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2010 fechou no vermelho

Por Marcos Caetano
Atualização:

O ano esportivo de 2010 chegou ao fim com um balanço que, em minha opinião, é indiscutivelmente negativo. A despeito de alguns bons acontecimentos, predominou na temporada um certo sabor de frustração no que diz respeito ao esporte. É claro que tivemos o que celebrar, como o ressurgimento da magia do Santos e o virtuosismo vertiginoso desse inesquecível Barça, um dos melhores times que eu já vi em ação. Mas, fazendo uma analogia futebolística, posso dizer que, apesar de alguns lances de beleza, o ano que chegou ao fim foi um jogo com caneladas demais para o meu gosto. Para cada jogada linda dentro das quatro linhas, ocorriam duas ou três engrossadas fora de campo. Se por um lado assistimos a uma Copa do Mundo lindamente organizada pelo caloroso povo da África do Sul, por outro o futebol exibido no evento foi burocrático e sem imaginação. A começar pela nossa seleção, que se rendeu aos caprichos de um comandante cheio de dogmas e com um discurso ultrapassado, que privilegiava a fidelidade canina e o trabalho sem brilho em lugar do verdadeiro mérito. A Copa do Mundo e 2010 entrou para a história do nosso futebol como aquela em que o técnico deixou em casa os dois melhores jogadores em atividade no país - Paulo Henrique Ganso e Neymar, ainda por cima acostumados a jogar juntos - para insistir em atletas sem brilho, apagados, como Kléberson e Grafite. Estava fácil. O pior é que o Mundial foi um dos mais vencíveis da história, com equipes bastante desequilibradas. Eu gostei da jovem Alemanha e me diverti com a inocência do carismático Maradona, mas, ao final, achei bom que a Espanha, que ao menos sabia tocar bem a bola, tenha vencido o catimbeiro time da Holanda. Enquanto isso, a nossa Copa de 2014 continua mais presente em manchetes negativas do que em realizações concretas. Debate ético. No ano que acabou, para cada conquista dos talentos individuais da natação - como o novo herói brasileiro, Cesar Cielo - e para cada triunfo coletivo do nosso vôlei, havia a sensação clara de que esses são fatos isolados, episódios de excelência em um país ainda muito longe do seu potencial esportivo nas modalidades extra-futebol. Um país que está na pedra lascada em esportes como ciclismo, esgrima, tiro, halterofilismo, saltos ornamentais, patinação, remo e canoagem, apenas para citar aqueles que concederão dezenas e dezenas de medalhas nos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016. Ainda por cima, o recente triunfo do nosso vôlei masculino veio embrulhado em um debate ético sobre a partida que perdemos de propósito para garantir uma caminhada mais fácil até a medalha de ouro. Já que falei em debate ético, preciso recordar que até mesmo a bela e merecida conquista do Campeonato Brasileiro de 2010 pelo Fluminense, o Fluminense do absolutamente ético técnico Muricy Ramalho, não ficou fora desse balanço anual que fechou no vermelho. Não por culpa do campeão, de seu treinador ou de seus jogadores, mas por conta de dois elementos tóxicos cada vez mais presentes no nosso futebol: arbitragens calamitosas e times que entregam jogos para prejudicar seus rivais históricos na disputa pelo título, como fez o Palmeiras diante do Flu, manchando assim sua brilhante história nos gramados. Aposta. Apesar disso, otimista incorrigível que sou, aposto em um 2011 com menos conversa sobre os bastidores dos esportes e mais comentários sobre os esportes em si. Mas, eu sei, haja otimismo.

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