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Time da Quarta Divisão do Rio leva religião aos gramados

No CAAC Brasil, jogadores têm de seguir a cartilha do pastor Ilmar, técnico do time

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Por Luís Filipe Santos
Atualização:

“Cristo é a única esperança/ para o homem se transformar/ entrega seu caminho ao Senhor/ confia nEle/ Ele tudo fará.” Estes versos poderiam ser esperados em um hino de uma igreja, mas estão presentes na música símbolo do CAAC Brasil, time que disputa a Série C do Campeonato Carioca, o quarto nível de futebol no Estado do Rio e último profissional. A sigla CAAC significa Centro Administrativo Apologético Cristão, uma organização de auxílio a igrejas protestantes do Rio que formou um time de futebol.

A equipe surgiu a partir de um campeonato organizado entre igrejas em 2009. Escolhendo os melhores jogadores, formou-se um time amador, que disputou torneios da capital fluminense entre aquele ano e 2017, quando o CAAC Brasil se tornou profissional. Em 2018, primeiro ano que jogou a Série C do Carioca, ficou em 10.º entre 18 clubes, com um elenco formado em sua maioria por atletas nascidos em 2000 e 2001.

Equipe do CAACno Clube Cidade Nova em Nilópolis Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO

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O CAAC busca levar sua doutrina também para dentro dos gramados. "O que podemos fazer na parte espiritual, fazemos. A pessoa não é obrigada a ter Jesus Cristo no seu coração (para jogar no time), mas ela se coloca à disposição da doutrina no dia a dia. Não impomos nada a ninguém, mas tem coisas que não permitimos. Criamos uma disciplina, e essa disciplina tem sido correspondida pelos atletas, apesar de alguns não confessarem a fé", conta o presidente do clube, o pastor Ricardo Coelho.

O técnico do time profissional, o pastor Ilmar de Almeida, dá detalhes de como trabalha isso com os jogadores do CAAC. "Às vezes o jovem chega aqui com alguns erros de criação, e tenta machucar o companheiro, ou fala muito palavrão. Coibimos isso, dando educação do que se deve fazer ou não. Temos a linha do futebol do Sul, com muito preparo físico, para chegar primeiro na bola nas divididas, não ser desleal, não destratar ninguém e sempre respeitar o adversário, fazendo um jogo limpo", explicou o treinador.

A pessoa não é obrigada a ter Jesus Cristo no seu coração, mas ela se coloca à disposição da doutrina no dia a dia

pastor Ricardo Coelho, presidente do CAAC

"Às vezes, durante o jogo, com o sangue quente, acaba acontecendo alguma coisa, seja a gente falar um palavrão ou dar uma entrada mais forte. Depois do jogo, o professor Ilmar sempre para e corrige para tentar evitar essas coisas. Também pedimos desculpas aos adversários se fazemos algo", conta o goleiro Jeferson Moreira Costa, titular do time profissional embora tenha apenas 18 anos. 

Jeferson é uma das grandes apostas do CAAC. Natural de São João Nepomuceno, pequeno município de Minas Gerais, chegou ao time do Rio com apenas 14 anos através da indicação de um treinador, conhecido do presidente do clube. Distante da família, o garoto fez a base inteira no clube, ao qual diz ser grato pela oportunidade e pelo crescimento enquanto pessoa, relatando dificuldades como ter de se virar para fazer os serviços domésticos sozinho.

Segundo o presidente, o clube também procurará moderar o comportamento dos torcedores na arquibancada. "Não podemos muito mexer nessa situação, porque não temos torcida organizada ainda. Mas se viermos a ter, pretendemos uma torcida organizada do modo do bem, sem xingamento, sem briga, sem oposição (com outras torcidas). Muito difícil isso de acontecer, mas esse é o nosso objetivo", conta Coelho.

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O clube tem dificuldades no setor financeiro, mas tanto técnico quanto presidente garantem que as contas estão em dia. Na parte estrutural, já treinou em diversos locais, sendo que hoje está em Anchieta, na Baixada Fluminense, e manda os jogos no estádio Joaquim Flores, em Nilópolis.

CAAC em partidacontra o time do Paduano pela Série C do Carioca Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO

Para Coelho, a razão de existir do clube vai além do sentido religioso. "Nosso objetivo é ter o esporte como parte da saída de muitas coisas ruins que no mundo junto aos jovens, como as drogas e o tráfico. Com o esporte, acredito que vamos poder dar uma atividade a cada um desses jovens e adolescentes para que eles possam mostrar o talento deles, seja na música, na dança, na cultura ou no esporte mesmo. E com isso, ensinar disciplina, respeito e obediência, essa é a nossa bandeira", afirma.

Apesar de desejar um crescimento "ordenado", Coelho sonha alto. "Nosso propósito é vencer esse campeonato e chegar à Série B2 do Carioca", projeta. O pastor Ilmar também está confiante. "Acredito que, com o time completo, vamos ganhar os próximos jogos e buscar o acesso para B2."

Não seria ruim para um time que disputa o seu segundo campeonato como time profissional.

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