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Opinião|Tite precisa acordar

Técnico tem bons atletas no time, mas não se ganha mais partidas na individualidade

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Atualização:

A derrota da seleção brasileira na final da Copa América para a Argentina trouxe à tona um velho fantasma do time nacional: a falta de jogadas e de jogadores capazes de mudar o cenário e, consequentemente, o resultado. Comandados por Messi, o rival marcou seu gol ainda na etapa inicial, aos 22 minutos, com Di María. Portanto, o Brasil teve muito tempo para empatar e levar a decisão para a prorrogação, quem sabe virar ou ganhar nos pênaltis. Mas fracassou, como tem sido nas Copas do Mundo, o que preocupa todos os brasileiros. Foi assim, só para refrescar nossa memória, que a seleção de Tite voltou mais cedo para casa no Mundial da Rússia. Martelou a Bélgica, mas o prego entortou. E o Brasil deu adeus ao torneio, vencido pela França dias depois.

Tite, técnico da seleção brasileira, durante final da Copa América Foto: Wilton Junior / Estadão Conteúdo

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Tite precisa melhorar para não fracassar de novo, e levar para a estaca zero toda uma nação que ama futebol. O treinador já não é mais unanimidade e seu trabalho se prova aquém do que a seleção precisa para ganhar taças. Ele e todos os seus colegas treinadores de seleções tiveram quase dois anos atípicos com a pandemia, sem jogos e com disputas adiadas. Digo isso porque todos eles estão na mesma prateleira e cada um tentou arrumar condições para melhorar um pouco suas equipes.

No caso do Brasil, não houve melhora. Pior. Tite faz voos cegos porque não tem a mínima referência de como a seleção se comportaria tecnicamente diante dos adversários europeus, cá entre nós, que ganharam as últimas quatro edições de Copa do Mundo, da Itália em 2006, passando pela Espanha em 2010, coroando a Alemanha em 2014 até chegar na França em 2018.

Tite, e os jogadores do Brasil, se ilude com as vitórias diante dos fracos oponentes sul-americanos, tanto nas Eliminatórias, em que está na liderança, quanto na Copa América. Em seu primeiro bom teste na decisão, contra a Argentina, deu no que deu. O time perdeu em casa a Copa que não queria, mas que depois se prestou a ganhar.

Todos os seus jogadores são bons, dignos de seu chamamento. Ocorre que nenhum deles funciona em equipe. A derrota para a Argentina aconteceu numa falha individual de Lodi. Depois dela, os atletas passaram a correr cada um por si, o time se desmanchou como grupo e Neymar tratou de tentar resolver sozinho as jogadas. Ele tem condições para disso, tem futebol para isso, mas não é mais dessa forma que vai fazer o Brasil ganhar. Pode acontecer. Contra essa concepção há todas as partidas da Eurocopa e também da Copa América. A própria Argentina isolou Messi na direita e tratou ela, como time, de ganhar da seleção brasileira no Maracanã. Foi uma aposta tática de seu treinador. E olha que ele confinou o jogador seis vezes melhor do mundo porque tinha uma proposta, inclusive de marcar Neymar, o que para mim é impossível. Tite demorou para ver que Messi na direita tirava do seu time três marcadores, abrindo espaço para os outros argentinos. Tite não tinha uma só jogada diferente para surpreender o indigesto e cheio de apetite vizinho, que não ganhava nada havia 28 anos, desde 1993, e veio comemorar justamente no Rio de Janeiro e diante da seleção brasileira.

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Não se trata mais de Tite convocar esse ou aquele jogador. Todos esses que estavam com ele são interessantes, mas nenhum funciona a não ser na individualidade. E o futebol não é mais jogado no talento de apenas um jogador, seja ele quem for. Não dá mais para o Brasil esperar que um de seus bravos atletas entre os 11 em campo resolva o problema. O drible, a ginga e a inventividade ainda encurtam caminhos, provocam frisson, mas não ganham partidas. E o Brasil só tem isso.

Opinião por Robson Morelli

Editor geral de Esportes e comentarista da Rádio Eldorado

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