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Zagallo nem sonha em deixar o futebol

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Por Agencia Estado
Atualização:

Para os que ainda não o engoliram, a notícia é ruim. Para os outros, que se renderam ao seu currículo vitorioso, é o que podia haver de melhor. Mário Jorge Lobo Zagallo, 72 anos, está mais ativo do que nunca, e quem pensa que seu cargo de coordenador-técnico é apenas um penduricalho no organograma da Seleção Brasileira está muito enganado. Zagallo continua falando muito e sendo muito ouvido por Parreira. "Assistimos juntos aos jogos dos adversários e trocamos idéias sobre a escalação do time", diz o coordenador da Seleção, ao definir parte de suas tarefas. Elas não param por aí. Zagallo está no banco de reservas em todos os jogos da Seleção e Parreira conversa com ele na hora de uma substituição: "Ele fala que está pensando em tirar alguém e colocar outro jogador e pergunta o que eu acho. Se não estou de acordo, digo com sinceridade, porque a pessoa leal não é aquela que concorda com tudo, mas aquela que diz a verdade." Nem precisa esperar por um pedido de Parreira para dar a sua opinião sobre o que está se passando em campo. Pode tomar a iniciativa de sugerir alterações: "Não tenha dúvida, posso falar antes de ele pedir. Mas normalmente a pergunta vem dele. Vemos jogos juntos, discutimos planos táticos e convocação de jogadores. Sugiro muito, mas a última palavra é dele." Há um limite claro na separação de funções: "Eu não entro em campo. Vocês nunca vão me ver lá, o Parreira é que cuida dos treinamentos, eu não me dirijo aos jogadores durante os treinos." Tamanha interação somente é possível graças à grande amizade que os une: "Não seria possível ter um trabalho assim com outro técnico. Nossa amizade é grande, está acima de tudo e vem de muito tempo." A amizade antiga foi um dos argumentos utilizados por Zagallo para convencer Parreira a voltar à Seleção, como treinador. "Quando o Felipão resolveu que não continuaria na Seleção, abriu-se uma possibilidade de volta para mim. O doutor Ricardo Teixeira me convidou para ser o coordenador-técnico. Conversei com ele e chegamos à conclusão que o ideal seria refazer a dupla que deu certo em 94, o Parreira como técnico e eu como coordenador. O doutor Ricardo disse que o Parreira estava irredutível e eu pedi para falar com ele." Calcanhar de Aquiles - Zagallo falou muito para convencer o amigo. Lembrou os Mundiais de 70 e 74, quando Parreira era preparador físico e Zagallo o treinador da Seleção. "Lembrei para ele quando fomos trabalhar no Kuwait em 1976, e ganhamos tudo por lá, e fui tentando convencê-lo até que consegui." Zagallo recorreu até a uma insuspeita veia de Parreira. "Mostrei para ele que se a gente ganhar o ?hexa? ele vai ser o único brasileiro bicampeão do mundo. O Felipão ganhou um título, o Feola um, o Aymoré Moreira ganhou outro e eu também ganhei um como treinador, além de dois como jogador e outro como coordenador-técnico. Isso aí não foi o motivo principal, foi só uma gotinha no copo, mas ajudou que ele aceitasse e repetisse a dupla de 94." Os olhos de Zagallo brilham quando fala do convite de Ricardo Teixeira para que voltasse à Seleção. "Agradeci a Deus. Adoro futebol, faz 53 anos que trabalho com futebol e a maior parte sempre foi com a Seleção. Trabalhei também em clubes, ganhei títulos, mas a maior parte da minha carreira sempre foi com a Seleção, com o verde-amarelo. Adoro a Seleção, tenho prazer e saúde e não vou parar. A aposentadoria não faz bem, pode ter certeza. Hoje em dia, estou melhor do que antes. Estou mais experiente, com uma memória boa e vendo melhor do que antes. Não vou parar nunca." Gostaria então de morrer em campo, dirigindo a Seleção? "De jeito nenhum. Vi a morte do camaronês Foe em campo e foi muito triste. Não me acrescentaria nada. É Deus quem decide, mas se pudesse escolher, queria ir apagando pouco a pouco, sem sentir dores."

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