PUBLICIDADE

EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

(Viramundo) Esportes daqui e dali

Trocar o disco

Por Antero Greco
Atualização:

O São Paulo transformou-se, anteontem, na mais recente vítima brasileira da história da carochinha intitulada “A Libertadores é diferente”. Se olharmos com atenção e senso crítico, ela está mais para conto do vigário, papo furado ou conversa mole pra boi dormir. Queria descobrir quem foi o infeliz que um dia teve o lampejo de cunhar maldita frase. Virou máxima indiscutível, aplicável tanto em vitórias quanto – e principalmente – em derrotas catastróficas, como essa, a dos 2 a 0 para o Atlético de Medellín.

PUBLICIDADE

 A derrapada no Morumbi deixou o sobrevivente nacional na competição a meio centímetro da desclassificação. Agora, só com muito futebol, insistência, paciência, fé e reviravolta fantástica para anular a diferença e voltar da Colômbia, na semana que vem, com a vaga na decisão. Não precisam jogar a toalha antes da hora; porém, não custa Edgardo Bauza e rapaziada trabalharem com a perspectiva de retomarem concentração só no Brasileirão – e na Copa do Brasil logo ali adiante.

A bobagem de encarar a Libertadores como sucessão de batalhas sangrentas, em vez de partidas de futebol, já derrubou as pretensões de muito time patrício ao longo de décadas. Para motivarem jogadores e aguçarem a curiosidade de torcedores, em incontáveis ocasiões técnicos, cartolas e mídia usaram o argumento de que a postura deve ser guerreira, no momento de topar com os vizinhos da região. Sabe como é, eles são catimbeiros, manhosos, vivaldinos, com frequência maldosos. Têm capacidade para nos tirarem do sério; vencem mais pela garra do que pela técnica, nos superam pela malícia e não pela qualidade. Seguem em frente pela picardia e não pela bola. 

E como tem gente que compra a ideia e cai na armadilha, se estrepa e, não raro, afunda a equipe. Anos atrás, era Geninho dizendo para lateral do Corinthians “pega, pega, pega”. O moço pegava as pernas do rival, tomava vermelho e vinha a desclassificação.  Exemplo fresquinho? Maicon. O capitão tricolor virou astro do dia para a noite, referência na defesa, homem de confiança do treinador, líder do grupo. Até colocou em segundo plano a adoração pelo veterano e também zagueiro Diego Lugano. Conquistou corações são-paulinos, ganhou o apelido de God, Deus ou algo semelhante. A perspectiva de perdê-lo para o Porto, que reclamava sua reintegração, tirou o sono da galera e fez a direção botar a mão no bolso e gastar os tubos para contratá-lo em definitivo. O sucesso na reta final do campeonato dependia disso.

Daí o que faz o Maicon? Dá um pescoção no folgado do Borja, que catimbava, lá pelo meio do segundo tempo, porque o 0 a 0 agradava ao Atlético. O gesto estabanado foi na cara do juiz, que tirou o vermelho sem a menor cerimônia. Em favor do brasileiro, digamos que não foi um cachação, de provocar torcicolo no gringo. Não vi como agressão. Esteve mais para tentativa de enquadrá-lo e dar o recado na base do “aqui quem manda somos nós”. E o árbitro abusou do rigor num jogo em que não houve violência. Mas...

Publicidade

Mas Maicon não deveria ter feito aquilo. No mínimo, atitude sonsa, fora de propósito; coisa de juvenil. No entanto, se me permitem a psicologia de botequim, devem ter passado pela cabeça do jovem todas as frases feitas a respeito de Libertadores. “Não se dá moleza em casa”, “cuidado com as artimanhas”, “é guerra”, “é diferente” e por aí vai. Ele também incorporou o espírito do xerifão da tropa e esculhambou com a situação. Tão logo saiu de campo, vieram os gols e a tristeza.

Resumo da ópera? Vamos mudar o disco e acabar com o negócio de botar lenha na fogueira, quando o assunto é Libertadores. Chega do lero-lero de que temos meninos ingênuos a toparem com lobos maus que falam castelhano. Sem essa de insistir em postura de machões. Por que não estimulá-los a jogarem bola, a apelarem para a técnica, a ginga, o drible? Por que não traçar táticas de jogo eficientes? Como, ressalte-se, fez o Atlético Nacional. Dá trabalho sair do lugar-comum; porém, compensa.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.