PUBLICIDADE

Treinador brasileiro faz sucesso na seleção da Tailândia e sonha com a Copa do Mundo

Alexandre "Mano" Polking foi contratado no fim do ano passado e busca levar time nacional tailandês para o Mundial de 2026, o que seria uma façanha inédita

Foto do author Ricardo Magatti
Por Ricardo Magatti
Atualização:

Em baixa no Brasil e fora dele, os treinadores brasileiros não têm tido mais espaço também em seleções estrangeiras, algo que ocorria com frequência no passado, inclusive em edições de Copa do Mundo. Uma das exceções é Alexandre "Mano" Polking. Gaúcho da cidade de Montenegro, o treinador de 46 anos comanda a Tailândia desde o fim de 2021.

Mano foi escolhido para dirigir a seleção tailandesa principalmente porque conhece com detalhes o futebol do pequeno país do sudeste da Ásia, onde vive desde 2012. Jogador de carreira curta, toda construída fora do Brasil, na Alemanha e no Chipre, ele foi auxiliar na seleção da Tailândia e treinou outros dois times tailandeses: Army United e Bangkok United, este por sete temporadas.

Com 48 seleções, Alexandre "Mano" Polking tem esperança de classificar a Tailândia para sua primeira Copa do Mundo Foto: Federação Tailandesa de Futebol

PUBLICIDADE

Foi o seu trabalho à frente do Bangkok que o levou à seleção tailandesa. Mano enfrentou e venceu várias vezes o Taipor, clube presidido por Madame Peng, mulher influente no país que recentemente assumiu como diretora da seleção da Tailândia. "Ela teve uma influência muito forte na minha escolha. Eu já tinha jogado contra o clube dela e tinha ganhado nove vezes e empatado uma em dez jogos", conta o treinador ao Estadão.

"Eu não esperava esse convite, para ser sincero. Vi que meu nome havia sido especulado, mas era um entre 16 nomes. Eu não tinha um currículo vencedor, que conta nessas horas", admite ele. Há poucos meses no cargo, Mano venceu com a Tailândia a Copa Suzuki, um torneio de prestígio na Ásia. "Esse campeonato fez o meu trabalho se tornar mais fácil porque ganhei um título e a aceitação do povo local. Está sendo um começo muito melhor do que esperava", diz.

Seu sonho é levar a Tailândia à Copa do Mundo de 2026, o que seria algo inédito para a história do país e das Copas. Ele considera plausível a missão porque o Mundial nos Estados Unidos, Canadá e México será o primeiro que comportará 48 seleções em vez das tradicionais 32. Com mais vagas, aumentam as chances dos tailandeses. 

Nenhum país do sudeste asiático conseguiu a façanha de disputar o mais importante torneio de futebol do mundo. "Agora há chance de sonhar", comenta o técnico, esperançoso. "Em vez de quatro vagas e meias na Ásia serão oito vagas. A Tailândia é a 14ª no ranking do continente, está mais perto do oitavo. Quando eram quatro, era praticamente impossível. Agora há chance de sonhar", explica.

TRAJETÓRIA

Publicidade

Tite, hoje à frente da seleção brasileira, foi o responsável indireto pelo encurtamento da carreira de jogador de Mano. Em campo, ele era esforçado, "um profissional de mentira", do “interiorzão” do Rio Grande do Sul, como brinca. "Fui para estudar. Mas na Alemanha tudo virou ao contrário. Recebi uma proposta para jogar em um time da quarta divisão. Joguei bem e subi para a terceira. Depois recebi uma proposta para jogar a segunda divisão. Parei de estudar", conta o “operário da bola”, como se define. Ele encerrou a carreira de atleta aos 32 anos. Foi uma trajetória até mais duradoura do que imaginava.

Sua carreira foi abreviada porque apareceu a chance de ser auxiliar do alemão Winfried Schafer, que substituiu Tite no Al-Ain, dos Emirados Árabes Unidos. Schafer queria ao seu lado alguém que falasse português porque havia vários brasileiros no elenco - Pedrinho, hoje comentarista no SporTV, o preparador físico, o treinador de goleiro e o massagista - e que também soubesse alemão. 

Mano era a pessoa certa para o cargo, já que havia trilhado boa parte de sua jornada como atleta na Alemanha, para onde se mudou jovem, aos 18 anos, em 1998. "Foi uma chance que eu tive. "Não podia deixar passar. A porta abriu e eu pensei que se ficasse jogando mais um ano e meio, que seja, não teria outra oportunidade", narra.

"Depois, fui com Schafer para Azerbaijão, África do Sul e para a seleção da Tailândia. Cheguei aqui como auxiliar da seleção. Ficamos um ano e meio, fomos demitidos e eu assumi um clube na Tailândia", detalha o treinador, que trabalhou um ano e três meses com o alemão.

PUBLICIDADE

ESTILO DE JOGO

Fã de Pep Guardiola e também um admirador do trabalho de Fernando Diniz, Mano é adepto do jogo de posse de bola. Entende que, dessa maneira, seu time está sempre mais perto da vitória do que o rival. "Não é pela estética do jogo, mas acho que com a bola, construindo desde trás, com o goleiro, eu tenho mais chances de ganhar uma partida", argumenta.

Ele integra a escola de técnicos gaúchos mais jovens, como Roger Machado. Respeita o estilo de jogo conservador de Luiz Felipe Scolari e Mano Menezes, mas pensa diferente deles. "O goleiro tem de saber jogar com os pés. O zagueiro tem de ter uma boa qualidade no passe. São decisões que moldam esse estilo de jogo".

Publicidade

Embora esteja confortável na Tailândia, Mano pensa em regressar ao Brasil um dia. "É o meu país, quero treinar na minha língua. Nunca tive essa oportunidade. Quero implementar no Brasil tudo que aprendi fora", justifica o técnico. Seu desejo é treinar uma equipe que dispute, no mínimo, a Série B. "Senão, prefiro ficar onde estou", diz. Mas esse pensamento é para o futuro. Já que seu contrato com a Tailândia foi renovado e a prioridade é levar a seleção à Copa de 2026. 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.