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Tragédia de Hillsborough ocorreu após reintegração de ingleses na Uefa

Desastre que matou 96 torcedores do Liverpool em Sheffield completa 25 anos nesta terça-feira

Por Diego Salgado
Atualização:

SÃO PAULO - A Tragédia de Hillsborough, responsável pela morte de 96 torcedores em Sheffield há exatos 25 anos, ocorreu apenas quatro dias depois de uma decisão importante do Comitê Executivo da Uefa. No dia 11 de abril de 1989, a entidade devolveu às equipes inglesas o direito de disputar competições europeias a partir do ano seguinte. A punição de seis anos estava ligada aos graves incidentes no Estádio de Heysel, em Bruxelas, na Bélgica, onde um confronto entre torcedores de Liverpool e Juventus deixou 39 mortos.O tumulto de Hillsborough, porém, influiu diretamente na decisão, que deveria ser ratificada por Jacques Georges, presidente da Uefa, e pelo ministro inglês. Dessa forma, os clubes ingleses só voltaram de fato às competições continentais na temporada 1991/1992, quando Arsenal e Liverpool disputaram a Taça dos Campeões da Europa e a Copa da Uefa, respectivamente. A Tragédia de Hillsborough ocorreu antes da partida válida pela semifinal da Copa da Inglaterra de 1989, em Sheffield. Liverpool e Nottingham Forest, contudo, só jogaram por seis minutos. Nas arquibancadas, milhares de torcedores se espremiam após a abertura dos portões localizados no setor oeste do estádio. Com a lotação máxima das arquibancadas, cuja capacidade era de 54 mil lugares, duas mil pessoas também entraram no local, prensando os torcedores próximos à grade. A maioria das pessoas morreu asfixiada e esmagada. "Foi uma hora e meia de loucura", disse à época Graham Kelly, então presidente da Associação Inglesa de Futebol. No total, além da morte de 96 torcedores, 200 pessoas ficaram feridas.RELATÓRIO TAYLOREm agosto de 1989, um documento detalhando as causas da tragédia foi divulgado, após inquérito conduzido pelo Lorde Taylor de Gosforth. Nas páginas do relatório, havia também uma série de medidas a fim de mudar a concepção dos estádios ingleses. Entre elas estavam o controle de multidões dentro e fora dos estádios, a venda de ingressos numerados, a abolição das gerais e a retirada dos alambrados. "Nosso objetivo é estabelecer o que de fato ocorreu e determinar normas de segurança", disse Taylor três dias depois das mortes. Nem foi preciso esperar. Na ocasião, três clubes já começaram a retirar os alambrados dos seus estádios: o Tottenham, o Derby County e o Newcastle. As grades do estádio do Sheffield Wednesday, ainda sujas de sangue, também começaram a ser removidas.CULPADOSA verdade sobre os fatos do dia 15 de abril de 1989 ainda é alvo de contradição. Por 23 anos, até 2012, os torcedores do Liverpool, cidade dos Beatles, foram apontados como os grandes responsáveis pela tragédia. De acordo com o tabloide inglês The Sun, os hooligans havia forçado a entrada no estádio. Além disso, o artigo intitulado "A Verdade", divulgado pouco depois da tragédia, afirmava que os torcedores chegaram a agredir e urinar nos policiais. Na ocasião, apenas os agentes foram escutados.Um novo documento veio à tona em setembro de 2012. Nele, a versão da polícia e do tabloide foram desmentidas. O documento constatou que mais de 110 dos 164 relatórios foram adulterados. Os torcedores, na verdade, tentaram ajudar os feridos da tragédia. A polícia, despreparada, atuou de forma errada. Além disso, o serviço de ambulâncias não funcionou adequadamente. Estima-se que 41 pessoas poderiam ter sido salvas caso a postura tivesse sido diferente. "As provas mostram conclusivamente que os torcedores do Liverpool não causaram nem contribuíram para a morte de 96 homens, mulheres e crianças", aponta o relatório, que frisa o termo "erros operacionais" dos policiais.Os novos fatos fizeram o primeiro ministro britânico, David Cameron, pedir desculpas às famílias das vítimas. O The Sun fez o mesmo. Na capa do tabloide, a manchete "A verdade real" se desculpava pela reportagem falsa de 1989. "A grande maioria dos empregados atuais não trabalhava em nosso jornal naquele abril de 1989. Muitos ainda estavam na escola, outros sequer haviam nascido. Sabemos que o povo de Liverpool jamais esquecerá a terrível injustiça cometida por nós."

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