O melhor time do Brasil também provou-se ser o mais sortudo. Sorte de campeão! O Flamengo não fez sua parte no Morumbi, jogou mal e perdeu para o São Paulo por 2 a 1, mas teve ajuda do coirmão Corinthians para segurar o Inter dentro do Beira-Rio. O empate em Porto Alegre fez o Flamengo bicampeão brasileiro. Ao Inter, que espera há 41 anos para ser campeão novamente, faltou um gol.
Nesta última rodada do Brasileirão, o time de melhor elenco do País acreditou até o fim. O Flamengo não foi uma flecha como em 2019, mas espetou rivais ao longo da disputa. Teve problemas no seu comando, como troca de treinadores, e alguns ajustes no grupo, além de muitas contusões. Passada a tormenta, aparadas as arestas e após alguns meses sob as diretrizes de Rogério Ceni, o time voltou a mostrar futebol que encanta a todos. Dá gosto de ver a equipe em ação. Esbanja técnica em todas as posições. O título ficou em boas mãos.
Isto é raro no deserto que virou o futebol nacional. Do meio de campo para frente, todos são atacantes no Flamengo. Sobra inteligência e há parcerias que parecem ter sido formadas no berço, como Gabriel e Bruno Henrique, tamanho entrosamento. Fizeram algumas dessas no Morumbi, apesar da apresentação aquém da esperada.
Diria mais. O Flamengo não é time para disputar o futebol brasileiro. Poderia estar em qualquer liga da Europa, sem exagero algum. Talvez não brigando pelo título, mas competitivo. Boa parte de seus jogadores já estiveram lá e não seria demais supor que a maioria tem condições de voltar. Se a diretoria mantiver o elenco unido, com pequenos acertos, e se não crescer desavenças e nascer ciumeira no vestiário, o Flamengo vai dominar o futebol do País por alguns anos, com raros rivais.
É bem verdade que demorou para se acertar e só tomou a liderança do Inter na 37.ª rodada. Isso atrapalhou a caminhada. Mas não tira o brilho de um elenco bom de bola. Ganhar ou perder é do jogo. O torcedor cobra futebol competitivo, graça e qualidade em campo. O Flamengo vale cada centavo do que ganha porque entrega tudo isso.
Mas não é o único. Também vale ressaltar a valentia de um Internacional que ganhou seu último brasileiro lá em 1979, num Brasil que não existe mais, muito diferente do atual, com o Rei de Roma em suas fileiras: Paulo Roberto Falcão. Da mesma forma, o time teve problemas em sua caminhada, o de sempre: troca de técnico. Quando Abel assumiu no lugar de Coudet, demorou para engrenar, mas depois emplacou sequência de nove vitórias que fez a equipe brigar pelo título até a última rodada, até o último minuto. Um gol lhe dava o título, mas ele não veio.
Seus atletas foram bravos. O Inter tem bons jogadores, nenhum craque como o Flamengo, mas todos merecedores de respeito. A torcida vai saber reconhecer isso na sequência.
O Brasileirão 2020 indica ainda o contra-ataque de dois treinadores brasileiros à invasão estrangeira. Não seria demais admitir que Rogério Ceni já está em outro patamar. Subiu um degrau. Ele faz parte do grupo de treinadores da nova geração. Tem personalidade, aprendeu com os erros e com a ansiedade. É um técnico que precisa de mais tempo para se impor e se fazer entender à beira do gramado. Vê futebol com qualidades ofensivas e não teme arriscar quando enxerga brechas.
Enfrentou o amigo Abel, que estava “velho” até se renovar no Sul. Não são tão decisivos como gostamos de pontuar, mas tiveram sua importância até a última jornada de um campeonato travado pela pandemia. Assim, Flamengo e Inter descem as cortinas do Brasileirão 2020.