Logo na entrada, o convidado do Orange Camp, o acampamento montado por torcedores holandeses em Interlagos, na zona sul de São Paulo, recebe uma pulseira laranja - a mesma cor dos pratos, copos, talheres, roupas, brincos, bolas de futebol, toalhas, placas e de quase tudo o que foi instalado na área gramada de 120 mil metros quadrados do clube de ex-funcionários da Eletropaulo, às margens da Represa Guarapiranga.
Espirituosos, mas discretos na hora de torcer, os holandeses não esbanjavam otimismo, mesmo diante do favoritismo. Os próprios torcedores do acampamento dizem ter feito um pacto para ninguém contar vantagem ou falar em título da seleção, campeã em 1974 e vice-campeã em 2010.
Na quarta-feira, quem ficou no acampamento foram apenas cerca de 40 pessoas que cuidam da organização do local, por onde devem passar cerca de 3 mil holandeses até o final da Copa do Mundo. Era o dia de folga para eles. Os outros 360 torcedores acampados tinham ido assistir a partida em Porto Alegre.
"Ficar aqui está sendo incrível, é sem dúvida a maior Copa de todas. Os brasileiros aqui sempre estão fazendo algo para nos agradar, e isso é emocionante", contou Jung Zwier, de 21 anos, um dos jovens voluntários que foram ajudar na organização do acampamento. Na próxima partida contra o Chile ele vai estar na Arena Corinthians. "Vai ser um mar laranja em São Paulo, podem esperar", completou o jovem.
Durante o jogo contra a Austrália, os holandeses só comemoravam a cantavam os gritos de guerra durante os gols da equipe. "Aqui ninguém vai comemorar antes do apito final. Isso é uma regra. Já vimos nossa seleção chegar perto tantas vezes, e no final deu tudo errado. Agora temos de ir com calma, um jogo de cada vez", falava Carolijn Arck, de 42 anos.
Mesmo após o final de mais uma vitória, desta vez de virada, os holandeses evitaram festejar. Eles já organizam uma imensa caravana com mais de 60 ônibus de holandeses que na próxima semana vão cruzar 40 quilômetros entre Interlagos e Itaquera para assistir o jogo contra o Chile na Arena Corinthians.
Bem diferente de outras concentrações de torcedores estrangeiros, no cardápio do acampamento holandês só é servida comida tipicamente brasileira, um pedido dos próprios torcedores. Para comemorar a vitória ontem da equipe o cardápio era bife acebolado a cavalo, arroz, feijão, purê de batata e muita caipirinha.
"Eles querem conhecer a nossa comida, uma por dia. Achei bem legal, facilita o nosso trabalho, né?", comentava o cozinheiro Elias Marinho, de 57 anos. "Tô pra conhecer na minha vida uns gringos mais legais que esses holandeses viu", acrescentou.
