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Tão raro quanto os craques

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Por Paulo Calçade
Atualização:

No sábado, torcedores de uma organizada corintiana foram ao centro de treinamento protestar. Exigiram empenho, dedicação e foco (?). E fizeram ameaças, aquelas bobagens de sempre que não ajudam a melhorar em nada um time de futebol, típica de teleguiados desconectados da realidade.  De onde saíram esses caras? São filhotes de uma disputa política ou torcedores dos tempos virtuais? Ou talvez o substrato de um certo tipo de jornalismo esportivo semeador de crises?  Vontade não falta ao Corinthians, esse não é o problema, falta tempo. No domingo, contra o Grêmio, o time chutou a gol 16 vezes, número que impressiona e leva à conclusão de que houve um bombardeio, mas nada disso aconteceu. Só uma bola atingiu o alvo, o gol defendido por Marcelo Grohe. Diante de uma equipe que também vem ferida pela desclassificação na Libertadores, e que será muito competitiva no Brasileirão, o Corinthians escancarou sua dificuldade de organizar o jogo no meio de campo e produzir finalizações para André. Foi notável no atacante, porém, o esforço para ser uma alternativa, pelo menos como pivô, 10 metros antes da grande área gremista, algo que não é natural para ele. Com dificuldade de propor o jogo, a equipe busca seu centroavante para encurtar a distância e se aproximar do gol. O segundo tempo foi melhor. Romero, pela esquerda, dominado por Ramiro, não conseguiu jogar. Sem espaço, obrigado ao jogo curto, o esforçado paraguaio, de claríssimas limitações técnicas, empacou o time naquele setor.  Com Giovanni Augusto e Marquinhos Gabriel, a equipe cresceu e terminou pressionando o time gaúcho, mesmo sem um atacante pelo lado como gostaria Tite, papel desempenhado pelo lateral Fagner no setor direito.  É natural que o capitão da reconstrução tenha dificuldade para conceber uma nova equipe, cuja ligação com a campeã de 2015 é o sistema, o 4-1-4-1, e quase nada além disso. O desenho tático não deve e não pode travar o desenvolvimento do grupo, mas foi o alicerce do título.  O Corinthians campeão brasileiro teve altos e baixos, cresceu durante o ano e, quando ficou pronto, desapareceu. Agora vai demorar para engrenar, para desenvolver parcerias e estabelecer as triangulações dentro do modelo do treinador. “Se o torcedor não apoiar, vai ser mais difícil”, avisa Tite. Infelizmente a falta de memória empurra a análise para um beco sem saída. O time do ano passado demorou a encaixar Vagner Love e só cresceu na reta final do campeonato, levou meses para superar seus problemas. Mas ninguém se lembra disso. O Brasileirão obrigará Tite a movimentar as peças de seu xadrez mais rapidamente. O time que terminou a partida de domingo é uma alternativa.  Giovanni Augusto, mesmo sendo menos atacante e mais meio-campista do que Romero e Lucca, merece ficar. Existe mais futebol no ex-jogador do Atlético do que nos colegas que frequentam o setor esquerdo corintiano. As respostas virão dos treinamentos e das partidas, não há outra maneira. A menos que o clube contrate Zlatan Ibrahimovic, que deixou o Paris Saint Germain. Como esse tipo de jogador não está na pauta, foco no trabalho, como diriam os gaiatos que foram ao portão do CT protestar e fazer ameaças. A missão é árdua e precisa de tempo, algo tão raro por aqui quanto os craques.PALMEIRAS Tchê Tchê disputou a final do Paulistinha no domingo e no sábado seguinte fez ótima estreia no Palmeiras. Ponto para Cuca, que deu ao jogador as mesmas condições que ele tinha no Osasco Audax. Tchê Tchê não sentiu o peso da camisa e ajudou sua nova equipe a começar muito bem o Brasileiro.