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Tite, não esqueça de Grêmio e Corinthians!

Para ir longe neste Mundial, a seleção tem de apresentar um jogo mais coletivo, algo que Tite tanto preza e faltou ao Brasil diante da Suíça

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Por Raphael Ramos
Atualização:

Toda e qualquer estreia em Copa do Mundo deve ser analisada com cautela e parcimônia. A tensão e a ansiedade que cercam a primeira partida de um Mundial costumam afetar - e muito - o rendimento dos jogadores. São raras as exceções, como o caso de Cristiano Ronaldo, que teve uma atuação espetacular diante da Espanha na última sexta-feira.

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Por isso, não dá para dizer que o decepcionante empate da seleção brasileira com a Suíça, neste domingo, tira da equipe de Tite a condição de forte candidata ao título. O mesmo pode-se dizer de Argentina e Alemanha, que também fracassaram na estreia. Ou até a França, que sofreu para derrotar a fraca Austrália.

Raphael Ramos é chefe de reportagem de Esportes do Estadão. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Mas, algumas lições ficaram evidentes após o jogo deste domingo em Rostov e a principal delas é de que o Brasil não pode ser tão dependente do talento individual de seus jogadores. Para ir longe neste Mundial (ou seja, chegar ao menos na final), a seleção tem de apresentar um jogo mais coletivo, algo que Tite tanto preza e faltou ao Brasil diante da Suíça.

Neste domingo, completaram exatos 17 anos que Tite começou a ganhar destaque no cenário nacional ao conquistar o título da Copa do Brasil de 2001 com o Grêmio. Naquele time, não havia um único destaque. Era o conjunto que fazia a diferença. Assim como foi em seu mais notório trabalho, no Corinthians, no qual ganhou a Libertadores e o Mundial, em 2012, com uma equipe de operários, sem uma única estrela.

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Neste domingo, contra a Suíça, o Brasil só chegou ao gol porque Philippe Coutinho acertou um “chutaço” de fora da área. Coisa de quem realmente entende do riscado.

Passado esse lance, ainda aos 20 minutos do primeiro tempo, somente o talento individual dos brasileiros não foi suficiente para superar a forte defesa suíça. Neymar, por exemplo, não conseguiu tirar da cartola nenhuma jogada mágica. O mesmo aconteceu com Willian, Marcelo ou Gabriel Jesus.

É nessas horas, então, que o time tem de apresentar jogadas coletivas, e não o fez. Desde a apresentação dos jogadores na Granja Comary, lá se vão 28 dias. Tempo suficiente para o Brasil ter construído um bom repertório de lances com a participação de três, quatro, cinco atletas. Neste domingo, a seleção não conseguiu fazer triangulações, jogadas de linha de fundo ou avanços em profundidade no meio da defesa suíça. Foi um time previsível e, consequentemente, fácil de ser marcado. Essa postura estática, sem mobilidade intensa dos homens de frente, explica o motivo pelo qual Neymar sofreu tantas faltas (dez).

Paulinho, peça fundamental na engrenagem de Tite, praticamente não deu as caras no ataque. Quando o volante é figura apagada no jogo, é mau sinal. Pois cabe a Paulinho não apenas marcar no meio de campo, mas enxergar os espaços vazios oferecidos pelo adversário e ocupá-los para pegar a defesa desprevenida. Depois do gol da Suíça, o Brasil teve mais 45 minutos (contando os cinco de acréscimo) para desempatar e fracassou em todas as tentativas.

Após o jogo, Tite bem que tentou dizer que a situação estava sob controle. Mas, para quem o conhece, foi fácil reconhecer o seu semblante tenso. Bom treinador que é, ele sabe que o sinal de alerta foi ligado. 

*RAPHAEL RAMOS É CHEFE DE REPORTAGEM DE ESPORTES DO ESTADÃO