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Violência cresce e clubes ficam no prejuízo

Atos de vandalismo das torcidas organizadas levam o STJD a punir os times com perda de mandos de campo e multas de até R$ 100 mil

Por Silvio Barsetti e Leonardo Maia
Atualização:

SÃO PAULO - O São Paulo foi o último clube a sofrer com o mau comportamento de sua torcida, punido na sexta-feira com a perda de quatro mandos de campo por conflito entre seus torcedores e a polícia. Trata-se apenas de mais um episódio de um problema que parecia superado no futebol brasileiro e retornou com força nos últimos dois anos. A violência de organizadas nas arquibancadas.Em 2012, foram 52 denúncias no Artigo 213 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD), contra 23 clubes das Séries A e B. Nesta temporada, 29 casos chegaram ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), com 21 clubes acusados nas duas principais divisões do País.

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Não estão computados os processos da última semana, aos quais ainda cabe recurso – foram punidos Cruzeiro, Atlético-MG, Atlético-PR e Corinthians, além do São Paulo.As torcidas campeãs da desordem em 2012 e 2013 são a do Goiás e a do Palmeiras. Esmeraldinos e alviverdes prejudicaram seus times em seis ocasiões, seja com pagamento de multa ou com o impedimento de usar o seu estádio.O Artigo 213 diz respeito a distúrbios nos estádios, como brigas de torcida, invasão de gramado e objetos arremessados em campo. Prevê a responsabilidade do clube mandante, como organizador do evento, e do visitante, se ficar comprovada a iniciativa de seus torcedores.

“Atribuo a vândalos (esse comportamento da torcida), que se infiltram para prejudicar o clube. Não é o torcedor tradicional que faz isso”, comenta João Bosco, presidente do Goiás.A diretoria do clube se cansou de tantas punições. Segundo Bosco, após reuniões com órgãos estaduais, governo e federação goianos, o Serra Dourada passará a contar com um juizado especial criminal (Jecrim), a partir de hoje, como forma de identificar e punir mais rapidamente os vândalos. Além de dobrar o efetivo de PMs.

A questão é complexa. Para o presidente do STJD, Flavio Zveiter, ela envolve o problema das torcidas organizadas, a irresponsabilidade de dirigentes que criticam as punições e defendem os baderneiros e a ineficiência dos órgãos que deveriam aplicar as sanções previstas no Estatuto do Torcedor. 

“O Estatuto é uma ferramenta importante, que nos dá várias formas de punir clubes e torcedores. No entanto, a gente não vê a aplicação na prática”, diz Zveiter.Na visão do advogado, falta unidade nas ações das partes envolvidas. Zveiter julga crucial que dirigentes, federações, promotores e governos se unam para estabelecer uma norma.“Gostaria de ver o Ministério do Esporte conduzindo esse processo. Não é atribuição do STJD, mas, como não o fizeram, acho que precisamos iniciar esse movimento”, cobra o presidente do tribunaL, revelando que vai se reunir em 12 de novembro com membros do Conselho Nacional do Ministério Público. O objetivo é trocar ideias para um plano unificado de ação dos Ministérios Públicos estaduais.

“Cada MP toma um rumo diferente no combate a esse tipo de violência e não se chega a lugar nenhum. O MP de São Paulo tenta extinguir a Gaviões da Fiel e não vai conseguir isso nunca”, critica Zveiter. Um ponto de partida poderia ser o formato adotado no Rio, na opinião do presidente do STJD, com a implantação de um Jecrim no estádio e a formação de policiais especializados. No Rio existe o Gepe (Grupamento Especial de Policiamento em Estádios), que poderia ser levado para outros estados.

O regulamento de competições da CBF também é restritivo. Prevê apenas que aqueles punidos com perda de mando joguem a 100 km de sua sede. “Isso é pouco punitivo. O torcedor tem de sentir que seu comportamento realmente prejudica o clube. Precisamos ter outras penas, como portões fechados, inversão de mando ou jogo com apenas a torcida visitante”, destaca Zveiter.

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