Treinos fechados, isolamento e mistério marcam preparação em Teresópolis

Seleção brasileira está fechada na Granja Comary em fase de treinamentos para a Copa América

PUBLICIDADE

Foto do author Marcio Dolzan
Por Marcio Dolzan e TERESÓPOLIS
Atualização:

A seleção brasileira chega nesta sexta-feira ao 9º dia de preparação para a Copa América. Assim como aconteceu ano passado às vésperas do Mundial da Rússia, os jogadores estão isolados na Granja Comary. A rotina inclui atividades diárias em dois turnos, treinos fechados e disciplina com horários. Nem todos os convocados, contudo, já estão focados apenas na competição.

Ao todo, 19 dos 23 atletas estão em Teresópolis, mas mesmo esse grupo foi montado aos poucos. Enquanto Richarlison, David Neres, Ederson, Fernandinho, Casemiro, Gabriel Jesus e Filipe Luís estão no CT da seleção desde o primeiro dia, Everton, do Grêmio, se apresentou apenas na noite dessa quinta. E há quem ainda nem tenha chegado. Alisson e Firmino disputam a final da Liga dos Campeões neste sábado, enquanto Cássio e Fágner jogam a partida de volta das oitavas da Copa do Brasil pelo Corinthians somente na próxima terça-feira. Só depois disso que os quatro se integrarão à seleção.

Treino da seleção brasileira desta quinta-feira na Granja Comary, em Teresópolis. Foto: Lucas Figueiredo/CBF

PUBLICIDADE

A falta do grupo completo é um problema para a comissão técnica. “Atrapalha muito”, admite o auxiliar-técnico Cléber Xavier, braço direito de Tite. Para se ter uma ideia, o primeiro treino na Granja teve que ser alterado porque um atraso no voo que trazia o trio do Manchester City – Ederson, Fernandinho e Gabriel Jesus – impediu que a seleção tivesse um número mínimo de atletas para treinar com bola.

Não bastasse isso, há ainda os imprevistos. Se Fernandinho ficou um dia a mais na academia para melhorar a condição física porque vinha de lesão muscular, Neymar se juntou ao grupo antes do esperado – mas também se afastou do gramado quando ninguém na seleção esperava.

LESÃO E MISTÉRIO

Neymar era aguardado em Teresópolis apenas na terça-feira, mas deixou o Paris Saint-Germain dois dias antes do previsto e se integrou ao elenco da seleção ainda no sábado passado. Animado, treinou no principal gramado do CT no mesmo dia e no domingo pela manhã, para depois ganhar folga junto com o restante do elenco. Antes disso, teve uma conversa com Tite e foi informado que perdera a braçadeira de capitão para Daniel Alves.

O jogador voltou normalmente aos treinos na terça-feira. Ele participou ativamente de um treinamento puxado comandado por Tite – foi a primeira atividade orientada pelo treinador em Teresópolis. Na reta final, Neymar levou um “rolinho” de Weverton, um dos dez atletas da base do Cruzeiro que estavam no CT para compor o treino. Minutos depois, o atacante da seleção chutou a gol, fez feição de dor, levou as mãos ao joelho esquerdo e deixou o gramado mancando. Desde então, não foi mais a campo.

Publicidade

O que aconteceu com o joelho de Neymar é um mistério até hoje. Ainda na terça-feira, ele foi levado ao Hospital São José, em Teresópolis, para fazer exames de imagem. A ida à instituição foi reservada; o atacante entrou e saiu por um local isolado, longe dos olhos da imprensa ou de curiosos. E o que o mantém afastado das atividades com bola é sabido apenas pelo médico da seleção, Rodrigo Lasmar, por Tite e por poucos membros da comissão técnica.

O último boletim sobre a situação do atacante foi divulgado na quarta. “Neymar permanece com dores no joelho esquerdo” e “em tratamento com o setor de fisioterapia” foram as palavras mais próximas de algum diagnóstico que a assessoria da seleção divulgou. O texto dizia ainda que ele seguiria “em observação e em tratamento nos próximos dias”. Nada mudou desde então.

ROTINA

A delegação em Teresópolis é composta por mais de 50 pessoas, incluindo 20 de comissão técnica e outros sete de apoio. Dos jogadores, quem está na Granja Comary encara uma rotina regrada. Eles treinam em dois turnos; pela manhã, a maior parte das atividades acontece no Centro de Excelência, e incluem exercícios na academia e avaliações médicas. À tarde, os treinos são realizados no gramado, sempre a partir das 16 horas.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Sem todos os titulares à disposição – a maior parte deles chegou à Teresópolis apenas esta semana –, Tite ainda não deu indicativo público de quem irá a campo para a partida de estreia, diante da Bolívia. “Mas temos o time titular em mente”, reconhece o auxiliar Cleber Xavier. Alisson, Daniel Alves, Thiago Silva, Marquinhos e Filipe Luís devem compor a defesa, com Casemiro logo à frente. Se o joelho permitir, Neymar tem vaga garantida no ataque, provavelmente com Firmino. Por ora, o meio campo é o setor que está formado apenas na mente da comissão técnica.

Mesmo se tivesse os 23 convocados, Tite muito provavelmente faria mistério até pelo menos a véspera do jogo. Isso porque treinos fechados estão se tornando uma rotina. Nos últimos dias, a comissão técnica liberou o acesso da imprensa a no máximo 30 minutos da atividade com bola. Nesta sexta, todo o treino será fechado.

Fora de campo, os jogadores não têm muito o que fazer. Isolados na Granja Comary, eles se distraem do jeito que podem. “Cada um tem a sua maneira”, comenta o atacante Gabriel Jesus. A maioria deles, contudo, apela para a internet. “Muitos usam para assistir filmes, muitos para falar com a família, muitos para jogar algum jogo, algo que relaxe ou tranquilize”, completa o atacante.

Publicidade

A carga pesada (segundo os jogadores) de exercícios faz com que alguns dos atletas utilizem o tempo livre não necessariamente para diversão. “Cada um fica no seu quarto descansando ou fazendo fisioterapia”, conta o volante Allan. As rodas de pagode que eram comuns na concentração em tempos idos andam em falta. “A gente coloca música um pouquinho alta – mas não necessariamente pagode – para ajudar nos treinamentos. Até agora não vi nenhum jogador cantando.”

O longo período de confinamento não é algo que agrade os jogadores. “Eu não gosto de ficar concentrado”, admite o goleiro Ederson. Apesar disso, ele encara o momento com resignação. “É benéfico, é período de preparação. Nós, jogadores, já estamos acostumados com isso. É importante para fazer uma boa preparação, ter uma boa alimentação e qualidade do sono.”

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.