Wenger diz que saída prematura de jogadores prejudica seleção brasileira

Técnico do Arsenal afirma que o aspecto comercial no futebol brasileiro estaria matando a qualidade da seleção nacional

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Por Jamil Chade
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NYON - Conhecido como o "intelectual do futebol" e eleito como o melhor técnico do mundo na década 2000-2010 pela IFFHS, o francês Arsène Wenger não hesita: o aspecto comercial no futebol brasileiro estaria matando a qualidade da seleção nacional. Para o treinador do Arsenal e que coleciona títulos, a saída prematura de jogadores do País foi gradualmente minando o futebol brasileiro.O francês desembarcou na equipe inglesa em 1996 e, se concluir seu contrato em 2014, terá sido o treinador que mais tempo passou no comando do clube. Nascido em Estrasburgo, sua estratégia é a de ir além da tática do futebol para comandar uma equipe. Força mental e inteligência em campo são as marcas de seu estilo, que lhe valeu a Ordem do Império Britânico e o reconhecimento do mundo do futebol.Wenger, em entrevista exclusiva ao JT, defende a manutenção de Mano Menezes no comando da seleção brasileira até 2014, fala sobre o que ele acredita ter sido o fator que "destruiu o futebol brasileiro" e faz uma avaliação do dinheiro no futebol mundial. Eis os principais trechos da entrevista, concedida na sede da Uefa em Nyon, na Suíça.Como o senhor vê as críticas ao treinador brasileiro Mano Menezes?Ele pelo menos tem um projeto, o que já é grande coisa. Ele parece saber o que está fazendo e acredito que o Brasil deveria mantê-lo no cargo até 2014. A diferença entre o Brasil e a Europa é que, no Brasil, treinadores vivem em hotéis. Na Europa, moram em casas. Treinadores precisam ter tempo para trabalhar.Mas isso será suficiente para disputar a título na Copa?É verdade que a equipe precisa ganhar em maturidade e os últimos jogos provaram isso, como no caso do torneio olímpico. É verdade que o grupo é muito jovem. Mas em dois anos podem estar no auge de suas formas. A questão é garantir uma continuidade no trabalho.Mas como pedir paciência se a Copa do Mundo ocorre em menos de dois anos no Brasil?Claro que é sempre complicado pedir paciência aos torcedores. Mas é isso que precisam ter agora. Talento não falta no Brasil e eu mesmo sempre tive muita sorte sempre que trouxemos um jogador brasileiro para atuar no Arsenal. Sou um grande admirador do futebol brasileiro.O futebol brasileiro parece ter perdido um pouco de suas características de futebol arte e, ao mesmo tempo, não encontrou uma nova identidade. Qual o motivo dessa crise no futebol do País?A transferência de jogadores cada vez mais jovens para a Europa é o que está destruindo o futebol brasileiro. Tudo indica que a parte comercial do futebol ganhou uma força sem precedentes e que acabou destruindo a educação de jovens jogadores. O que vemos é que há uma transferência de jogadores nacionais cada vez mais jovens para a Europa. Eu conversava com Carlos Alberto Parreira há pouco tempo e ele me confessava que sequer conhecia alguns dos brasileiros que estavam despontando nas equipes na Europa. Ficou claro que não há um controle.Como o senhor vê então o futuro desse futebol?Acho que isso vai começar a mudar. Com uma economia cada vez mais forte, o Brasil pode reverter a situação e manter jogadores de talento no País. Isso pode mudar muita coisa.No que se refere a essa parcela comercial do futebol, temos visto a chegada de príncipes árabes comprando times europeus...Não entendo. Qual o problema disso? Antes, eram os Berlusconi da vida. Agora são outros.Sim. Mas agora a Uefa tenta impor regras sobre finanças para evitar que clubes acabem endividados. Qual pode ser o impacto dessa chegada de novos magnatas?Olha, não se pode negar que o futebol precisa de dinheiro. O que eu acredito, porém, é que o futebol deve e pode ser autossuficiente. Trata-se de um setor suficientemente importante para depender de dinheiro de fora. Esse deve ser o lema para o futebol hoje.O dinheiro ainda conquista campeonatos?Certamente ajuda. Mas jogos são vencidos em campo e eu ainda aposto no futebol puro, de resultados em campo.Como o senhor avalia a qualidade do futebol europeu hoje?Tivemos uma Eurocopa de alto nível. Além disso, a Liga dos Campeões é hoje o melhor torneio do mundo.E por que a Copa do Mundo sofre para apresentar ao público um bom futebol, como já ocorreu em 2006 e 2010?Existem vários fatores que pesam nisso. Um deles é a questão de que equipes com diferentes estilos estejam se enfrentando. Outro fator é de que a pressão é muito grande e ninguém quer perder. Isso tudo acaba afetando. Vamos ver o que virá em 2014.

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