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A culpa dos souzas

Por Antero Greco
Atualização:

O futebol precisa de bodes expiatórios, como em tantas atividades na vida. As grandes derrotas esportivas exigem punições exemplares, alguém deve ser sacrificado para compensar a frustração coletiva. E é sempre mais fácil concentrar a culpa num indivíduo, para que se tenha a sensação de que houve justiça. É estranho, mas é assim.Alguns exemplos? Vamos lá. Barbosa carregou nos ombros, até a morte, a culpa pelo Maracanazo de 50. Toninho Cerezo foi marcado pelo passe errado que resultou no segundo gol de Paolo Rossi contra o Brasil em 82. Roberto Carlos recebeu execração pública porque ajeitou o meião no lance do gol de Henry, em 2006. Felipe Melo voltou para casa como o vilão do Mundial de 2010, pela expulsão contra a Holanda. Intolerância que vira cicatriz e faz estragos.O filme velho, que se repete a toda hora, entrou em cartaz de novo no Parque São Jorge. Torcedores do Corinthians elegeram Souza para canalizar a tristeza e a irritação por um ano especial que ameaça passar em branco, sem nenhum troféu. O centroavante reserva, que entra de vez em quando, virou alvo da amargura alvinegra. Como se fosse um judas a ser malhado em sábado de aleluia, grupo de justiceiros esteve a sua procura no treino de sexta-feira.Por precaução, faltou ao trabalho, e assim limitou o clamor popular a xingamentos, faixas e pedidos para que seja mandado embora. Como se sua saída venha a ter o dom de parar a queda do time no Brasileiro. O direito de protestar é legítimo, não fosse a dose de violência que carrega. Há quem acredite nesse tipo de comportamento, por entender que apenas assim as mudanças ocorrerão. Pena que muita vezes escolham alvos errados, ou mais fracos. A Fiel tão generosa mostrou que tritura ídolos - como já aconteceu com Rivellino e Edilson. O que não fará, então, com um Souza da vida?Souza jamais entrará para a galeria dos grandes do futebol, embora tenha sido artilheiro da Série A de 2006, com 17 gols pelo Goiás. É apenas mais um dos milhares de atletas esforçados, limitados, que vivem momentos de brilho, despertam atenção e depois caem na vala comum. Fazem o que podem, e em geral não é grande coisa. O futebol é feito mais de souzas do que pelés e ronaldos - assim foi, assim será. Senão, como ficariam em evidência os craques?Souza não tem culpa nenhuma da fase ruim do Corinthians. Aliás, não tem culpa alguma de ter desembarcado lá. Trata-se de um profissional que se sentiu atraído por uma proposta de trabalho tentadora. Se não correspondeu, é outra história. Errou quem o contratou e o manteve no elenco, quem paga salário supostamente alto - e a mim sinceramente não interessa quanto recebe. A cobrança, as críticas devem ser feitas para os donos da bola, para aqueles que indicam jogadores e lucram, para os que manipulam o sentimento do torcedor. Alguém se coçou e pediu explicações, no Corinthians mesmo, para apostas como Sebá e El Tanque, para ficar em casos nem tão antigos? O que dizer do Palmeiras, que já teve astros do quilate de Darinta, Bizu, Buião, Ricardo Boiadeiro, Carlos Castro... Você lembra de algum deles? Foram amaldiçoados por várias gerações, a maioria sumiu. Mas se safaram impunes os gênios que os trouxeram. Pior: sabe-se lá em que termos foram as negociações, quanto dindim dos clubes consumiram.Os souzas existirão sempre no futebol. A maioria dura pouco, apesar de todo dia brotarem outros e outros e outros. Não acabam nunca. Nesta etapa decisiva, fará melhor o corintiano se concentrar bons fluidos e torcer para que Ronaldo cumpra a promessa de comandar a reação até o título. E não custa nada fazer uma promessa pra São Jorge pedindo que o Fenômeno não se machuque mais uma vez. Quem é Martelotte? Como quem não quer nada, o interino ajeitou o Santos, que ressurgiu e já faz sombra a Cruzeiro, Flu e Corinthians. Se passar pelo São Paulo, outro que se aprumou com Carpegiani, será um tormento e fará o fim do campeonato ter grandes emoções. Tomara.

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