as arritmias." Para Antônio Carlos Lopes, a quantidade de digoxina presente no sangue de Serginho na época do exame indica que o jogador vinha fazendo uso do medicamento - que pode ser comprado sem necessidade de receita médica -, com uma certa freqüência. O exame é de 11 de agosto. Serginho teve os primeiros diagnósticos de problemas cardíacos em fevereiro, voltou ao Incor para novos exames em junho e morreu em 27 de outubro. O prontuário médico do Incor aponta para miocardite e, mais tarde, para sinais de miocardiopatia com dilatação do coração. O documento não fala em hipertrofia, causa da morte apontada pelo Serviço de Verificação de Óbitos.

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