Publicidade

Símbolo da raça deixa o La Coruña

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Na tarde de 26 de agosto de 1990, quando pôs no peito a medalha de campeão paulista, defendendo o modesto Bragantino, Mauro Silva, até então conhecido apenas em parte Estado de São Paulo, não imaginava que poucos anos depois seria campeão mundial com a seleção brasileira e ídolo na Espanha. Desde a noite de hoje, após a partida entre sua equipe, o Deportivo La Coruña, e o Numancia, Mauro Silva tornou-se um ex-jogador de futebol (na verdade, ele não chegou a jogar no empate de 1 a 1, em Numancia). Mas não daqueles que passam e vão embora sem deixar nenhuma marca. A prefeitura de La Coruña decidiu dar seu nome a uma rua da cidade, como forma de homenageá-lo pelos bons serviços prestados à equipe local por tanto tempo: 13 anos. "É algo especial para mim, sempre fui tratado com muito carinho pelo espanhóis." Poucos atletas no mundo defenderam por tanto tempo um time - ainda mais fora de seu país. Aldair igualou a marca na Roma. Casos como esses, porém, são raros. O volante nascido em São Bernardo do Campo, no ABC, saiu do Brasil com a certeza de que faria sucesso e de que não pensaria em retornar por causa da adaptação. Seu principal título foi o da Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos, com a seleção brasileira. Entre outros, conquistou a Copa América, em 97, e a Liga Espanhola na temporada 99-2000. Agora, aos 37 anos, quer curtir um pouco a família e os amigos no Brasil para, depois, voltar ao futebol, como dirigente ou técnico. Agência Estado - O que pretende fazer agora? Mauro Silva - Não sei exatamente. Posso ficar um tempo no Brasil, depois voltar para cá. Recebi várias propostas para ficar na Espanha, mas também sinto falta dos amigos e dos familiares no Brasil. Não descarto ser técnico, mas ainda não sei dizer o que farei. Agência Estado - Você se adaptou facilmente a La Coruña e nunca pensou em voltar... Mauro Silva - La Coruña é pequena, mas tem várias opções de diversão: cinema, teatro, concertos, aquário, bom comércio, gastronomia variada. Você encontra churrascarias, feijoada. A gastronomia espanhola está na frente até da francesa. É importante a gente conhecer e se integrar à cultura do país em que vive. Agência Estado - Nesses anos de La Coruña, com tantas viagens para jogos, além dos feriados e férias, você provavelmente conheceu a Europa interira, não? Mauro Silva - Conheci quase tudo. É o berço da civilização. Para mim, foi uma experiência fantástica. Hoje, tenho outra cabeça, outra visão do mundo. Você abre a cabeça. Não estive em alguns poucos países, como Suécia, Finlândia e Rússia. Na Europa, além de ter aprendido espanhol, estudei inglês e francês. Passei a ler mais, aprendi bastante coisa. Agência Estado - Mas, seguramente, no início você deve ter cometido alguma gafe ou por causa do idioma ou por causa dos costumes, não? Mauro Silva - Sim. No primeiro dia meu no hotel, logo que cheguei, fui pedir o serviço de restaurante. A moça foi me atender e eu pedi arroz. Passou um tempo e ela chegou com um prato cheio de alho. A pronúncia de arroz, em português, é parecida com alho em espanhol. Agência Estado - O título de 94 com a seleção foi o mais importante de sua carreira ou houve outro? Mauro Silva - Foi o mais importante. Fazia 24 anos que o Brasil não era campeão do mundo, foi muito legal. Naquela ocasião, havia pressão, crítica. A dinâmica era criticar, criticar e criticar. Talvez porque a Itália pudesse ser tetracampeã e passar o Brasil em títulos. Hoje, o Brasil é pentacampeão e ninguém discute. Agência Estado - E o momento mais triste? Mauro Silva - O mais duro foi na temporada 93-94 pelo La Coruña. Jogávamos contra o Valencia e precisávamos de uma vitória simples para conquistar o título. Caso contrário, o Barcelona, que naquela rodada ganhou do Sevilla por 5 a 2, seria o campeão. Perdemos um pênalti no último minuto e empatamos por 0 a 0, em casa. Agência Estado - E aquela polêmica da Copa América de 2001, na Colômbia, em que você deixou a seleção no aeroporto e não seguiu para a competição? Mauro Silva - Nem gosto de falar muito disso. Acho que faltou organização para o nosso futebol. A competição foi cancelada (por causa da violência provocada pelas Farc na Colômbia) e depois foi confirmada. Havia risco para todo mundo. Por que realizar a competição? Na verdade, foi mais mais uma visão política do que o medo do risco. Acho que o jogador precisa ter uma participação mais ativa. Agência Estado - Por causa daquilo você ficou fora da Copa de 2002 em que o Brasil foi campeão. Não se arrepende? Mauro Silva - O Brasil ganhou a Copa, foi bom. Apareceram bons jogadores de meio-campo, o Gilberto Silva, o Kleberson. Deu tudo certo para a seleção, não me lamento.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.