Uefa é criticada por proibir iluminação arco-íris em estádio no jogo entre Alemanha e Hungria

Cidade de Munique queria enviar um 'sinal visível de solidariedade' para os húngaros da comunidade LGBTQI+

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Por Christophe Beaudufe e AFP
Atualização:

Ao proibir a cidade de Munique de iluminar seu estádio com as cores do arco-íris em protesto contra a política da Hungria sobre as minorias sexuais, a Uefa respeitou seus estatutos, mas gerou críticas daqueles que a acusam de jogar nos dois campos. O que os alemães já chamam de 'Rainbow-gate' foi desencadeado pela prefeitura de Munique.

Para se opor a uma lei considerada discriminatória contra pessoas LGBTQI+, votada na semana passada pelo Parlamento de Budapeste, a cidade bávara pediu à Uefa, organizadora do torneio, autorização para iluminar na quarta-feira com as cores da comunidade o estádio utilizado para a Eurocopa, em partida entre Alemanha e Hungria.

Uefa é criticada por proibir iluminação arco-íris em estádio no jogo entre Alemanha e Hungria Foto: Andreas Gebert / Reuters

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A resposta foi negativa. A Uefa garante que compartilha os valores de tolerância promovidos por esta iniciativa, mas como uma "organização política e religiosamente neutra", não pode aceitar veicular uma mensagem especificamente dirigida a um país, ou a um governo.

'Base homofóbica de torcedores húngaros'

Para demonstrar sua boa-fé, o órgão europeu se propõe a iluminar o estádio com as cores do arco-íris em 28 de junho, ou no início de julho, para coincidir com os eventos que acontecerão nos dias do "Orgulho" em Munique.

Também não colocou obstáculos ao capitão da seleção alemã, Manuel Neuer, que usa, desde o início do torneio, uma braçadeira com as cores do arco-íris. Esta foi a forma que a "Mannschaft" escolheu para mostrar seu compromisso com a diversidade.

As reações de indignação se espalharam rapidamente por toda Europa, para criticar o "gol contra" da instância europeia. "Teria sido um milagre, se a Uefa tivesse autorizado, mas é bom ver a cidade de Munique e a Federação Alemã apoiarem esta iniciativa", disse Luca Dudits, porta-voz da ONG "Hatter", defensora dos direitos LGBTQI+ na Hungria. 

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"A Uefa estava numa posição delicada", analisa. "Há uma grande base homofóbica e tradicionalista entre os torcedores húngaros", explicou.

Para ele, se a Hungria tivesse perdido em um estádio com as cores do arco-íris, a derrota teria sido atribuída à comunidade LGBTQI+.

Mas o estádio que pertence ao Bayern de Munique ainda pode ser enfeitado com essas cores na quarta-feira. Em colaboração com a Anistia Internacional, os organizadores da marcha do "Orgulho" de Munique planejam distribuir 11.000 bandeiras aos espectadores. Neste jogo, apenas 14 mil lugares serão ocupados, devido às restrições da covid-19.

A cidade de Munique também anunciou nesta terça-feira que vai decorar vários edifícios com as cores do arco-íris.

'Faça de qualquer maneira'

E iniciativas de solidariedade continuam a surgir. A televisão privada alemã ProSieben decidiu adornar seu logotipo com as cores do arco-íris.

Os times de futebol de Frankfurt e Colônia também anunciaram que vão iluminar seus próprios estádios com as cores."Os acontecimentos na Hungria são terríveis. É importante enviar um sinal", declarou o presidente do Colônia, Alexander Wehrle.

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A candidata dos Verdes à Chancelaria alemã, Annalena Baerbock, apelou a todo país que mostre o arco-íris na quarta-feira.

Fora da Alemanha, Gary Lineker, um ex-jogador de futebol inglês, tuitou: "Faça de qualquer maneira, Munique, faça. Acenda a luz para o mundo ver".

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O secretário de Estado francês para os Assuntos Europeus, Clément Beaune, também lamentou a decisão da Uefa. "Teria sido um símbolo muito forte", disse à AFP. "É mais do que uma mensagem política, é uma mensagem de valores profundos", completou.

Em contraste, o ministro húngaro das Relações Exteriores, Peter Szijjarto, saudou uma medida de "bom senso" da Uefa, ao não participar "do que teria sido uma provocação à Hungria".

Uma porta-voz da Comissão Europeia considerou que era "uma boa ideia expressar o seu apoio à comunidade LGBTQI+ na União Europeia, também no âmbito esportivo, cultural, ou outras manifestações (...) mas não temos capacidade para pedir a uma organização esportiva que exiba suas cores".

"A Uefa não compreendeu os sinais do nosso tempo, e é fácil ver de que lado se posiciona com sua decisão", criticou o porta-voz da Federação Alemã dos LGTB, Markus Ulrich.

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