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A Argentina ficou para trás

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Por Eduardo Maluf
Atualização:

A final da Copa América, em que o Brasil, mesmo com alguns reservas, venceu a Argentina, com suas principais estrelas, por 3 a 0, na Venezuela, não surpreendeu os argentinos. Eles acreditam que derrotas como a de domingo vão se repetir cada vez mais - e não apenas nos campos de futebol. Os brasileiros crescem, apesar de seus inúmeros problemas, e os argentinos estão parados no esporte, experimentando fase de turbulência, com investimentos modestos. O futebol - embora sem título mundial desde 1986 -, o basquete e o tênis, além do hóquei sobre grama e o remo, seguem em alta. Mas o apoio a modalidades que, em outras épocas, eram fortes, despenca. A realidade mostra que os argentinos não são mais adversários tão fortes para os brasileiros. E, em breve, deverão ser ultrapassados no quadro geral de medalhas dos Jogos Pan-Americanos. A crise econômica, que explodiu no ano 2000, reflete diretamente no esporte. E provoca lamúrias dos atletas. O boxe, por exemplo, viveu grandes momentos e teve nomes como Carlos Monzón. Hoje vive na penúria. E sem estrelas. Relatos, como os de Ezequiel Maderna, pugilista de 20 anos que participa dos Jogos Pan-Americanos do Rio, são muitos. "Antigamente a vida dos boxeadores era muito melhor, porque havia estrutura", contou. "Os pugilistas viajavam, faziam intercâmbio, aprendiam muito, mas hoje não é assim, não há mais dinheiro, não há mais incentivo", prosseguiu. "Infelizmente não temos experiência internacional, é difícil conseguirmos bons resultados." A remuneração como boxeador não é suficiente para que possa sobreviver. Maderna, por isso, trabalha também no comércio. No Rio, não tem expectativa de levar medalha para Buenos Aires. "Os problemas econômicos influenciaram demais a vida dos esportistas", lamentou. A Argentina tem história de sucesso nos Jogos Pan-Americanos. Na soma das medalhas das 14 edições anteriores do evento, aparece na quarta colocação, atrás apenas de Estados Unidos e Canadá - países mais ricos e desenvolvidos - e Cuba - potência esportiva. Ultimamente, porém, passou a cair. Em 1995, quando as coisas andavam bem na economia, os argentinos cumpriram bem seu papel nos Jogos de Mar del Plata e conquistaram 159 medalhas. Em 99, em Winnipeg, no Canadá, foram apenas 72. E, em Santo Domingo, na República Dominicana, o número foi reduzido para 63. A diferença em relação ao Brasil ainda é razoável. De acordo com dados do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), a Argentina soma 840 medalhas (247 de ouro) contra 766 (187 de ouro) do país-sede dos Jogos de 2007. Mas, se a tendência prosseguir, é possível, até, que em Guadalajara-2011, os dois estejam praticamente empatados. No Rio, o Brasil vai brigar com o Canadá pela terceira colocação. Os argentinos, por outro lado, esperam apenas um sétimo ou oitavo lugar. A vantagem brasileira neste Pan já é de mais de 30 medalhas. "Nossa situação no esporte não é ruim, mas poderia ser melhor se tivéssemos melhores condições financeiras para investir em equipamentos, estrutura", afirmou Mario Moccia, chefe da delegação, ao Estado. A natação, por exemplo, deu, até agora, só uma prata e um bronze. As perspectivas no atletismo não são nada boas. E os remadores, que conseguiram dois ouros, reclamam, apesar de ainda alcançarem bons resultados. "Temos boa comissão técnica, mas nenhum apoio dos dirigentes", lamentou Damián Ordás. "Fico cansada de falar dos problemas, não temos lugar ideal para nos prepararmos, mas sempre lutamos, nunca desistimos", acrescentou Lucía Palermo. Hernán Ferrari, secretário-geral do Comitê Olímpico Argentino, explicitou, à agência de notícias DPA, sua preocupação com a decadência de seu país. "A última vez que realmente houve investimentos no nosso esporte foi em 1995", disse. "Vínhamos brigando pelo quinto lugar com o México ultimamente, mas outros países, como Venezuela e Colômbia, se desenvolveram, e nós paramos", prosseguiu. "Atualmente recebemos US$ 30 milhões por ano para o esporte, o que é muito pouco, bem menos do que os brasileiros", enfatizou. Sebastián Fast, repórter argentino da agência de notícias DPA, põe, além das questões econômicas, a falta de organização como principal responsável pela fase ruim do esporte no país. "Tudo é feito de improviso, de última hora", comentou. "O esporte na Argentina caiu muito em geral, apesar de o basquete, o futebol e o tênis continuarem bem", opinou Miguel Tojo, técnico do time de futebol, que empatou com o Haiti ( 1 a 1) e perdeu para a Jamaica ( 2 a 0) nas duas primeiras rodadas. "Está faltando estrutura na base e a matéria-prima também decaiu", confidenciou.

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