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'Vamos criar um fundo para captar R$ 100 milhões', diz Aidar

Presidente do São Paulo mira quitar dívidas em até cinco anos 

Por Ciro Campos e Daniel Batista
Atualização:

O advogado Carlos Miguel Aidar passa boa parte do dia entre organogramas, números e gráficos guardados em seu gabinete, no estádio do Morumbi, onde recebeu o Estado na última semana para uma entrevista exclusiva. Mais do que pensar em reforços, o presidente do São Paulo se diz preocupado com a dívida total acima de R$ 270 milhões e detalhou como pretende recuperar as finanças. O número negativo perturba o dirigente mais do que as divisão política causadas pelo rompimento com o seu antecessor, Juvenal Juvêncio, de quem prefere não falar.

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Como o senhor trabalha para melhorar as finanças?

Contratei o Instituto Áquila, fruto de uma seleção entre outros candidatos. O Áquila fez um modelo de gestão que já gerou um novo organograma, onde já entra a figura do CEO (diretor executivo). Estamos fazendo economias imensas já, mesmo com simples operação de fluxos de documentos, de caixa. Tenho dados lamentáveis na história do São Paulo. O resultado financeiro sem a venda de atletas, em 2003, gastou R$ 40 milhões a mais do que arrecadou. Nos anos seguintes, recebemos menos do que gastamos e tivemos só prejuízo. Se tivesse um ponto de equilíbrio, hoje o São Paulo teria R$ 522 milhões em caixa. Eu faria a modernização do estádio sem pegar um centavo emprestado e nem estaria pendurado em bancos. Não se cuidou do caixa do São Paulo nos anos de 2003 a 2014. Não estou citando nomes, nem presidentes e nem gestões, apenas anos. Com isso, o endividamento total do São Paulo, a dívida total, tributária, bancária e trabalhista, era de R$ 17 milhões em 2003, melhorou um pouco com a venda de Lucas, mas foi de R$ 270 milhões em 2014. A tendência é continuar crescendo. Se não estancar isso, não para mais. Essa é a preocupação e a fonte disso é o balanço do São Paulo. É só saber analisar os dados. 

Mas como resolver isso?

Estou montando um FIDC, um Fundo de Investimento em Direito Creditório. A operação básica tem a ideia de fazer uma captação inicial de R$ 100 milhões, remunerar um investidor a 120% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário). A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) vai aproveitar o regulamento, vamos lançar no mercado e queremos pegar grandes são-paulinos. Quem são eles? Já tenho nomes elencados para convidar. Vinícius Pinotti, Abílio Diniz, Roberto Justus, Benjamin Steinbruch, Felipe Massa, Rodrigo Faro, Henri Castelli, Zezé di Camargo, Ives Gandra... A intenção é convidá-los a investir. O investimento mínimo é R$ 1 milhão. Não pode ser menos, porque é o modelo do fundo. Vou tentar. Quando pegar esse dinheiro, vou ao banco e liquido toda a dívida bancária, adiro à Medida Provisória do Profut, jogo a dívida fiscal e tributária, com a Timemania, de R$ 50 milhões, que eu herdei. Ainda tenho 190 meses para pagar isso, mas se jogar no Profut, passo a ter 240 meses e a prestação diminui. 

Como esse fundo pode ser estruturado? 

Vamos pensar que temos um jogador jovem e bom, fixado com a multa rescisória de R$ 20 milhões para o Brasil e 30 milhões de euros para o exterior. O comitê de investimentos senta com o São Paulo, chega a um acordo sobre o valor e ele entra no fundo para dar lastro ao investidor pelo valor que o comitê e o clube acordarem. E fica lá. O dia em que o jogador for vendido, entra o dinheiro da venda dele, você remunera o investidor.

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Quando isso vai começar?

Em 60 dias quero pôr esse fundo de pé. Não mais do que isso. Do fundo, 80% que for arrecadado vai para a dívida e 20% será destinado ao futebol. Como é a gente que gere o fundo, podemos mexer nisso ao longo do período. 

Em quanto tempo o senhor pretende colocar o clube no azul?

Até o final do ano toda a dívida deve estar refinanciada e equacionada. Agora, para tirar a dívida da frente, é difícil fazer uma projeção. O FIDC está com um modelo muito bem montado, só está com o custo um pouco alto, é um fundo de cinco anos renovável por mais cinco. Então eu acho que em cinco anos eu tiro a dívida da frente do São Paulo. É o tempo que me sobra de mandato. São dois neste atual e outros três da reeleição. Sou candidato à reeleição daqui dois anos e todo mundo aqui dentro já sabe disso. Com essa situação, imagino que vou conseguir zerar a dívida em cinco anos. Se aderirmos ao Profut, vou trabalhar para transformar o São Paulo em clube empresa. Vamos mudar de sociedade civil sem fins econômicos em sociedade empresarial. No tratamento tributário que está no Profut você troca INSS, PIS, Cofins, fim social, Imposto de Renda, tudo isso, por 5% da receita bruta para quem for clube empresa. Mas ganha responsabilidades que não temos hoje. Teríamos que mudar o modelo social do clube e isso passa necessariamente pelo Conselho.

Carlos Miguel Aidar pretende deixar o clube no azul em cinco anos Foto: Daniel Teixeira/Estadão

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Como está a divisão política no clube?

Temos sete grupos políticos em que o Conselho está dividido. Cinco me apoiam, dois não. A minha preocupação hoje, é até uma missão, quero acabar com essa história de "Oposição x Situação". Não sou contra a existência de oposição, mas não quero mais esse confronto, que não é interno, mas é algo externo, para a imprensa, com a acusações infundadas, notícias plantadas. Há infelizmente pessoas que não têm o profissionalismo necessário e servem a alguns interesses sem consultar o outro lado antes de publicar. Isso tem acontecido muito. Temos essa pauta negativa. A minha grande missão é a pacificação do São Paulo. Quero acabar com o conflito. 

E de reforços? A torcida sempre fala do Lugano.

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Cheguei a falar com ele por telefone. No dia 9 de julho, feriado, o Juan Figer (empresário do Lugano) me ligou. Saímos para tomar um café. O Juan me disse: "O Lugano passou por uma cirurgia na Suécia, está ótimo, está jogando e quer vir para o São Paulo e de graça". Eu questionei o que seria esse vir de graça. O jogador não ia querer salário, sem preço do passe e queria apenas receber os resultados de todas as ações de marketing em cima dele. Daí eu fui falar com o Osorio. O técnico me disse que precisava de um canhoto e que jogadores como o Lugano já tínhamos outros. O Ataíde (Gil Guerreiro, vice-presidente de futebol) também achou melhor não trazermos um jogador dessa idade, até para prestigiar o Lucão e o Lyanco e promover outros jovens. Eu disse para o Juan que não ia dar, mas ele insistiu para eu telefonar para o Lugano. Eu liguei, desejei muito boa sorte para ele e disse: "Infelizmente você não é o atleta que o São Paulo está procurando. Nós queremos um zagueiro central, sim, mas um de perna esquerda original". Foi assim. O Lugano se frustrou. Eu disse que não era nada contra, falei para ele entender que é um ídolo do São Paulo, é pedido pela torcida. Mas não é nesse momento a pessoa que a gente mais deseja. O Lugano assinou contrato com o Cerro Porteño e colocou como condição que para vir para o São Paulo está livre a qualquer hora. Vamos ter que trabalhar até o fim do ano com os zagueiros que nós temos. 

Vai contratar goleiro para o ano que vem?

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Não. Vamos com Denis e Renan. E tem o menino, o Lucas Perri e o Leo. O Denis estava sendo preparado para substituir o Rogerio agora, mas decidiram prorrogar o Rogerio até o fim do ano. Ele deu sorte, porque se entra agora, se machuca, ia ficar um tempão fora. Ele pode se recuperar com calma e vai entrar no gol do São Paulo ainda melhor. 

O clube deve para o Luis Fabiano?

Ele tinha um contrato de trabalho, um de imagem e um de produtividade, que venceu em maio desse ano. Se cumpriu a meta de gols, ganha bônus. Esse outro contrato não foi renovado. Propositadamente? Acho que foi esquecimento de todo mundo. E ele quer receber por um contrato que não existe e nós não queremos pagar. 

Aidar critica má gestão em anos anteriores Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Qual seria o valor para venda do Ganso?

Minimamente acho que vale de R$ 20 milhões a R$ 25 milhões pelos 32% dos direitos econômicos. Nenhum clube brasileiro compra e nem tem dinheiro para isso. Se comprar será uma loucura, só se for investidor. 

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Depois do empréstimo do Ewandro, podem vir outros?

O Ewandro foi um acordo. Nós temos uma pendência com o Atlético-PR, que vem de anos. O Petraglia (Mario Celso, presidente do clube) me falou que o São Paulo estava devendo dinheiro do (zagueiro) Rhodolfo e disse que o Juvenal (Juvêncio, ex-presidente) passou a perna nele. Depois ele continuou reclamando que o Rhodolfo foi trocado com o Grêmio pelo Souza, que vale mais, e que o time gaúcho não queria pagar o Atlético-PR e prometeu arrumar confusão. E desde o ano passado estamos conversando para achar uma solução que envolva Rhodolfo, Souza, dívida, dinheiro e pagamento. Resumo da história: ele colocou um advogado, eu acionei o nosso setor jurídico, eles foram negociando entre empréstimos e tal, até que fechamos e assinamos o contrato. O Atlético-PR ficou com o Ewandro emprestado de graça até 31 de dezembro de 2016, ficou com o preço do passe fixado em 4 milhões de euros com uma cláusula de mais-valia de 20% que excedesse esse valor, caso seja vendido. Mas ele tem a opção de compra. Em troca de tudo isso, quitou a briga com o Souza, com o Rhodolfo, toda a eventual dívida pendente e nós zeramos uma coisa que estava no nosso passivo de contas a pagar da ordem de R$ 750 mil. Tiramos esse problema da frente. O Ewandro vai para lá com chance de ser titular, pode valorizar o jogador e no fim do ano, pode ser comprado ou vendemos em conjunto. O nome do Auro foi um dos que foi colocado na lista à disposição do Atlético-PR, mas eles não queriam um lateral. 

Pretende fazer reduções em alguns departamentos do clube?

Sim. Aqui não é uma crítica às pessoas e nem à gerência, mas a nossa base é muito ruim. o nosso sub-20 tem um time, mas os que subiram recentemente, não vieram de lá. O Boschilia foi comprado, assim como o Lyanco, Matheus Reis e o Lucas Perri. Então gastamos R$ 26 milhões no meu orçamento com Cotia e não me produz R$ 26 milhões por ano. Teria que me dar esse retorno, mas é deficitário. Então o que está errado? A gestão, a formação, a administração...Ou é preferível pegar os R$ 26 milhões e ficar comprando jogador.

E o que está tão errado?

Está errado o sistema de captação, de olheiros. Existia um esquema pesado, todo mundo falava. Se começa a entrar muito fundo nas coisas, começa a trazer à tona coisas que não convém ao São Paulo. Estou muito preocupado hoje com o primeiro ponto: gerir o São Paulo com credibilidade e isso não será atacando. 

Tem algum garoto na base que vocês olham com mais atenção, que pode virar um craque ou render milhões para o clube, como um novo Lucas?

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Sinceramente, não. Hoje, a gente não enxerga. Pode ser que ele esteja treinando e apareça. Eu me lembro do dia da estreia do Muller, em São Paulo x Matonense. Tínhamos perdido uns cinco ou seis titulares. O técnico Cilinho me disse que ia lançar dois garotos que iriam encher essa sala de dinheiro. Era o Luis Antonio e o Paulinho, dois meninos da base. O Luis Antonio foi titular. A bola passava por baixo do pé, ele tremia em campo. Sabe quem eram? O Muller. E o Paulinho? Era o Silas. Esses meninos sofrem essa adaptaçãoo e ainda temos um problema sério, que é a transição. A base está em Cotia e os profissionais, na Barra Funda. Tem que levar um para o encontro do outro ou chamar os garotos aos poucos. Agora eu quero que o Milton Cruz (coordenador técnico) comece a observar com mais atenção a base e comece a selecionar os garotos.

O contrato da Under Armour prevê o pagamento de comissão a um intermediário, que receberá o dinheiro em Hong Kong. Isso levou o presidente do Conselho Deliberativo a montar um grupo para analisar esse documento. O quanto isso impactou no clube?

Fiz uma reunião de diretoria e propus retirar do Conselho o contrato polêmico da Far East, do intermediador do contrato com a Under Armour. Isso não significa sucumbir à pressão, quero apenas que fique transparente. Já provei que a empresa existe. O intermediário existe, tanto é que assinou. Mais do que isso, todos os documentos da firma e os contratos passaram por autenticação, inclusive do governo da China. Tenho o contrato social da empresa Far East, com autenticação do governo de Hong Kong. Eu conheci o intermediador. Não adianta falarem que não existe, eu o cumprimentei. Quer fazer oposição? Faça com um pouco mais de qualidade. O cara esteve aqui antes mesmo de eu ser presidente. Nós fizemos o contrato de intermediação com um cidadão, que optou por entre as várias empresas que tem nos Estados Unidos, na Itália e na China, onde ele escolheu por receber lá. Nesse país ele tem um tratamento tributário diferenciado, um custo muito menor.

O quanto as disputas políticas te atrapalham?

O São Paulo tem que estar acima disso. É o maior contrato de fornecimento de material esportivo do Brasil. É melhor que o da Nike com a seleção brasileira. Já que querem discutir, vamos discutir, mas não só esse contrato. Vamos falar do caso da Prazan, por exemplo, do Habib's, como da Penalty, da AMVO Advogados, o da Smartmove Bilheteria. Fiz um discurso em um encontro dias atrás para acabar com isso, para administrar o São Paulo com credibilidade. Falei que somos vítimas de ataques de pessoas ressentidas, mas não vou reagir da mesma forma. Não quero tocar em assunto de revanche. Essas pessoas não fazem parte do São Paulo de hoje, mas só da história. Quero olhar o clube para frente, enaltecer as coisas boas.

Essa dívida com a Prazan vem desde 2002 e a Justiça bloqueou recentemente o dinheiro que o clube receberia pela venda de jogadores justamente para ter que pagar essa pendência. Pretende levar isso ao Conselho?

Nosso ilustre presidente do Conselho Deliberativo (Carlos Augusto Barros e Silva, o Leco, então diretor de futebol) assinou um documento, depois do negócio feito, em que autorizou o pagamento de comissão que o então presidente, Marcelo Portugal Gouvêa, não quis pagar (comissão a um empresário pela contratação de Jorginho Paulista). Eu vou fazer alguma coisa contra o Leco? Eu, Carlos Miguel, não. Fica a critério dele. Não pretendo levar essa discussão para o Conselho. Se o Conselho quiser levantar essa bola, tudo bem. O bloqueio se deu em cima da venda do Paulo Miranda e do Denilson. Não quero o São Paulo da vingança, da revanche. Quero olhar para frente. Eu vou por o São Paulo em ordem, pode apostar nisso. Ainda que essa oposição continue causticante.

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Presidente do São Paulo teme os problemas financeiros do clube Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Como é a participação de ex-presidentes no Conselho Deliberativo?

Eles não se envolvem muito. Tem duas pessoas que vêm contribuindo bastante na tentativa de pacificar o São Paulo. Um se chama Ives Gandra da Silva Martins e o outro é o Antônio Cláudio Mariz de Oliveira. Um que não integra o Conselho, mas é um são-paulino conhecido, que é o Abílio dos Santos Diniz. Todos estão preocupados com o São Paulo. Essas pessoas têm uma preocupação muito maior com o clube do que as suas vaidades. São desprovidas de vaidade. Quero acabar com a polêmica e o revanchismo.

E o projeto de modernização do estádio?

Hoje eu não apresento o modelo, o conceito porque o ambiente do São Paulo ainda está conturbado e não é o momento propício. O projeto, o conceito está pronto. Não tenho o detalhamento de metragem e materiais. Mas já sei como será a aproximação a aproximação do campo, a cobertura retrátil, tudo está desenhado no papel. Só falta fazer o filme da animação para começar a mostrar para as pessoas. 

Vai conseguir contratar o Alexandre Pato?

Ele é um jogador querido da torcida, da diretoria, da comissão técnica, mas muito caro. No contrato estão 10 milhões de euros e por esse valor é impossível comprar. O salário ele também teria que diminuir, mas para ficar no São Paulo ele revê a condição. Ele moveu uma ação contra o clube, era um direito dele. Estávamos devendo. Fizemos um sacrifício imenso e pagamos, assim como Corinthians. Ninguém quis correr o risco. Gerou um desconforto e eu corri para pagar os outros jogadores. Paguei três meses atrasados, todo mundo, venceu no último dia 10. Assim que liberar esse dinheiro, também vou ficar em dia pelo menos com a dívida atual.

Existe muita diferença do futebol da década de 1980, quando foi presidente, para o de agora?

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Muita. Inegavelmente, eu não estava vivendo o cotidiano do clube. Eu passei no dia que eu aceitei ser candidato. Me falaram que tinha que ser eu ou perderíamos a eleição. Hoje você tem a tal da internet, que é uma coisa que não estava acostumado a lidar. Aquela época eu falava com poucos jornalistas. Aliás, essa é a última entrevista que estou dando. Agora o São Paulo terá um porta-voz. Só vou falar assuntos relevantes. Agora quem vai falar é o Júlio Casares (vice-presidente). Em futebol só o Júlio e o Ataíde (Gil Guerreiro, vice-presidente de futebol). Estou saindo de cena porque preciso trabalhar no fundo, na parte política, arrumar dinheiro, contratar profissionais. Não dá tempo. Você se relacionar com torcida é complicado. Agora com o Profut você não pode ganhar mais do que 80% do que arrecada no futebol e não pode antecipar renda. Gestões passadas anteciparam muita coisa. 

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