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Títulos inúteis

É incrível que Marcelo Oliveira seja tão execrado

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Por Ugo Giorgetti
Atualização:

Marcelo Oliveira, ex-treinador do Atlético Mineiro, é um caso a se estudar no futebol brasileiro. Numa época em que o culto da pequena celebridade, em que é necessário um brilhareco qualquer de personalidade, artificial ou falso, Marcelo Oliveira paga o preço por ser um homem comum e não esconder isso.

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Começa pela sua aparência de velhote gorduchinho, bonachão, típico jogador de bocha aposentado. Simpático, sua simpatia é inofensiva. Não tem nenhuma característica especial. Não parece particularmente religioso nem ligado a proezas espirituais. Não é notável também pelo chamado trabalho no vestiário, sabe Deus lá o que isso significa. E, além de tudo, é um homem antigo. Antigo em idade, deve beirar os setenta anos.

Tudo isso o condena miseravelmente nos dias de hoje. Chega num clube e parece destoar dos tempos. Não se enquadrava na brilhante nova arena do Palmeiras, parecia um ser completamente estranho no meio daquela modernidade toda. A mesma coisa aconteceu no Atlético, sendo que sua passagem pelo Palmeiras, que culminou com um título de campeão da Copa do Brasil, não significou nada. Já chegou visivelmente marcado.

É comum perceber a má vontade com Marcelo Oliveira por parte de uma certa crítica, sobretudo os mais jovens. Alguns, verdadeiros s professores de física, indo ao quadro negro para desenhar o paralelogramo das forças em ação no campo e demonstrar cientificamente como poderia ser o jogo.

Nessa sociedade tecnocrática que faz do detalhe um fetiche, não haveria lugar para um treinador que não tem fetiche algum e que não esconde suas posições atrás de esquemas teóricos que na melhor das hipóteses ninguém entende.

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Marcelo Oliveira jamais se defende. Mesmo nessa última partida contra o Grêmio assumiu completamente seus erros e, claro, os erros dos outros. Não acusou nenhum jogador e defendeu até o jovem Cazares, bastante atacado.

Tão simples como isso. Não há polêmicas com ele. Desarma pela simplicidade. Tomara que eu me engane, gostaria e quero estar enganado, mas há pouco espaço para ele em qualquer outro grande clube. Parece que o futebol também foi invadido pela onda de radicalismo, insensatez e mesmo irresponsabilidade que atravessa as questões da maior gravidade neste país. 

Perdeu, cai fora! A atitude tem que ser tomada para satisfazer a chamada opinião publica. No caso, os torcedores, que atuam fortemente. A fúria desse procedimento que atenta contra as mais elementares regras de civilidade, e mesmo dignidade, estão expressas na maneira como foi dispensado Marcelo Oliveira, faltando pouquíssimas partidas para o fim dos torneios.

O que se espera? Que um novo treinador, com 15 dias de trabalho, refaça uma equipe? É evidente que não. É apenas uma maneira injusta de colocar mais lenha na fogueira, pois fica implícito que o elenco não suportava mais o treinador nem por um instante, não queria mais ver sua cara pela frente. A injustiça disso ficou escancarada no jogo contra o Palmeiras, quando alguns jogadores, particularmente Gabriel Jesus, abraçaram afetuosamente Marcelo Oliveira.

É incrível que um treinador que nos últimos anos disputou várias finais seguidas da Copa do Brasil e ganhou dois títulos brasileiros pelo Cruzeiro seja tão execrado. Um profissional que deixa o Atlético entre os quatro primeiros colocados no campeonato e como finalista da Copa do Brasil, ainda com chances de ganhá-la. Só neste país, onde o bom senso está completamente à deriva, é possível uma coisa dessas. 

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A demissão de Marcelo Oliveira não é um insulto só a ele, é um insulto principalmente ao Grêmio, é desmerecer a vitória do time gaúcho. Como se fosse inaceitável, conseguida por um time que jamais poderia ganhar. Alguém no Galo não entendeu que quarta-feira se disputou no Mineirão um grande clássico do futebol brasileiro. 

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