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Taça Rio é torneio internacional, mas não pode ser mundial

Análise de jornais da época mostra exagero sobre importância da competição

Por Agencia Estado
Atualização:

O Palmeiras conseguiu junto à Fifa o reconhecimento da Taça Rio de 1951 como um título de campeão mundial. Foram quase de três anos de espera. Em 2004, os diretores do clube - encabeçados por Roberto Frizzo - enviaram à entidade um dossiê com motivos para comprovar que o torneio disputado no Brasil teve esta força. Mas, o que fica evidente analisando os relatos dos jornais da época é que houve um exagero de todas as partes envolvidas - dos times, da então Confederação Brasileira de Desportos (CBD) e de boa parte da imprensa na cobertura do torneio. O motivo da criação desta Copa foi para recuperar o moral do País, que estava abalado pela perda da Copa do Mundo de 1950 e pelas dificuldades econômicas. A melhor forma para isso, numa época em que o governo Dutra entrava em declínio e se preparava para a volta de Getúlio Vargas ao poder (agora como presidente eleito), nada melhor que organizar um torneio de futebol com times estrangeiros - vistos ainda como "mestres", uma vez que eram os criadores do esporte. A CBD anunciou que teria campeões de importantes países (ainda não existiam torneios continentais, como a Liga dos Campeões e a Copa Libertadores), mas campeões mesmo só vieram o Olympique de Nice (França), Sporting (Portugal) e Nacional (Uruguai). Juventus Os outros participantes foram: Estrela Vermelha (antiga Iugoslávia), Áustria Viena (AUT) e Juventus (ITA) - o único destes times estrangeiros que realmente pode ser considerado uma potência mundial -, além de Palmeiras e Vasco, campeões estaduais (ainda não existia um campeonato nacional), escolhidos pelo fato de que seriam duas sedes, uma no Rio, outra em São Paulo. Após a disputa da primeira fase (30 de junho a 8 de julho), classificaram-se para as semifinais Vasco, Palmeiras, Áustria Viena e Juventus. Os confrontos determinaram como finalistas Palmeiras e Juventus. O time alviverde venceu o primeiro jogo por 1 a 0 e empate por 2 a 2 no segundo jogo, garantindo assim o título. Dois jornais da época noticiaram a conquista de formas distintas: enquanto A Gazeta Esportiva escreveu em sua manchete: "Campeão do mundo", no O Estado de S. Paulo a conquista se destacava da seguinte forma: "Palmeiras conquistou a taça ´Cidade do Rio de Janeiro´". Compensação por exclusão Oficialmente, a Fifa só agora se pronunciou sobre a análise do pedido palmeirense. Antes, a entidade só se limitava a informar que "não há novidade sobre o caso". O principal argumento utilizado pelo presidente da CBF, Ricardo Teixeira, para garantir o reconhecimento da Fifa é uma compensação pelo fato do Palmeiras não ter disputado a edição de 2000 do Mundial de Clubes da entidade (era campeão da Libertadores de 1999) e nem de 2001, que foi cancelada. Outro ponto que os torcedores palmeirenses utilizavam como argumento é o fato de tempos depois ter surgido a Taça Intercontinental de Clubes, conhecida como Mundial Interclubes aqui no Brasil, vencida por clubes como Flamengo, Santos, Grêmio e São Paulo, entre outros, torneio que foi reconhecido pela Fifa - mas a entidade, em momento algum, afirmou que estes times são campeões mundiais. Apenas reconheceu a existência e a importância histórica da competição, que era disputada pelo campeão sul-americano e pelo campeão europeu. Mas, para a Fifa, os campeões mundiais até o momento eram Corinthians, Internacional e São Paulo. Agora tem o Palmeiras.

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