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Torcida são-paulina lota o Morumbi

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Por Agencia Estado
Atualização:

Gastar R$ 300 para levar a família à decisão da Copa Libertadores, depois de filas de mais de oito horas, não foi empecilho para os são-paulinos na noite desta quinta-feira. Mais de 70 mil deles fizeram a maior festa do clube na última década. O alto preço dos ingressos e a atuação dos cambistas, que cobravam até cinco vezes o valor original, não impediram que o Morumbi fosse pintado de vermelho, branco e preto. Pai, mãe, avó e tio se impuseram vários sacrifícios para atender à vontade do garoto de 10 anos, Alexandre Vidal de Paula, "são-paulino roxo", como ele se define. Nenhum dos cinco jamais havia pisado em um estádio. "Mas, como era final de Libertadores e não haveria muita torcida adversária, resolvemos vir", contou Edilson Marques de Paula, o pai, motorista do carro que os trouxe de Ituverava. "Se não fosse pelo meu filho, jamais viria", admitiu. "Cinco horas para chegar, sem contar o trânsito que pegamos logo depois de Campinas", reclamou a mãe, Carla Vidal de Paula. Quem mais sofreu, no entanto, foi o tio, Fernando Vidal, irmão de Carla. Comprou o ingresso com dez dias de antecedência, "oito horas na fila, no frio e no meio do tumulto". Traumática experiência que parecia ter deixado marcas em Fernando, cansado ainda nesta quinta-feira, momentos antes da partida, no Morumbi. "Acho um absurdo a desorganização que existe nas bilheterias. Não podia ser assim. Torcedor quer ver o jogo e é maltratado", afirmou. "Tudo bem, vai, para ver o São Paulo campeão vale a pena." "Comprei os cinco ingressos a R$ 70 cada um (cadeiras superiores do setor laranja), mas os cambistas ofereciam bem mais caro, para quem não quisesse pegar fila", revelou Fernando. "Ouvi história de gente que pagou R$ 300 para ficar neste mesmo lugar que a gente está." Antes de encarar a fila, Fernando tentou comprar os ingressos pela internet ou pelo telefone - pelo sistema Ingresso Fácil -, mas não obteve êxito. "O site nem abria a página e o número de telefone ficava sempre ocupado", justificou. O serviço ficou ocupado talvez com pessoas como o casal Paulo Sérgio e Margarida Camargo. O primeiro, um senhor sexagenário apaixonado pelo São Paulo, teve de ter paciência, mas conseguiu. Tentou por algumas horas até conseguir completar a ligação e, sem sair de casa, comprou três ingressos, para ele, esposa e filho, Gustavo, o mais confiante. "Hoje não tem como não levarmos o título, 3 a 0 no mínimo", vibrava Gustavo, duas horas antes do início do confronto com o Atlético-PR. Já o casal Marta e Luiz Infante, de Santo André, perdeu grande parte da semana para ver a decisão ao vivo, acompanhados dos filhos Larrisa, de 13 anos, e Luiz Felipe, de 12. Marta, de 36 anos, ficou sete horas na fila no domingo e desistiu. Na segunda, ficou mais oito no Canindé e acabou comprando os quatro bilhetes, no valor total de R$ 280. "Larguei meus dois filhos sozinhos para conseguir comprar. Isso é coração, não adianta", avisou. Luiz, projetista elétrico de 40 anos, negociou com o chefe, também são-paulino, uma folga na tarde desta quinta-feira e outra na manhã de sexta para a festa. Tudo isso para não perder sua quarta final de Libertadores vista no Morumbi - esteve nas decisões vitoriosas de 92 e 93, mas também viu o vice de 94. "Vale a pena. Foi o que o presidente (Marcelo Portugal Gouvêa) falou: depois de 12 anos, tem que valorizar esse jogo mesmo", disse Luiz. "Mesmo com esses preços, olha o tumulto que foi para conseguir ingresso." A família, para evitar confusão, saiu de casa às 15 horas e chegou ao estádio mais de cinco horas antes do jogo. Segundo Luiz, é a única forma de ter segurança e evitar os preços abusivos cobrados pelos estacionamentos e flanelinhas. "Deixo o carro com o zelador de uma rua perto do estádio. Faço isso há 12 anos. Só trouxe um litro de vinho para ele enfrentar o frio."

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