Uma corrente de oração feita pelo grupo de WhatsApp dos jogadores tetracampeões do mundo em 1994 foi realizada na última sexta-feira, às 18h, como mais uma forma de ajudar o ex-lateral Branco a se recuperar da ação do novo coronavírus. O ex-jogador de 56 anos foi internado na semana passada con covid-19. Com o agravamento do seu estado de saúde, precisou ser intubado em um hospital da zona Sul do Rio.
Um dos tetracampeões que integram a corrente de orações, o ex-goleiro Gilmar Rinaldi vem acompanhando o caso de perto. "Estou em contato direto com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e o doutor Jorge Pagura me atualiza diariamente da condição do Branco. Daí, eu repasso tudo no nosso grupo. Já fizemos uma corrente entre nós, cada um dentro de sua religião e suas crenças", contou o goleiro que foi companheiro de quarto do ex-defensor durante a Copa do Mundo de 94.
Parceiro de Branco em duas Copas do Mundo (na Itália, em 90, e nos Estados Unidos, em 94) Jorginho também faz parte do grupo e está atento ao estado de saúde do amigo. "Na sexta-feira, dia 19, às 18h, todos nós fizemos uma oração por ele", disse o ex-lateral-direito, atualmente comentarista do SBT.
GRUPO DO FLU 100% MOBILIZADO
Um outro grupo se juntou no mesmo canal de comunicaçao para mandar boas vibrações a Branco. Esse time representa uma fase vitoriosa da carreira do lateral. É o "grupo do tri", formado pelos jogadores do Fluminense que foram campeões estaduais entre 1983 e 1985. O ex-zagueiro Duílio, um dos integrantes dessa turma, disse ter recebido a notícia da internação de Branco com bastante apreensão. O motivo foi a morte recente de Renê Weber, reserva de Assis no time carioca, vitimado por covid-19 em dezembro.
"Foi muito difícil assimilar que o Branco tinha contraído covid-19 e estava mal no hospital. Tivemos essa sensação com a perda do Renê. Ficamos impotentes, sem poder fazer nada. Com o Branco, as notícias não foram boas desde o início, mas parece que agora, com a graça de Deus, e com as orações de todo mundo (de forma individual), ele está começando a reagir ao tratamento. Vamos esperar que isso se concretize para que volte ao nosso convívio", disse Duílio em tom emocionado.
'Foi muito difícil assimilar que o Branco tinha contraído covid e estava muito mal no hospital. Tivemos essa sensação com a perda do Renê (Weber)
Duílio, Ex-zagueiro do Fluminense
Para o ex-zagueiro, o currículo vencedor que Branco demonstrou durante os tempos de jogador vai falar mais alto nesse momento delicado. "As orações estão se intensificando. Conto com a sua volta para nós termos novamente vitórias na seleção brasileira com ele comandando."
O início da carreira do amigo também foi lembrado por Duílio. Juntos, eles desbancaram o Flamengo e foram bicampeões estaduais em 1984. No mesmo ano ainda conquistaram o Brasileiro numa final em cima do Vasco. "Jogar com o Branco era muito fácil. Ele chegou para o time de cima junto com o Ricardo Gomes e sempre teve personalidade. Sabia o que queria. Era realmente um craque. O nosso relacionamento sempre foi excelente", afirmou Duílio.
A minha questão com o Branco é muito afetiva. No nosso grupo dos tricampeões do Fluminense, a tristeza é total. Estamos vivendo um momento de guerra
Delei, Ex-meia do Fluminense
Outro integrante da época das Laranjeiras que também conversou com a reportagem do Estadão foi o ex-meia Delei. Ele se mostrou indignado com a atuação do presidente Jair Bolsonaro no combate à pandemia. "A minha questão com o Branco é muito afetiva. No nosso grupo dos tricampeões do Fluminense, a tristeza é total. Estamos vivendo um momento de guerra e esse cara (Bolsonaro) faz de tudo uma questão política. A situação econômica tá complicada? Está. Mas então você vai deixar morrer todo mundo? Sou a favor da ciência. Se eles (profissionais da saúde) mandaram trancar (fazer lockdown), tem de trancar", esbravejou Delei, que foi deputado federal por quatro mandatos.
ZICO ACOMPANHA NOTÍCIAS DO JAPÃO
Do outro lado do mundo, o ex-jogador Zico também vem seguindo o noticiário sobre a internação do amigo. Os dois defenderam a seleção na Copa de 86 e sempre mantiveram uma relação de amizade. "Várias vezes o Branco participou das peladas de quarta-feira no meu centro de treinamento no Rio. É uma pessoa de quem gosto muito. Além de companheiros de seleção, o Branco também defendeu o Flamengo".
Ainda de acordo com o ex-jogador, o relaxamento de Branco com a saúde contribuiu para a contaminação do vírus. "Ele relaxou um pouco na questão da obesidade. Amigos em comum o alertaram, mas ele não ouviu. E essa doença pega muito o pessoal que está nessa situação. Agora é rezar e torcer para que a vida dele de atleta possa conseguir resistir a esses problemas sérios que muita gente esta tendo", comentou Zico que está trabalhando como diretor de futebol do Kashima Antlers.
Ele relaxou um pouco principalmente na questão da obesidade. Amigos em comum o alertaram, mas ele não ouviu
Zico, Diretor de futebol do Kashima Antlers
A obesidade é considerada um fator de risco para diversas doenças, inclusive a covid-19. Segundo dados do Ministério da Saúde, 20% dos adultos brasileiros estão obesos e metade da população está acima do peso.
Num comparativo com a realidade brasileira (o País tem mais de 290 mil mortes pela covid-19), Zico disse que no Kashima Antlers o trabalho é baseado em rígido controle em relação à prevenção da doença. "É até exagerado, mas importante.Todo dia a gente mede temperatura, responde questionário, informa onde foi, com quem esteve, onde jantou, se saiu da região e ainda tem o uso de máscara e álcool em gel. A gente fica resguardado. O clube tem controle total de cada funcionário. Ano passado, tivemos um caso de jogador, que não foi sério", disse Zico, de 68 anos.
REFERÊNCIA PARA QUEM ESTAVA COMEÇANDO
Em seu primeiro ano como profissional, o ex-goleiro Roger disse ter tido a sorte de contar com o apoio Branco dentro dos gramados. "Foi em 1995, quando jogamos juntos no Flamengo. Ele tirava qualquer pressão dos mais novos e dizia que a responsabilidade por resultados estava com os experientes. Sem falar da atenção que dava aos torcedores. Isso nunca mais saiu da minha cabeça. O Fla fez uma preparação em Friburgo e o Branco atendia a todos com atenção. Ao lado do Romário, era o mais assediado", comentou.
Roger comentou que o avançado estágio de letalidade do vírus no Brasil tem a ver com a atuação do governo federal. "Os governantes demoraram a adquirir a vacina. Você vê que os EUA e outros países que são referência estão bem adiantados com isso. Aqui, a campanha de vacinação começa, depois para e aí retoma de novo. Não temos nem ideia de quando vamos vacinar uma boa parte da população para uma tranquilidade maior. O momento é delicado", disse Roger que também foi goleiro do São Paulo entre 1997 e 2005.