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(Viramundo) Esportes daqui e dali

A culpa dos outros

Por Antero Greco
Atualização:

Um time do calibre do Corinthians cair fora na primeira fase do Estadual, e com uma rodada de antecedência, incomoda pra chuchu. Mais perturbador, no entanto, é ver alguns de seus personagens transferirem para terceiros a culpa pela decepção. No caso, o vilão foi o São Paulo, que perdeu para o Ituano por 1 a 0 no Morumbi. Romarinho claramente e Mano Menezes, de maneira dissimulada, empunharam a bandeira da falta de fair-play tricolor como base para a saída precoce da briga doméstica. Atitude pequena, tentativa de desviar o foco. Nesse tipo de raciocínio, quem entrengou foi o próprio Corinthians, ao falhar em diversos jogos, incluídos o clássico com o São Paulo (derrota por 3 a 2) e sobretudo o empate em Penápolis. Ora, não fez a parte que lhe cabe e joga sombras nos outros?A desclassificação corintiana não surpreende. O campeão mundial de 2012 sofre consequências da jornada memorável no Japão. Um grupo valente e no limite atingiu o auge naquele dezembro inesquecível, para em seguida entrar em declínio. Tite e diretoria demoraram a entender a necessidade de mudanças em 2013. A lentidão se estendeu à chegada de Mano Menezes, enquanto as decepções se acumulam.A questão central está na inércia que invadiu o Parque São Jorge após uma temporada dignificante como a de dois anos atrás. Compreensível respeitar e mostrar paciência com rapazes que conquistaram Libertadores e Mundial em curto espaço. Alegria demais, proporcionada por elenco aplicado, afinado e que seguia à risca a estratégia do treinador. Vários merecem bustos no clube pelos trabalhos prestados. Mas o torpor embaçou o senso crítico. Ainda no ritmo de festa, os corintianos paparam mais um Paulistão, com a impressão de que em 2013 continuariam a velejar de vento em popa. O primeiro alerta sério veio na Libertadores, com a queda diante do Boca. Erros de arbitragem à parte, a trupe já dava sinais de esgotamento. Tite apostou nos moços; afinal, tinham provado e comprovado a capacidade de reação.Com o mesmo pessoal encarou o Brasileiro - e aí o caldo desandou. Guerreiros de ontem se mostravam cansados, contidos, até desinteressados. O Corinthians marcou passo na Série A, empurrou o calendário com a barriga, rifou Tite e imaginou ressurgimento rápido com Mano Menezes, saído de passagem relâmpago pelo Fla.O retorno do técnico da reconstrução na Segundona de 2008 ofuscou os problemas, e dá-lhe a repetir-se o erro do marasmo. O Corinthians largou a temporada de 2014 praticamente com cast inalterado, como se o renascimento ocorresse por milagre, só com a troca de professor. Engano, como escancararam os maus resultados seguidos no Estadual - a série de derrotas e empates, somada a esquema tímido e indefinido, desembocou na eliminação. As poucas mexidas das últimas semanas vieram por trauma. A debandada atingiu Paulo André, Pato, Douglas e, com essas trocas, ficou a sensação de que o horizonte clareava. Outro vacilo. O Corinthians, guardadas as proporções, lembra o Milan de um tempo atrás, que venceu troféus de tudo quanto era qualidade e envelheceu. Ao se dar conta, comia poeira diante de rivais. Os reflexos desastrosos do abuso do sono esplêndido das glórias permanecem até agora.O Corinthians precisa de chacoalhão, de choque de realidade como aquele no vexame com o Tolima, em 2011. Está com casa linda, cheirando a tinta fresca, tem força econômica, público imenso e inegável boa vontade nos meios de comunicação, sempre de olho na audiência. Não pode curtir lassidão. Taí o desafio pra Mano Menezes, cujo prestígio também está em jogo. Não dá pra confiar numa equipe que, com a corda no pescoço, teve dificuldade diante do Penapolense (com o carinho que merece). O Corinthians de novo regalou a plateia com pouco futebol para tanta tradição. E insinuar entregada são-paulina fica feio. Se tivesse vencido, ainda estaria no páreo. Ah, isso é detalhe...

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