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A bola da vez

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Por UGO GIORGETTI
Atualização:

Bola da vez" é um programa da ESPN que merece ser visto. Simples, consta de uma só e bastante longa entrevista com algum personagem do futebol, em especial treinadores e jogadores. Esse formato apresenta desafio complicado. O entrevistado tem de ser uma figura especial, não pode ser um chato. Tem de interessar pelos casos que conta, pela originalidade das opiniões, pelo bom humor, enfim precisa ser "alguém". O desafio é que um personagem desses tende a conquistar a todos, de forma que suas opiniões passam a não ser contestadas, dado o encanto e a verve como são transmitidas. É o caso de uma entrevista que está sendo muito falada, do jogador Daniel Alves. Ele preenche os requisitos do programa como poucos. É super bem humorado, super brasuca na sua irreverência e ousadia, super simpático, fala bem e tem uma aparência muito agradável. Fica difícil discordar dele, mas é preciso. Pelo menos eu preciso. A começar por quando afirma que Guardiola, o deus do momento entre os treinadores, estaria disposto a treinar o Brasil na Copa que passou e, com isso, o resultado teria sido outro, já que, na opinião de Daniel, todos eram grandes jogadores que jogavam em grandes clubes europeus. Primeiro, não acredito que Guardiola estivesse tão ansioso assim para dirigir o Brasil, pelo menos nunca declarou publicamente, como o próprio Daniel admite, e, segundo, o fato de jogar num grande time europeu não transforma ninguém automaticamente em "grande jogador". Nenhum time do mundo tem onze grandes jogadores. A seleção brasileira de 1958, que inventou o futebol arte, não tinha. A mitológica, a lendária, seleção de 1970 não tinha, a seleção de 82, que reinventou o futebol arte também não tinha. A seleção de 2014, muito menos. Mas, Daniel seguiu falando de Guardiola, o que jogou diretamente sobre Felipão a culpa pelos inesquecíveis 7 x 1. Sutilmente Daniel classificou Felipão como um profissional superado, preso a ideias antigas e, se outro fosse o treinador (Guardiola?) a coisa seria diferente, pois os jogadores eram todos "grandes". Não concordo em lançar a culpa do fracasso no técnico. Não admiro Felipão. Não admirava no Grêmio, não admirava no Palmeiras e não admirava em 2002. Mas fatos são fatos. Ele ganhou 2002 com métodos que eram exatamente os mesmos que empregava no Grêmio e no Palmeiras. Além disso, depois daquela Copa, não foi treinar algum time de província aqui no pobre Brasil, mas a seleção de Portugal, na Eurocopa, com ótimos resultados. Só que no time havia Figo e Cristiano Ronaldo, entre outros. O que me leva a crer que o que não havia em 2014 eram jogadores. Não havia, como em 2002, Rivaldo, Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Marcos, Roberto Carlos e o capitão Cafu, que, desculpe a indelicadeza da lembrança, jogava na mesma posição de Daniel Alves. Por fim Daniel faz um afago em Dunga. Diz que as coisas melhoraram com Dunga, "mas só um pouquinho". Melhoraram? Só para lembrar, Dunga não estava enfrentando a Alemanha, nem a Holanda, mas Colômbia e Paraguai. Na minha opinião, o vexame foi até maior. E com Dunga estavam os mesmos "grandes jogadores". Acho compreensível que Daniel Alves procure livrar a si e aos companheiros do vexame, jogando-o nas costas de outros. Infelizmente seus argumentos não são dos melhores. Tenta se salvar mostrando que atua na Euçropa, nesse lugar sagrado, diante dos quais os brasileiros apreenderam a se ajoelhar, e só este fato o absolve junto com os companheiros. O fato é que Daniel Alves é um personagem. Conquista as pessoas com a classe e a simpatia do grande embromador e transforma suas aparições em performances. Não perde a chance. Recentemente falou para o estádio inteiro, ainda no campo de jogo, o que lhe valeu uma renovação de contrato com o Barcelona que se arrastava penosamente. O homem é de se tirar o chapéu.

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