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Técnicos aprovam limite de trocas de comando no Brasileirão e garantem que o futebol vai melhorar

Para treinadores, nova regra apresentada pela CBF vai fazer os clubes darem mais tempo aos 'professores'

Por Ciro Campos
Atualização:

A novidade anunciada pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) de que o Campeonato Brasileiro deste ano terá limite na troca de técnicos agradou bastante aos profissionais da área. Consultados pela reportagem do Estadão, treinadores afirmam que a decisão de permitir aos clubes de fazer somente uma troca de comando durante a competição vai resultar em um aumento no nível técnico, além de oferecer mais tempo de trabalho ao profissional.

Os treinadores entendem que com a aplicação da regra, as equipes vão passar a ter mais responsabilidade para contratar e, principalmente, vão ter de dar mais prazo para o técnico desenvolver suas ideias e conceitos do futebol. Para Jorginho, lateral campeão do mundo com a seleção brasileira em 1994, a medida é válida e benéfica para todas as partes.

CBF e clubes definiram limites para a utilização de técnicos no Brasileirão Foto: Lucas Figueiredo/CBF

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"Uma decisão dessa vai inibir a troca descabida de técnicos. O treinador não vai pular de galho em galho e comandar cinco times na mesma temporada. Isso também vai fazer com que a qualidade do futebol melhore, porque o treinador vai ter tempo para trabalhar", disse ao Estadão. Para ele, o ideal seria que a medida fosse acompanhada da obrigação de o clube acertar imediatamente a rescisão com o profissional dispensado e não mais pagar a perder de vista.

Segundo estimativa da Federação Brasileira de Treinadores de Futebol (FBTF), no sistema de técnicos da CBF há registro de 1,2 mil profissionais em atividade no País. A entidade calcula que apenas na última temporada do Campeonato Brasileiro, as 20 equipes foram dirigidas por 42 treinadores. Foram realizadas 33 trocas de comando. O Botafogo foi o recordista e chegou a ter cinco comandantes. O clube foi rebaixado.

O presidente da FBTF, José Mário Barros, elogiou a mudança, que teve o aval dos clubes da Série A numa votação de 11 a 9. "A troca de treinador acarreta uma deficiência técnica grande no futebol brasileiro. Estamos perdendo nossas características. Muitos técnicos queimam etapas porque precisam assumir um emprego, trabalhar e ter resultado para se manter no cargo, e não para desenvolver o time", disse. 

Muitos técnicos queimam etapas porque precisam assumir um emprego, trabalhar e ter resultado para se manter no cargo, e não para desenvolver o time

José Mário de Barros, Presidente da FBTF

A CBF colocou a mesma proposta de limite de técnicos em pauta nos três últimos anos. Os clubes não aceitaram. Dessa vez, a ideia foi aprovada. A nova regra estabelece ainda que o treinador não poderá dirigir mais do que dois times em uma mesma edição do Campeonato Brasileiro. Ou seja, os próprios profissionais terão de ser mais criteriosos na hora de aceitar uma proposta.

Jayme de Almeida defende a aplicação do limite de troca de técnicos no Brasileirão Foto: Marcos de Paula/Estadão

"O treinador que está fora do mercado e tem qualidade, vai precisa ter mais paciência. Vai 'rodar menos' a fila de oportunidades. Só que acho uma ideia benéfica, porque é preciso dar tempo para o técnico conhecer o elenco", analisou o técnico Jayme de Almeida, campeão da Copa do Brasil de 2013 pelo Flamengo. "As escolhas agora serão feitas com mais critério. Na teoria, os profissionais terão mais tempo para desenvolver o trabalho, acho isso positivo. Acabarão as apostas. Quem está conseguindo resultados terá a preferência. Vai ficar mais difícil para quem ainda está começando e ainda não se firmou", explicou Geninho, técnico campeão brasileiro com o Athletico-PR em 2001.

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Vai ficar mais difícil para quem ainda está começando e ainda não se firmou

Geninho, Treinador

O treinador Ney Franco é outro apoiador da medida. Na opinião dele, a regra vai ajudar a criar uma relação mais saudável até mesmo entre torcida e o técnico. "As redes sociais e a manifestação de torcida influenciam nas decisões dos dirigentes. Quando essa regra for bem entendida, essa pressão vai diminuir", disse. "Quando a torcida entender essa nova regra, terá mais respeito e paciência para o trabalho do treinador", explicou.

Para o experiente Celso Roth, o limite de dois times por temporada para os técnicos serve para ajudar na estabilidade e não deve ser visto como um obstáculo à carreira. "A novidade é uma boa tentativa para o treinador ter uma sequência de trabalho. A recolocação no mercado é uma escolha do técnico. Acho que a regra não vai atrapalhar nisso", afirmou.

Abel Braga foi vice-campeão brasileiro com o Inter em 2020 Foto: Diego Vara/Reuters

ANÁLISE - Abel Braga*

O problema só cai na cabeça do treinador. Eu acho muito boa essa determinação. Não é só questão de valores, mas de respeitar. Assim fará com que os clubes tenham um pouco mais de consciência, de certeza, de convicção sobre quem contratar. Se não dar certo, o problema só cai na cabeça do treinador, e não de quem contrata. Eu também não concordo com treinador que trabalha em três ou quatro clubes em um ano. 

Essa novidade será boa para todo mundo. Tanto para o futebol como para os clubes. A solução mais viável é mandar o treinador embora. De repente agora começam a pensar melhor, criar modelos melhores para contratar. Porque sabem que é preciso ter mais responsabilidade.

* Técnico vice-campeão brasileiro em 2020 com o Inter

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