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A cobertura esportiva e os 'donos dos esportes' em choque

Times, empresas e jornalistas discutem nos EUA quais os limites entre jornalismo no produto e o negócio

Por Tim Arango
Atualização:

Recentemente em Dallas, mais de uma hora antes do horário do jogo, Mark Cuban, o proprietário do time de basquete Dallas Mavericks, estava no vestiário exercitando-se em aparelhos, rodeado por vários jornalistas - com seus microfones posicionados e as cabeças reclinadas para trás para evitar serem atingidos pelas gotículas de suor que voavam. Um jornalista do The Dallas Morning News, que escreve um blog, perguntou a Cuban sobre o lesionado Dirk Nowitzki, referindo-se ao lateral como um "warrior"(guerreiro"por causa da disposição dele de jogar mesmo machucado. "Não o estamos vendendo para os Warriors (Golden State Warriors, time de basquete da NBA localizado em Oakland, Califórnia)", disse Cuban. "Os blogueiros talvez façam questão de dizer isso". O comentário foi um jogo de palavras, mas mostra como Cuban, ele próprio um blogueiro prolífico, sente-se em relação aos blogueiros que cobrem sua equipe. No mês passado, Cuban tentou proibir a entrada de blogueiros no vestiário do Mavericks, mas a NBA -a liga norte-americana de basquete) interveio, determinando que os blogueiros de organizações noticiosas credenciadas tinham direito ao acesso. Aí, Cuban resolveu permitir a entrada de qualquer blogueiro - "gente do Blogspot que vem postando há algumas semanas, garotos blogando para o site na Web da sua escola de segundo grau e também aqueles que trabalham para grandes empresas". A tensão gerado em relação aos blogs esportivos é um dos problemas que surgiram entre as franquias esportivas, ligas e jornalistas durante a era digital. A contenda aumentou ultimamente entre a imprensa e os esportes organizados sobre questões como de que forma os jornalistas cobrem as equipes, quem possui os direitos às fotografias, áudio e vídeo que os jornalistas fazem nos eventos esportivos e se alguém que escreve apenas blogs deve ter acesso ao vestiário. A explosão da nova mídia, especialmente em relação à receita decorrente de publicidade, transformou em competidores dois aliados tradicionais - a mídia noticiosa e os profissionais do esporte. No cerne da questão, que pessoas de ambos os lados descrevem alternadamente com uma disputa comercial e um luta pela Primeira Emenda, está uma pergunta simples - a quem pertence a cobertura esportiva? O problema se infiltrou fora do mundo dos esportes também. Na semana passada, a ABC News restringiu a duração dos clipes de vídeo de um debate entre candidatos à presidência, dizendo às outras redes que eles poderiam usar somente 30 segundos. Mas a questão da propriedade é compulsória no lucrativo negócio dos esportes. Um executivo do hóquei profissional disse que a situação é instável e que acredita que acabará tendo que ser resolvida pela Suprema Corte. Recentemente, a Liga de Beisebol emitiu novas regras limitando o uso pela imprensa de fotografias e clípes de áudio e vídeo. Muitas organizações e publicações como Hearst, Gannett e Sports Illustrated, se recusaram a seguir as novas normas. A Associated Press Sports Editors, um grupo de editores de jornais, concordou com normas menos restritivas, permitindo um número "razoável" de fotografias dossem publicadas online em vez de limitá-las a sete, por exemplo. Executivos da liga argumentam que o excesso de áudio e vídeo num site na Web de um jornal poderá infringir os direitos dos detentores dos direitos - as emissoras que pagam milhões de dólares para transmitir os jogos ao vivo. E as ligas e as equipes têm seus próprios sites na Web, mantendo contas noticiosas e filmes, que são um grande negócio. A Major League Baseball Advanced Media, um braço do beisebol na internet, gera uma receita calculada em US$ 400 milhões ao ano e está crescente a um ritmo de 30% ao ano. Executivos de bancos estimaram que o negócio vale de US$ 2 bilhões a US$ 3 bilhões. Executivos da área de esportes vêem a questão como puro negócio e rejeitam qualquer insinuação de que as restrições são uma afronta à livre imprensa. Frank Hawkins, vice-presidente sênior de negócios na NFL, a liga americana de futebol, que restringiu os clipes de áudio e vídeo que não sejam de um jogo a 45 segundos, disse que as ligas não estão controlando o que é dito na imprensa. "Não há restrição prévia", disse ele. "Não cassamos credenciais se não gostarmos de algo que alguém escreve". Hawkins também contesta um argumento freqüentemente apresentado por executivos da mídia de que o contribuinte que financia os estádios exige um interpretação ampla da Primeira Emenda no que diz respeito à cobertura de eventos esportivos. "A Primeira Emenda só se aplica ao governo", disse Hawkins. "Mesmo que o jogo seja disputado num estádio financiado pela população, trata-se de um evento privado". Mike Fannin, o presidente da Associated Press Sports Editores e editor-executivo de esportes e reportagens especiais do Kansas City Star, disse que a disputa é resultado a redefinição das organizações noticiosas tradicionais num ambiente tecnológico em mudança. "Há dez anos, os jornais não estavam no mundo do vídeo e do áudio", disse ele. "Estávamos no mundo da palavra impressa. As ligas não tinham um produto impresso. A visão deles é que nos entramos no mundo deles." Esse é um ponto sobre o qual ambos os lados concordam. "Sou totalmente a favor da venda de jornais e revistas", disse Bob DuPuy, o presidente da MLB. "O que eu não concordo é o fato de eles se diversificarem em outras empresas". Organizações noticiosas, como a Sports Illustrated e o The New York Times, escreveram cartas para Bud Selig, o encarregado pelo beisebol, protestando contra as novas normas. "A Sports Illustrated tem falado de beisebol, dentro e fora do campo, em palavras e fotos há mais de 50 anos", escreveu numa carta a Selig, Terry McDonell, editor do Sports Illustrated Group. "A Sports Illustrated não é dona da história dos esportes, mas a liga de beisebol também não é. Essa história pertence a todos que amam o esporte". A Liga de Beisebol concordou em um ponto chave: ela originalmente tentou restringir a sete o número de fotografias nas galerias online. Agora o texto permite um número "razoável" de fotografias, sendo que esse "razoável" ficou indefinido. "Estamos contentes que eles tenham cedido naquela que foi identificada como a questão mais importante e compreendido que as fotos online de beisebol não são importantes apenas para nossos leitores mas também para seus torcedores", disse George Freeman, vice-presidente e consultor geral-assistente do The New York Times Co. As organizações de mídia aceitaram as normas da NFL sob protesto, e Greg Aiello, porta-voz da NFL, disse que a liga já marcou reuniões com representantes da mídia para discutir os regulamentos para a próxima temporada. "Na nossa opinião, não é aceitável quaisquer restrições à forma como usamos nossa propriedade intelectual nas coberturas noticiosas", disse Phil Bronstein, repórter especial da Hearst. "Creio que se não concordamos sobre o que é o futuro do jornalismo, sabemos que o vídeo como parte de nossos sites na Web faz parte desse futuro".

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