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(Viramundo) Esportes daqui e dali

Sinceridade incômoda

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Por Antero Greco
Atualização:

O folclore do futebol está recheado de incidentes que têm Palmeiras e Corinthians como protagonistas e vítimas. Os dois clubes populares são famosos por trapalhadas internas a perturbá-los em momentos de calmaria. Estão sossegados até que, de repente, um incidente os desestabiliza. Pois a eles se junta o São Paulo, que de uns tempos para cá tomou gosto de especializar-se em gafes. O trio não resiste a um “fogo amigo”.

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A nova lambança tricolor veio de Juan Carlos Osorio. Após o baile na derrota por 3 a 0 para o Santos na noite de anteontem na Vila Belmiro, foi direto ao ponto quando lhe perguntaram a razão de tamanha oscilação da equipe – impecável contra o Inter (2 a 0, no sábado) e impotente no clássico paulista: “Falta qualidade.”

Simples, conciso, sincero. E desastrado. O colombiano feriu um princípio de relação corporativa, cujos desdobramentos não pegam bem em quase nenhuma circunstância, em especial no mundo da bola, recheado de melindres. Na cartilha do bom gestor, está explicitado que não deve abrir ao público o que pensa a respeito dos comandados. E treinadores têm sob responsabilidade profissionais especializados e cheios de não me toques.

O elenco são-paulino não é grande coisa – fato escancarado pela própria diretoria ao abrir mão de vários titulares para fazer caixa. A reposição não ficou à altura; outra constatação indesmentível. Os resultados, por extensão, refletem o enfraquecimento técnico.

Faz tempo que o time virou ponto de interrogação. Impossível cravar o que pode apresentar, tal o zigue-zague de desempenho. O torcedor fica sempre apreensivo, cada partida se transforma num exercício de paciência e emoção. Osorio dispensou firulas protocolares e botou o dedo na ferida. Fez bem e fez mal. O rei está nu, mas não precisa gritar.

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Se for o caso, que aponte intramuros, o papo de que roupa suja se lava em casa. Passe sabão nos jogadores, dê ultimato aos cartolas, mas sustente sorriso da boca para fora, nos contatos externos, e se safe na base do “confio na rapaziada e temos muito campeonato pela frente”.

A transparência de Osorio parece desprovida de maledicência – não teria como julgá-lo a distância. Receba, portanto, o benefício de que agiu com boa intenção. Mas ao optar por análise crua assume o risco de quebrar a confiança dos atletas nele. E taí categoria com poder de sobra para derrubar chefe. Se a turma pega antipatia pelo professor, é questão de tempo para que limpe o armário e cante em outra freguesia. 

Não se descarte a hipótese de que Osorio esteja a abrir caminho para saída estratégica qualquer horas dessas, mesmo com repetidas negativas do presidente Aidar. Também cabe ressaltar que tem parcela de responsabilidade nessa gangorra. Afinal, é o treinador e, nessa condição, tem feito escolhas nem sempre acertadas, na tática e na escalação. Injusto tratá-lo como um coitado iludido pelo canto da sereia. 

Resumo da ópera: há coisas estranhas no reino do Morumbi. Com ironia adicional: apesar disso, o São Paulo luta pelo G-4 e está na briga pela Copa do Brasil. Coisas do futebol...SURGE A LIGATreze equipes, de Minas, Rio, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, anunciaram ontem a criação da Liga Sul-Minas-Rio e pretendem ter campeonato já a partir de 2016. A entidade nasce com diretoria, estatuto, esboço da forma de disputa do torneio e outras bossas. Espera contar com aval da CBF, que torce o nariz para essas iniciativas.

A ideia é muito interessante, representa ensaio de autonomia dos clubes e serve de embrião para uma liga que venha a organizar todos os campeonatos nacionais. À CBF caberiam funções protocolares e cuidar da seleção, o que lhe interessa na prática, pois enche as burras com ela. 

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Como a cartolagem brasileira tem extensa folha corrida de contradições e recuos, não custa ficar com um pé atrás. E é preciso ver, também, como ficará o relacionamento com as emissoras de tevê. Ponto-chave.

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