PUBLICIDADE

Publicidade

'Vou aproveitar como se fosse a minha única oportunidade'

Prestigiado na Inter de Milão, Juan Jesus busca justificar convocação de última hora para a seleção brasileira

Por Vanderson Pimentel
Atualização:

Tudo parecia normal no CT de Appiano Gentille, onde os jogadores da Inter de Milão treinavam após derrotar o Qarabag pela Liga Europa, quinta-feira. Eles se preparavam para a partida contra a Fiorentina, domingo, pelo Campeonato Italiano. Até que no meio da atividade, o diretor Piero Ausílio chamou Juan Jesus de canto e deu a notícia de que o zagueiro estava convocado para defender a seleção brasileira em jogos contra Argentina e Japão.

PUBLICIDADE

Revelado pelo Internacional, o defensor, que nunca gozou de prestígio com a torcida brasileira, chegou à Itália em janeiro de 2012, após ser titular da seleção base do Sul-Americano Sub-20 em 2011 e Jogos Olímpicos de Londres. Com o tempo, a aposta se mostrou acertada e com atuações convincentes, virou titular absoluto na Inter de Milão, onde é companheiro dos brasileiros Dodô e Hernanes.

"Mais tranquilo" e evoluído da época em que era conhecido no Brasil pela fama de zagueiro violento, Juan disse, em entrevista ao Estado, que merecia ser convocado. Espera chamar a atenção de forma positiva após a oportunidade dada pelo técnico Dunga, com a lesão do zagueiro e amigo Marquinhos.Como você recebeu a notícia da convocação?Quando a gente chegou após o jogo da Liga Europa eu ainda não sabia de nada. Na manhã desta sexta, estava no treino quando o diretor da Inter me chamou e falou que eu havia sido convocado. E eu perguntei: 'como assim? A convocação já saiu faz tempo'. Ele me explicou que o Marquinhos havia se machucado e eu falei: 'que bom (risos)'. Mas é bom e ruim, porque eu conheço o Marquinhos de quando ele jogou na Roma, a gente sempre se falava e eu fiquei triste por ele ter se machucado, mas feliz de estar voltando para a seleção. Tenho agora de aproveitar a oportunidade da melhor forma possível.

Companheiro de Hernanes e Dodô, Juan é titular absoluto na Inter de Milão Foto: Larry French/AP

Já deu tempo de encontrar o Dodô e comemorar a convocação de ambos?Claro. Eu encontrei com ele nesta manhã. A gente estava no treino e eu falei para ele que iríamos viajar juntos. O Dodô perguntou se era sério e depois a gente deu muita risada e comemorou. Mas agora, como tem jogo importante contra a Fiorentina domingo, eu não estou querendo pensar muito em seleção. Estou pensando mais na partida da Itália, porque é uma partida importante, um confronto direto. Estou feliz, aproveitando agora, mas tem de entrar na minha cabeça a Fiorentina e depois sim pensar na seleção.

Você é titular absoluto da Inter desde a última temporada. Você acha que sua fase no clube justifica essa convocação?

Quem me conhece aqui na Itália e acompanha o meu trabalho desde que cheguei, sabe que eu mantive uma média boa jogando. Estou há dois anos e meio aqui e logo completo 100 partidas no clube. Para mim é muito gratificante estar voltando para a seleção brasileira em vista daquilo que estou fazendo na Internazionale. Venho trabalhando e jogando todas as partidas, em forma, fazendo tudo o que o treinador me pede para realizar aqui um bom trabalho técnico e físico e a cada dia que passa, venho aprendendo mais. Estou bem tranquilo e acho que se fui convocado, é por méritos devido ao trabalho que venho fazendo.

Você jogou com o Neymar, Coutinho e Rafael na base. Como é reencontrar todo mundo na seleção principal?

Publicidade

É legal poder rever esses companheiros de antigamente. Tem o Mário Fernandes, com quem joguei contra no Grêmio, o Neymar, que jogamos o Sul-Americano juntos. O Coutinho é um dos meus melhores amigos, a gente sempre está se falando pelo telefone e é importante retomar esses contatos.

Você só acabou sendo chamado por causa da lesão do Marquinhos. Acha que agora é o momento de se garantir na seleção do Dunga?

Eu vou tentar aproveitar a oportunidade como se fosse a última, porque já fui para a seleção outras vezes com o Mano Menezes na Olimpíada e depois quando mudou o comando e entrou o Felipão, não fui mais chamado. Mas sempre que eu fui para a seleção, mostrei o meu trabalho, mas era novo ainda, tinha só 20 anos. Passaram-se três anos e esse tempo para um jogador de futebol, morando e jogando na Europa, você aprende um milhão de coisas. Aqui na Inter, eu cresci muito como jogador e mesmo sendo chamado após a lesão do Marquinhos, vou aproveitar como se fosse a minha única oportunidade de mostrar meu trabalho para o Dunga.

Na seleção, Juan encontrará ex-companheiros de Olimpíada como Neymar, Rafael e Danilo Foto: Nigel Roddis/Reuters

Você acha que desde que foi para Inter, evoluiu daquele Juan visto no Internacional e nas seleções de base que chegava mais duro nos adversários?Eu nunca fui maldoso. O trabalho de zagueiro, querendo ou não, é chegar duro, senão o atacante chega e faz o gol. Acabei me casando neste ano e isso me ajudou a ficar mais tranquilo. Na época do Internacional, não sei se pela pressão ou pela forma como eu subi, que não foi a certa, acabou me prejudicando muito. Mas graças a Deus eu mudei e sou o vice-capitão do time, apesar de ter 23 anos apenas. Eu tenho essa liderança no grupo, falo com todo mundo, com o diretor, com o presidente. Eu creio que esses três anos serviram muito para mim e com certeza cresci bastante aqui na Europa.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Mudar para a Itália e ser treinado por técnicos europeus também te ajudou bastante a evoluir?Claro. Quando eu cheguei aqui, estava o (Claudio) Ranieri, que hoje é o treinador da seleção da Grécia, que era do Monaco, e depois mudou para o (Andrea) Stramaccioni e hoje é o (Walter) Mazzarri. Cada um me deu algo para crescer. O Stramaccioni foi o cara que me lançou e o Mazzarri me dá continuidade. Eu sou o único jogador na temporada que atuou em todos os jogos, porque ele tenta revezar com Liga Europa e Campeonato Italiano. Ele me deixa jogar todos os jogos e venho jogando bem. Eu agradeço a cada treinador. Ao Ranieri quando me trouxe, ao Stramaccioni, que me lançou, e ao Mazzarri, que me dá continuidade.

Qual deles você considera mais importante?

Cada um ajuda em uma coisa. Mas o Mazzarri, que é o atual, te ensina a defender mesmo, porque a gente sabe que os italianos defendem bem, mostra como tem de se posicionar e quais os movimentos a serem feitos. Ele fala que eu tenho velocidade, que tenho força, fala que se eu melhorar em algumas coisas, vou ficar perfeito. Ele confia muito em mim e também passa muita confiança.

Publicidade

Tem uma grande diferença em atuar ao lado de um zagueiro consagrado como o Vidic?

Sim, porque ele é um cara que ganhou tudo no Manchester United. Ele te passa tranquilidade, experiência, até porque eu já joguei com o (Walter) Samuel, que ganhou tudo também e para mim é sempre gratificante estar treinando com esses jogadores que foram campeões mundiais. Eu tento pelo menos fazer um pouco daquilo que eles me ensinam.

A Inter não veio bem nos últimos anos e contratou pouco para essa temporada. Qual é a expectativa para o Campeonato Italiano?

Querendo ou não, acho que todo clube chega em um momento em que tem de mudar. Em 2010, a Inter ganhou tudo com o Mourinho e é difícil na outra temporada você manter o nível. Em 2011, a gente foi mais ou menos. Em 2012, fomos mal. E em 2013, fomos para a Liga Europa e ficamos na sexta colocação do Italiano. Mas nesse ano a gente voltou bem. Fizemos pouco mercado, mas o clube trouxe o (Pablo) Osvaldo, (Gary) Medel, (Yann) M'Vila. São peças que faltavam para a gente e creio que podemos almejar muitas coisas porque o time está forte de novo. Apesar da derrota contra o Cagliari (4 a 1 no último domingo), acho que a gente pode ficar no topo do Campeonato Italiano, da Copa da Itália e da Liga Europa.

O time tem condições de jogar de igual para igual com a Roma e com a Juventus?

A Juventus é um time que joga há três anos juntos, o Pirlo sabe onde estão os jogadores de olhos fechados e hoje em dia a Roma e a Juventus estão em um nível acima em questão de entrosamento. Mas quando a bola rola é 11 contra a 11, e quando jogarmos contra eles, vamos fazer de tudo para ganhar.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.