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Turbulência fora de campo marcou a campanha italiana

Escândalos que atingem os principais clubes e alguns dos jogadores, inclusive o capitão Cannavaro, tornaram-se combustível para conquista do título.

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Por Agencia Estado
Atualização:

A caminhada da Itália para o tetracampeonato foi complicada dentro e fora de campo. Não bastassem os disputadíssimos jogos contra Austrália e Alemanha, a equipe ainda teve de enfrentar as freqüentes notícias sobre o escândalo que envolve alguns dos principais clubes do país - e os próprios jogadores da seleção. As Eliminatórias foram relativamente tranqüilas, num grupo sem grandes seleções. O único tropeço foi a derrota por 1 a 0 para a Eslovênia, seguida por uma complicada vitória por 4 a 3 sobre a Bielo-Rússia. A vaga foi assegurada numa morna partida contra a mesma Eslovênia: 1 a 0, com gol do lateral Zaccardo. A Itália se credenciou como favorita ao título no dia 1.º de março, ao golear a Alemanha por 4 a 1 num amistoso disputado em Florença. Em maio, no entanto, logo depois que a seleção se reuniu, o inferno começou: a revelação de conversas gravadas entre dirigentes da Juventus e da Federação Italiana de Futebol (FIGC) mostraram um esquema de manipulações na escala de árbitros em jogos do Campeonato Italiano e de competições européias. O caso, com várias ramificações, derrubou a diretoria da Juventus e da entidade, mas novas investigações mostraram envolvimento de outras equipes, como a Lazio, a Fiorentina e o Milan. Investigações paralelas envolveram três figuras centrais da seleção: o técnico Marcelo Lippi era acusado de convocar jogadores para favorecer seu filho, Davide, funcionário de uma empresa que agenciava atletas; o zagueiro Cannavaro, capitão do time, de receber dinheiro da Juventus quando ainda atuava pela Inter para forçar sua transferência; e o goleiro Buffon, de fazer apostas em jogos de futebol, o que é proibido pela legislação européia. Os três tiveram de deixar a concentração italiana para prestar depoimento à Justiça. Em meio à turbulência, Lippi declarou, às vésperas da Copa, que a seleção só falaria de futebol. Os supersticiosos, porém, lembraram que no último título italiano, em 1982, o clima era parecido: o país acabava de sair do escândalo da "totonero", a loteria, que havia rebaixado o Milan e punido vários jogadores, como o astro Paolo Rossi, que pegou dois anos de suspensão. Os resultados nos últimos dois amistosos não convenceram: empates por 1 a 1 com a Suíça e 0 a 0 com a Ucrânia. A equipe começou bem a Copa, com a vitória por 2 a 0 sobre Gana, mas tropeçou na batalha campal contra os Estados Unidos: empate por 1 a 1 e o volante De Rossi suspenso por quatro jogos por causa de uma cotovelada no atacante norte-americano McBride. O drama italiano prosseguiu no último jogo da primeira fase, contra a República Checa, com a contusão do zagueiro Nesta no primeiro tempo. Materazzi entrou e marcou o primeiro gol da vitória por 2 a 0. Nas oitavas-de-final, contra a Austrália, mais sofrimento: o mesmo Materazzi foi expulso no início do segundo tempo e o gol só saiu num pênalti polêmico sobre Grosso, convertido por Totti aos 50 minutos do segundo tempo. Nas quartas-de-final, um pouco de respiro, com a vitória por 3 a 0 sobre a Ucrânia. Apenas um alívio para o que viria nas semifinais. No dia do jogo contra a Alemanha, o promotor Stefano Palazzi anunciou que pediria o rebaixamento da Juventus para a Série C1 (terceira divisão), com a cassação dos títulos nacionais conquistados nas últimas duas temporadas, e de Milan, Fiorentina e Lazio para a Série B (segunda divisão). Em campo, porém, a equipe esqueceu os problemas e conseguiu vencer a Alemanha de forma heróica, por 2 a 0, na prorrogação, com gols marcados aos 13 e 15 minutos do segundo tempo, por Grosso e Del Piero. Na decisão do título, a Itália precisou superar o trauma dos pênaltis, nos quais já havia parado em três Copas seguidas, para comemorar o tetra.

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