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A campanha e a Cidade

Vista Chinesa

Por Daniel Piza e daniel.piza@grupoestado.com.br
Atualização:

Ontem foi o dia das pratas, ambas merecedoras de muitos aplausos. A da seleção feminina de futebol é dolorosa porque o time de Marta e Cristiane fez bela campanha. Mas por isso mesmo não se pode falar dela que foi "a primeira das últimas", à maneira brasileira. Até porque ela não constrangeu o torcedor como a seleção masculina em 2006 e 2008. A medalha de Robert Scheidt e Bruno Prada na vela, além de ter significado uma superação em relação às fases anteriores, tem o valor de confirmar Scheidt como o maior vitorioso olímpico do Brasil. A sensação geral, porém, dificilmente é de satisfação. O Brasil tem apenas um ouro, duas pratas e cinco bronzes até o momento. As três equipes de vôlei - masculina, feminina e de praia - se tornaram focos da esperança nacional. Há outras possíveis, mas, como já foi dito, o Brasil está lutando para igualar o resultado da Olimpíada anterior. O raciocínio nunca deve ser esse; evoluir é preciso. E muitos esportes, como o tênis e o boxe, vivem de talentos espontâneos que, uma vez exauridos, não têm sucessores à altura. Política esportiva no Brasil - dependurada como é nas grandes estatais - ainda mal saiu do patriarcalismo. Ouvi gente buscando todo tipo de consolo. Foi lembrado que Argentina, Portugal ou Áustria estão piores no quadro de medalhas. Ok, agora dê uma olhada no tamanho da delegação deles e no da brasileira, "a maior de todos os tempos", "nunca antes neste país", etc. E para cima estão Zimbábue, Casaquistão e outras avantajadas nações. Pode-se então lembrar o óbvio: que isso é apenas esporte, que o mais importante é o Brasil ser um país melhor, mais rico e mais justo. Mas imagine se o Brasil fizesse excelente Olimpíada - o que não ouviríamos sobre o grande momento da nação! E tome campanha da Petrossal na TV. *** Converso com chineses que vivem em Pequim e temem pelo fim da Olimpíada. É que muita coisa voltará a ser como antes, como o trânsito, a presença de mendigos e contrabandistas, a dificuldade de relacionamento com turistas ou o acesso a jornais e sites estrangeiros. Mas muita coisa já foi incorporada, como a já duplicada rede de metrô, que os chineses prometem tornar maior do que a de Nova York, ou os marcos olímpicos criados por arquitetos internacionais. Pequim não se preparou apenas para se apresentar maquiada para os turistas na Olimpíada. Está determinada a se tornar uma cidade mais aberta e moderna, como se vê em regiões como o Business District e Sanlitun. A candidatura do Rio para sede em 2016, cuja campanha no sábado terá Pelé na Cidade Proibida, esbarra em alguns problemas, conforme pude apurar. Os dois maiores são a infra-estrutura e a segurança. Além disso, a concorrência é forte e inclui a cidade onde Barack Obama se fez, Chicago. Ou seja, o Rio não quer a Olimpíada como Pequim a quis: para se reinventar como cidade. E o Brasil precisaria investir pesado em centros de treinamento e formação para que, até lá, seja uma delegação realmente forte para que possa fazer bom papel como anfitrião. Duvide-o-dó.

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