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A aula de Nadine

Por Eduardo Maluf
Atualização:

Pensei, nesta semana, em abordar o pobre futebol do São Paulo nas últimas rodadas, apesar da vitória de anteontem e a falta de ousadia de Adilson Batista. Ou a mediocridade do atual time do Palmeiras, que corre, luta, se esforça, mas sofre para executar o detalhe mais importante do jogo: o gol (coitado do Felipão!). No fim, em vez de dar motivos para aumentar a irritação de são-paulinos e palmeirenses, mudei de ideia e resolvi escrever sobre algo mais agradável.Hoje uso este espaço para "homenagear" Nadine Schramm Câmara Bastos. O leitor sabe quem é? É dentista e tem 28 anos de idade. Formou-se na Universidade do Vale do Itajaí, de Santa Catarina, seu estado natal, e fez especialização em periodontia. É loira de olhos claros, bonita e adota tom sisudo enquanto trabalha.Você deve me perguntar: o que a jovem faz numa coluna esportiva? Além de dentista, Nadine é bandeirinha (ou assistente de arbitragem, como se convencionou dizer) desde 2007. E tem futuro promissor se mantiver os pés no chão e não se deixar levar por uma eventual fama repentina e passageira, que acabou em tão pouco tempo com a carreira de Ana Paula Oliveira. "A Ana Paula escolheu um foco diferente, eu quero ser reconhecida apenas pelo trabalho", garantiu-me, num intervalo de suas consultas. "Uns podem me achar bonita, outros não." Ah, ela alerta os jogadores: "Tenho namorado". Não vou aqui falar dela por causa de seus traços sutis. Mas pela aula do último domingo no jogão entre Bahia e Santos, em Pituaçu. A referência se estende aos bons juízes e auxiliares, que só aparecem nas TVs e nos jornais ou são comentados no rádio quando cometem erros. O atacante perde três oportunidades e faz um gol... Vira herói. O meia erra dez passes e dá um que resulta em gol... É gênio. O árbitro acerta 400 marcações e assinala um pênalti que não houve, num lance difícil... Torna-se "ladrão".Nadine praticamente só foi lembrada durante a transmissão do canal SporTV, que exibiu o confronto. Depois, voltou a ser anônima. Não tenho a ambição de mudar as coisas no futebol nem a pretensão de tentar "desfazer injustiças". Menos ainda de dizer que nossa arbitragem é excelente, porque não é, embora o público (e me incluo nele) cobre algo que o juiz nunca poderá dar sem câmeras, replays ou computadores: a perfeição. Quero apenas destacar sua atuação impecável e exemplar numa partida que lhe ocasionou enormes dificuldades. "Sem dúvida, foi o jogo mais difícil de que participei, mas mantive o foco e fiquei alheia ao barulho do estádio." É preciso ressaltar: o trabalho do juiz mineiro Ricardo Marques Ribeiro também foi bom.Para quem não teve a sorte de assistir ao emocionante embate, segue um resumo. O primeiro momento capital em que ela apareceu foi numa finalização de Júnior, do Bahia, para a rede, depois de rebote do goleiro santista Rafael. A distância era pequena, mas o atacante estava impedido. Ela levantou a bandeira sem vacilar, com correção, e não se intimidou com a forte pressão do estádio lotado - o Santos vencia por 1 a 0. Ainda no primeiro tempo, novo rebote de Rafael e gol de Júnior. Dessa vez, mesma linha do penúltimo jogador do Santos. A catarinense não hesitou e correu para o meio, apesar da rapidez do lance e da chiadeira da zaga paulista.No fim, o último grande teste. Bate-rebate depois de um escanteio, a bola sobrou para Alan Kardec marcar. Havia dois de seus companheiros em posição de impedimento. Nenhum deles, no entanto, teve influência na jogada. Kardec estava legal: 2 a 1 Santos e novo acerto de Nadine.Se houvesse se equivocado em uma dessas ocasiões ingratas, certamente não teria sido esquecida por Muricy, Neymar, Carlos Alberto, René Simões... Como teve desempenho irrepreensível, foi ignorada, a exemplo do que ocorre frequentemente com seus colegas. Como o bom futebol se deve também às boas arbitragens, não custa lembrar de vez em quando que os homens (e, cada vez mais, mulheres) do apito, mesmo muito criticados, ajudam a fazer o espetáculo.

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