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História, política e cultura do esporte.

‘Ted Lasso’ ensina sobre o futebol além do que conseguimos enxergar

A melhor série de comédia do ano é sobre o esporte mais popular do planeta. E é também uma resposta à cultura tóxica do mundo real

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Por João Abel
Atualização:

(O texto a seguir tem pequenos spoilers, mas nada que comprometa a experiência de assistir a ‘Ted Lasso’)

Nem Guardiola, nem Thomas Tuchel. Muito menos Pochettino, que já está irritando a torcida do PSG e até os sheiks do Catar. O treinador que se tornou unanimidade na última temporada é Ted Lasso, do modesto AFC Richmond, time do sudoeste de Londres.

Roy Kent, Roy Kent! He is here, he is there, he every-fu***ng-where: a canção do centroavante do Richmond que já está na cabeça dos fãs de 'Ted Lasso' Foto: Apple/Reprodução

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Lasso é o protagonista da série que leva seu nome e que fez ‘a rapa’ na maior parte das categorias de comédia do Emmy Awards, maior premiação da TV mundial. Foram quatro troféus, incluindo melhor ator para Jason Sudeikis (que interpreta Ted Lasso) e o grande prêmio de melhor série de comédia. Como em uma arquibancada, os fãs de futebol finalmente vibraram ao ver um seriado sobre o esporte vencer sua 'Copa do Mundo'.

Na produção, que está disponível na AppleTV+, Lasso é um treinador de futebol americano do Kansas, nos Estados Unidos. Ele acaba cruzando o Atlântico após ser contratado para ser técnico de futebol, o ‘soccer’ para os norte-americanos, do modesto Richmond. A ideia absurda de contratar um treinador que não entende nada da modalidade é parte de um plano de Rebecca (Hannah Waddingham) para afundar o clube e se vingar do ex-marido Rupert, antigo proprietário do time.

Hanna Waddingham, vencedora do prêmio de melhor atriz coadjuvante em uma série de comédia por 'Ted Lasso', e Brett Goldstein, vencedor do prêmio de melhor ator coadjuvante no mesmo seriado. Foto: Dan Steinberg/AP

O futebol por si só concentra grandes histórias dentro de campo. O que faz com que as ficções ‘boleiras’ muitas vezes foquem no jogo e nas suas próprias reviravoltas. ‘Ted Lasso’ vai além e esta é sua grande sacada.

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Você vai torcer para o underdog Richmond vencer o poderoso Manchester City e escapar do rebaixamento. Mas vai torcer bem mais pelos desafios pessoais de cada um dos personagens. Pelo sucesso de Roy Kent (Brett Goldstein) na sua transição após pendurar as chuteiras. Para que Nate (Nick Mohammed), o roupeiro do time, supere sua insegurança. E talvez simpatize até com a marra de Jamie Tartt (Phil Dunster), uma espécie de ‘Gabigol’ com forte sotaque britânico.

No fundo, a capacidade de mostrar a quantidade de tramas paralelas que um clube de futebol pode ter é a chave do sucesso da série criada por Bill Lawrence.

O seriado toca em pontos importantes. Como o futebol real também pode e precisa fazer. ‘Ted Lasso’ aborda as relações familiares dos jogadores e suas conturbações, o peso das ações dos patrocinadores, a desconstrução da masculinidade e do padrão de jogador. Na segunda temporada, com a presença da psicóloga Sharon Fieldstone (Sarah Niles), a saúde mental também entra no centro das atenções.  Sem em nenhum momento, tornar-se uma produção pesada de assistir.

Pelo contrário. As tiradas bem-humoradas, referências de cultura pop e corte de câmera a la ‘The Office’ deixam tudo mais leve.

Sem grandes vilões, mas com grandes histórias, ‘Lasso’ é uma alternativa ao padrão odioso de muitas discussões do nosso mundo real. “A série é uma resposta à cultura tóxica e cínica que existe, especialmente nas redes sociais, aos discursos políticos, como cada um fala com o outro”, afirmou o criador da produção ao New York Times.

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Afinal, quantas vezes olhamos realmente para o que está além do campo e da performance dos jogadores? É a lição da série.

‘Ted Lasso’ tira uma casquinha ainda da nossa atual nostalgia de estádio, tão grande em tempos ainda pandêmicos. A série vai te trazer uma saudade enorme de estar no seu bar preferido para torcer pelo seu time. É o que precisávamos assistir, no lugar certo e no momento certo. Goste você ou não de futebol.


No Twitter, Ted Lasso tem até perfil oficial e comemorou o Emmy ao melhor estilo 'coach'. "Vencer é divertido, mas se você encontrar uma família ao longo do caminho, não tem como perder", escreveu o personagem.

A primeira temporada completa da série vencedora do Emmy já está disponível. A segunda está atualmente no ar e tem episódios novos divulgados todas as sextas-feiras. E a terceira já está confirmada. Todas na AppleTV+.

Football is life!

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*João Abel é editor do Drops, no Instagram do Estadão, autor de ‘Bicha’ e coautor de ‘O Contra-Ataque’

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