Publicidade

STJD revê exclusão sumária, mas mantém eliminação ao Grêmio

Mesmo com saída da Copa do Brasil e multa de R$ 50 mil, torcedores que xingaram Aranha poderão voltar aos estádios

PUBLICIDADE

Por MARCIO DOLZAN E RONALD LINCOLN JR.
Atualização:

Atualizado às 13h34

PUBLICIDADE

O Pleno do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) voltou atrás na exclusão sumária do Grêmio na Copa do Brasil. Mas, ainda assim, eliminou o time gaúcho da competição. Isso porque os auditores puniram o clube com a perda de três pontos - e como o Santos venceu o jogo de ida por 2 a 0, não há mais como reverter o resultado em campo. O clube gaúcho ainda teve mantida a multa de R$ 50 mil. Devido a uma "falha processual", os torcedores que proferiram as injúrias racistas ao goleiro Aranha poderão voltar a frequentar os estádios normalmente.

Punidos inicialmente com o afastamento de estádios por 720 dias, os torcedores gremistas identificados tiveram sua pena anulada, já que nenhum nome foi citado na denúncia - o que, por lei, impede qualquer punição. Assim, a menos que a procuradoria do STJD ofereça nova denúncia, eles poderão voltar às arquibancadas da Arena.

Já o quarteto de arbitragem teve seu recurso parcialmente aceito. O árbitro Wilton Pereira Sampaio, denunciado por não registrar os atos das ofensas racistas a Aranha em súmula, foi multado em R$ 800 e suspenso por 45 dias. O quarto árbitro, Roger Goulart, foi punido com multa de R$ 500, mais 30 dias de suspensão. Já os auxiliares Kleber Lúcio Gil e Carlos Berckenbrock foram inicialmente punidos com os mesmos R$ 500 e 30 dias de suspensão, mas, antes da divulgação do resultado, foram absolvidos devido à mudança de votos de dois auditores. 

Fabio Koff observou o novo julgamento com bastante desapontamento Foto: Fabio Motta/Estadão

Relator do processo, o auditor Paulo César Salomão Filho considerou que o caso era grave, mas fez ressalvas. "Não eram cinco pessoas xingando, ofendendo o goleiro do Santos, como disse a defesa. Mas também não eram milhares como dito pela procuradoria", comentou. "Não considero o Grêmio um clube racista, assim como não considero o povo do sul racista. Mas não é esse o enfoque do meu voto", explicou. Ele resolveu manter a multa de R$ 50 mil, mas em vez da exclusão direta do clube, votou pela perda de três pontos. Os demais auditores presentes seguiram seu entendimento. O auditor Flávio Zveiter, assim como havia feito no caso envolvendo injúrias raciais ao zagueiro Paulão, do Internacional, sugeriu que a multa seja revertida a entidades que combatam ao racismo, e não à CBF. JULGAMENTO Em sua explanação, o procurador-geral do STJD, Paulo Schmitt, foi incisivo. "O CBJD foi modificado em um de seus artigos, que foi alterado exclusivamente para coibir a prática discriminatória", disse, fazendo referência ao artigo 243-g, o qual o clube foi denunciado. "Esse tema (racismo) não tem serenidade. Jamais haverá serenidade nesta temática." Schmitt também falou sobre comentários de advogados ligados ao direito desportivo, que demonstraram temor sobre o precedente que se abriria a partir da exclusão de clubes por atitudes de alguns torcedores. "Estamos falando em excesso de torcedores. E isso não tem relação direta com quantidade, e sim de qualidade, de conteúdo", afirmou. "Não se preocupem com precedentes, porque não haverá precedentes. A procuradoria estará atenta." Assim como no julgamento em primeira instância, a defesa do Grêmio foi dividida por dois advogados, Gabriel Vieira - do quadro do clube - e Michel Assef Filho, que costuma defender o Flamengo no STJD.

Vieira argumentou que o Grêmio vem trabalhando contra o racismo desde 2005, com uma campanha que, segundo ele, "foi considerada de vanguarda". Assim, disse que o clube fez tudo o que lhe coube. "O Grêmio agiu antes, dez anos antes. O Grêmio agiu durante o jogo, passando vídeos nos telões. O Grêmio agiu depois da partida, ajudando na identificação dos torcedores. O que mais estava ao alcance do Grêmio?", indagou.

Segundo o advogado, a punição imposta pela 3ª Comissão Disciplinar traz graves prejuízos ao clube. "Perda de patrocínios, pessoas se desvinculando do clube... O Grêmio está sendo escrachado nas redes sociais", afirmou. Gabriel Vieira também fez referência a Martin Luther King, "citado diversas vezes desde o episódio". E deu atenção especial a uma citação do ativista negro: "Ao fim, o que fica e o que fere não é o barulho dos que querem o mal, mas o silêncio dos que querem o bem", pedindo, assim, que não deixassem o Grêmio com a pecha de clube racista.

Publicidade

Já Michel Assef Filho citou punição imposta pelo próprio STJD ao Paraná na Copa do Brasil deste ano - o clube foi apenas multado por atitudes racistas de dois de seus torcedores. "Qualquer um lá fora acha que foi um absurdo o Grêmio ser excluído pela ação de cinco torcedores num universo de 32 mil torcedores", afirmou.

Para Assef Filho, "faltou bom senso (à 3ª Comissão Disciplinar)". Na avaliação dele, a decisão de excluir o Grêmio da Copa do Brasil é desproporcional . "E se fosse a torcida inteira, o que se faria? Excluiria o Grêmio dos quadros da CBF? Porque não tem mais para onde ir!", destacou. Presente ao primeiro julgamento, o presidente do Grêmio, Fábio Koff, também esteve na sessão do Pleno. Ele chegou ao plenário do STJD às 9h22, quase uma hora antes do início - o presidente da corte, Caio Cesar Rocha, abriu o julgamento às 10h13. Diferentemente do julgamento da primeira instância, porém, ele não se manifestou.

RELEMBRE No dia 3 de setembro, o Grêmio havia sido excluído da Copa do Brasil por decisão unânime da 3ª Comissão Disciplinar. Na ocasião, os cinco auditores também multaram o clube gaúcho em R$ 50 mil. Os torcedores identificados pelos atos de injúria racial foram proibidos de frequentar estádios por 720 dias, enquanto que o árbitro Wilton Pereira Sampaio foi multado em R$ 800 e suspenso das atividades por 45 dias. Já os auxiliares Kleber Lúcio Gil e Carlos Berckenbrock, além do quarto árbitro Roger Goulart, foram penalizados em R$ 500 e afastados dos gramados por 30 dias. Na ocasião, as penas do quarteto de arbitragem acabaram dobradas por eles terem sido punidos em dois artigos.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.