Uniformizadas dominam dia-a-dia de clubes

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Por Agencia Estado
Atualização:

As torcidas organizadas foram banidas dos estádios, mas estão no dia-a-dia dos clubes paulistas, mostrando que continuam fortes perante os dirigentes dos clubes. Uma prova disso foi a recente apresentação de reforços do Corinthians e do São Paulo, quando os novos jogadores vestiram camisetas e bonés das torcidas uniformizadas em vez das camisas oficiais, onde estão estampadas a peso de ouro as logomarcas dos patrocinadores. Os novos jogadores, receosos de provocar a ira da torcida, vestem camisas das organizadas, como no Corinthians, ou posam para fotos fazendo gestos que simbolizam a torcida, como no São Paulo. No Corinthians, o relacionamento com a torcida organizada tem sido tumultuado. E os contratados para 2004 sentiram na pele, já que chegaram ao Parque São Jorge carregando nas costas o incômodo rótulo de reforço, principalmente após um fim de temporada que deixou muito a desejar. No dia 7, quando a diretoria apresentou o ?Pacotão 2?, com o goleiro Fábio Costa e os atacantes Marcelo Ramos e Régis, líderes da Gaviões da Fiel tiveram acesso à apresentação e presentearam os recém-chegados com camisas da torcida. Mais do que depressa, os três as vestiram e ficaram com elas mais tempo do que com as oficiais. Régis até pediu para trocar o apelido de Pitbull para Gavião. No fim de semana, o meia Rodrigo participou de dois programas de televisão com o símbolo de uma organizada. A precaução é para não se tornar um novo Jamelli, que até marcou gols pelo Corinthians, mas não conseguiu conquistar a torcida. Ele acabou sendo desligado no fim da temporada. Rodrigo, antes mesmo de iniciar os trabalhos, mostrou que o assunto o preocupa. Assim que foi anunciada sua contratação, passaram a chamá-lo de Beckham, em alusão ao cabelo claro, semelhante ao do jogador inglês. Rodrigo não gostou. ?Pode ser que exista uma resistência. Não quero ser reconhecido no Corinthians pelo meu visual ou grau intelectual. Quero ser reconhecido pelo meu futebol?, disse o ex-jogador do Everton, da Inglaterra. A política de bom relacionamento com as organizadas não é privilégio dos jogadores. Até os cartolas estão mais tolerantes. Virou rotina no Parque São Jorge a entrada de líderes das organizadas em eventos fechados. Na apresentação do dia 7, por exemplo, o diretor Fran Papaiordanou ficava na frente do portão, permitindo o acesso dos convidados. Entre os escolhidos, estavam os mesmos torcedores que protagonizaram confusões com atletas nas dependências do clube, em passado recente. No São Paulo, a conivência com as torcidas organizadas é flagrante. Não se sabe qual diretor autorizou, mas três torcedores, que se diziam representantes da Independente, tiveram acesso à apresentação do técnico Cuca e dos reforços Fabão, Cicinho, Rodrigo, Vélber e Grafite, na segunda-feira, no CT da Barra Funda. Pintaram e bordaram entre cinegrafistas, repórteres e técnicos que trabalhavam na apresentação. Um dos torcedores distribuía bonés da organizada aos reforços. Todos aceitaram. Apenas o técnico Cuca, ao perceber que era de uma torcida, discretamente tirou o boné da cabeça e deixou de lado. Os torcedores conversavam com os reforços e intimavam com um certo tom de ameaça: ?Nós vamos cobrar de vocês! Tem de jogar bola! O São Paulo tem de ser campeão!? Os jogadores apenas acatavam. E nas entrevistas, todos ? sem exceção ? prometiam agradar à torcida e pediam voto de confiança. O máximo da submissão pôde ser observado quando os jogadores foram cumprimentar os torcedores ? a maioria de organizadas ? que compareceram ao CT da Barra Funda e esperavam para aplaudir os novos contratados. Os jogadores, dentro do campo, estavam separados da arquibancada por apenas uma grade. Normalmente os jogadores só dão autógrafos, mas os reforços do São Paulo foram além: ouviram ameaças dos torcedores e, no fim, posaram ajoelhados fazendo o gesto da Independente.

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