O sumiço de Jô e a punição do Corinthians ao seu atacante são situações inexplicáveis no futebol brasileiro. São situações que não cabem mais na carreira de um jogador profissional, que muito faz lembrar o tempo do amadorismo das décadas passadas, quando jogar futebol era uma distração dos vagabundos que não queriam nada com a labuta.
O futebol mudou e transformou o mundo. Atleta é pessoa pública, exemplo para crianças e adolescentes, sinônimo de profissional bem sucedido, capaz de fazer fortunas em questão de anos. Neymar teve seu salário divulgado na França e descobriu-se que ele ganha R$ 22 milhões por mês. Daria para pagar um salário mínimo no Brasil (R$ 1.212) para 18 milhões de pessoas.
Jô teve a chance de se tornar jogador, levado pelas mãos de seu pai ao terrão do Parque São Jorge por anos. Agora, aos 35, ele some do clube que o lançou para "festejar" seu aniversário no Rio de Janeiro (foi a explicação dada). Nada justifica o sumiço de Jô. Nada. A pena aplicada pelo clube é ridícula para um empregador. O mais racional seria romper o contrato. Fim de linha. Daria exemplo para outros, de qualquer equipe, que talvez esteja pensando em fazer o mesmo: tirar uns dias na boa sem autorização. Desaparecer por algum motivo.
Empresa nenhuma perdoa esse tipo de comportamento de seus colaboradores. Mesmo com as justificativas, o clima fica insustentável. É muito feio o que Jô fez e isso não pode passar despercebido no futebol brasileiro, das brigas de torcidas, das pressões, das contratações, do monte de dinheiro ou da falta dele. É grave. Jô teve uma carreira bonita, no Brasil e fora dele. É um jogador mediano, não foi um craque, mas tem sua história no futebol. Era um dos últimos atacantes de área. Não tinha mais lugar no time porque sua mobilidade já não era mais a mesma. Entrava e saía, e talvez isso o tenha levado a fazer o que fez. Ocorre que ele tem contrato e deve respeitar o que assinou. Falo de Jô no passado porque entendo que ele não tem mais presente nem futuro. Virou um ex-jogador em atividade. Jô está mal assessorado. Toma decisões erradas e enterra a sete palmos sua carreira. O Corinthians ainda teve a compaixão de mantê-lo no elenco, talvez até pelo respeito ao seu pai. Compaixão que o futebol profissional não tolera mais. Não tivesse história no clube, talvez a decisão teria sido outra. Pode até ser que a diretoria ainda venha a anunciar o rompimento de seu contrato, que vai até o fim de 2023. Não tem sentido o clube continuar com ele. Jô passa a ser um exemplo negativo. Para Vitor Pereira, o treinador português que chegou para arrumar o Corinthians, Jô é carta fora do baralho. O futebol é rico demais para ter atletas sem comprometimento. Nem a torcida corintiana se deu ao trabalho de protestar, tamanha a insignificância do jogador neste momento. Pior para ele, que "acaba com uma carreira" que poderia ter tido um último capítulo bem mais digno.