
06 de outubro de 2019 | 04h30
A implementação do árbitro de vídeo (VAR, na sigla em inglês) nesta edição do Campeonato Brasileiro não reduziu o número de reclamações dos clubes. Levantamento feito pelo Estado envolvendo os 220 jogos realizados até o início da 23.ª rodada mostra que a quantidade de queixas permanece alta, mesmo com a presença da tecnologia.
O levantamento se baseou nas súmulas da CBF, informações sobre o andamento dos jogos e entrevistas de jogadores, técnicos e dirigentes para quantificar as reclamações a respeito da arbitragem e quais os tipos de lances motivaram mais queixas. As polêmicas foram tabuladas e separadas em diferentes categorias, como pênalti, expulsão, falta, impedimento, toque de mão, repetição de cobrança de pênalti após o goleiro se adiantar e lateral invertido que originou gol.
O trabalho procurou registrar todas as reclamações dos 20 times, não apenas os lances em que o VAR foi acionado e não levou em consideração se a decisão do árbitro naquele momento foi a correta ou não.
Foram computadas 103 queixas nas 220 partidas analisadas, isto é, uma média de 0,46 queixa por jogo. Segundo a análise, 63 partidas suscitaram algum tipo de protesto, seja de jogador, técnico ou dirigente, o que significa dizer que houve chiadeira em 28% dos confrontos analisados.
A reclamação por marcação ou não marcação de penalidades é a mais recorrente dos clubes em relação à arbitragem - foram 54 protestos por esta razão contra 29 por conta de expulsões e seis por impedimentos.
Com 13 reclamações, o Fluminense lidera a lista em relação às decisões dos homens do apito, à frente do Vasco, que contestou oito marcações. Athletico-PR, Botafogo, Fortaleza e Internacional vêm na sequência, com sete queixas cada um.
No ano passado, quando os juízes de campo ainda não podiam recorrer ao árbitro de vídeo, o Estado mostrou que houve 141 contestações dos 20 clubes da Série A em 310 jogos analisados, uma média de 0,45 protesto por partida, números muito parecidos com os da atual edição da competição.
Neste ano, a 22.ª rodada foi a que registrou mais polêmicas. Uma delas foi o gol anulado do Palmeiras no empate em 1 a 1 com o Internacional, no Beira-Rio. Após consultar o monitor, o árbitro catarinense Braulio da Silva Machado enxergou toque no braço do atacante Willian na origem da jogada e invalidou o gol marcado por Bruno Henrique, o que deixou os palmeirenses indignados.
Após a partida, o presidente do clube paulista, Maurício Galiotte, se mostrou revoltado com a decisão da arbitragem e indicou que o Flamengo, atual líder do torneio nacional, tem sido favorecido pelos árbitros. "Estamos pedindo critério, justiça. Vamos disputar o campeonato de forma séria, mas que a arbitragem também atue de forma séria", disse o mandatário na ocasião. "Em muitos lances, é só vocês fazerem um levantamento, o VAR não tem atuado em jogos do Flamengo, isso é fato".
O mandatário palmeirense foi recebido na sede da CBF, no Rio, na quinta-feira. A entidade admitiu que a arbitragem errou no lance envolvendo Willian. A interpretação é de que o gol foi bem anulado, tendo em visto o que diz a atualização da regra em relação aos toques de mão bola no ataque, mas o jogo deveria ter sido reiniciado com falta na entrada da área a favor do time alviverde - mesmo assim, o vídeo do gol foi enviado para análise da Fifa.
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06 de outubro de 2019 | 04h30
Presidente da Comissão de Arbitragem da CBF desde abril deste ano, Leonardo Gaciba virou o principal alvo de reclamações dos clubes na atual temporada. As queixas mais recorrentes dizem respeito ao uso da tecnologia. Os dirigentes não estão contentes com algumas marcações do árbitros com o auxílio do árbitro de vídeo (VAR) e, em várias entrevistas, citam o atual chefe de arbitragem. Em sua defesa, Gaciba divulgou balanço recente em que aponta que o índice de acerto nas decisões dos árbitros até a 14ª rodada era de mais de 90% após o início do uso da tecnologia.
Gaciba dedicou 17 dos seus 48 anos à carreira de árbitro e passou outros nove como comentarista de arbitragem. Ao chegar à CBF para substituir o Coronel Marinho, o gaúcho de Pelotas promoveu algumas mudanças. Ele tem uma visão mais moderna em relação aos seus antecessores - estuda, por exemplo, a utilização de inteligência artificial e realidade virtual no treinamento dos juízes - e procura manter um bom relacionamento com clubes e seus dirigentes.
Com a implementação do VAR no calendário do futebol brasileiro, Gaciba decidiu visitar os 20 clubes da primeira divisão. A ideia é tirar dúvidas sobre a tecnologia e estreitar a relação com as agremiações. Corinthians, São Paulo, Inter e Vasco são alguns dos clubes que já tiveram palestra com o chefe da arbitragem da CBF.
"Vamos em busca de um futebol melhor, um espetáculo melhor", projetou o gaúcho quando assumiu o comando do apito no futebol brasileiro. "A base de todo o meu projeto é valorizar os árbitros, tentar fazer com que eles tenham todos os recursos possíveis para desempenhar a função. O meu desafio é fazer com que o VAR seja utilizado da melhor forma possível. E faremos isso com muito trabalho", acrescentou.
No entanto, diante das polêmicas envolvendo os árbitros especialmente no Campeonato Brasileiro, o relacionamento de Gaciba com alguns se estremeceu. Recentemente, Athletico-PR, Atlético-MG, Inter, Palmeiras e Vasco fizeram cobranças ao ex-árbitro e exibiram insatisfação com a maneira que o VAR tem sido utilizado. O técnico Vanderlei Luxemburgo lembrou da palestra a que seus jogadores assistiram para cobrar o presidente da Comissão de Arbitragem da CBF.
"O Gaciba foi na quarta-feira fazer uma palestra no CT. Ele pegou um vídeo sobre lance de impedimento e mostrou o que caracteriza. Eu já tenho a imagem do VAR que a mão do Werley está na linha vermelha, mas não tem nenhum jogador do Vasco na azul. Ele foi enfático e disse que o que caracterizava o impedimento não é a mão, mas os pés. Então não foi impedimento. O gol foi legal. O Gaciba é um cara legal, está tentando mudar... Vem publicamente trazer essa imagem e dizer o que aconteceu. Se ele tiver outra imagem de impedimento, ficarei calado. Ou vem publicamente dizer que a palestra que ele deu os árbitros não colocaram em prática. Essa é a reclamação", expôs o treinador. Luxemburgo fez menção ao gol anulado de Werley por impedimento com a ajuda do VAR na derrota por 1 a 0 para o Corinthians.
Mais forte ainda foram as palavras do vice de futebol do Inter, Roberto Melo. "Enquanto o seu Gaciba estiver na CBF, não pretendo ir. Ele fala uma coisa, se exibe, faz apresentação, c... regra e é feita uma coisa totalmente diferente", esbravejou Melo após a derrota por 3 a 1 para o Flamengo. No jogo, o time gaúcho reclamou das expulsões de Bruno e Guerrero e da não marcação de um pênalti no centroavante peruano.
Sentindo-se lesados, os clubes têm feito reclamações formais à CBF. Caso do Athletico-PR, que, após o envio do ofício, afirmou que a ouvidoria da entidade que rege o futebol brasileiro reconheceu “o erro de fato da arbitragem na partida diante do Santos, no dia 8 de setembro, na Vila Belmiro”. O parecer foi assinado por Manoel Serapião Filho.
No lance em questão, Marinho invadiu a área e caiu após contato com Braian Romero. Inicialmente, o árbitro Rodrigo Carvalhaes de Miranda assinalou a falta fora da área. No entanto, após consultar as imagens do VAR, o juiz marcou a penalidade, convertida pelo uruguaio Carlos Sánchez e que decretou o empate em 1 a 1.
Mais da metade dos clubes estão insatisfeitos com o VAR e defendem mudanças na utilização da ferramenta. O que os dirigentes mais pedem é a liberação das imagens revistas no vídeo e do áudio das conversas entre o árbitro de campo e os auxiliares na cabine. Os cartolas também querem que os torcedores presentes no estádio saibam o que está sendo analisado. Este último pedido será atendido, já que a CBF anunciou no final de setembro que os lances em análise pelo VAR serão exibidos nos telões dos estádios e também nas transmissões das partidas na televisão a partir do segundo turno.
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