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A dignidade reencontrada

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Por Ugo Giorgetti
Atualização:

Não sei qual será o resultado de Palmeiras e São Paulo que jogam neste domingo. Não sei, e nem importa muito o resultado. Fico até satisfeito de escrever sem saber quem vai ganhar, se é que alguém vai ganhar. Pode-se esperar qualquer coisa dessas partidas. No entanto, este jogo de hoje se reveste de um clima diferente. Fazia tempo que eu não via um clássico ser lembrado durante toda a semana, comentado em todas as suas particularidades, com tanto espaço nos jornais. Nem o lamentável episódio no vestiário da Portuguesa tirou o foco do acontecimento principal da semana: o velho Choque-Rei, de Tomáz Mazzoni. E tudo isso por um jogo que a rigor não tem tanta importância assim. Não decide nada, nem sequer altera muito as posições dos times na tabela. Então, por que tanto barulho? A meu ver há uma explicação que me parece óbvia: o Palmeiras recuperou sua grandeza. Esse Palmeiras que aí está pode até perder - o São Paulo é uma equipe muito boa -, mas entra em campo hoje trazendo consigo, de novo, sua longa tradição: impondo respeito, muito respeito. E isso se deve inegavelmente à ação de Luiz Gonzaga Belluzzo na presidência do clube. Uma grandeza não perdida, mas negligenciada, se recupera aos poucos, com pequenos gestos, com providências administrativas, às vezes nem sequer notadas, mas que vão recompondo a noção de grandeza porque se repetem sempre na mesma direção. Mas, depois têm de vir as grandes providências, e essas todos conhecem. Começou pela vinda de Muricy Ramalho. Jorginho estava muito bem, era uma unanimidade, todo mundo gostava dele. Mas Muricy era mais que isso, era um símbolo. Sua presença era necessária, era fundamental para sinalizar a todos, adversários e imprensa, a que vinha o Palmeiras. O que pretendia, quanto pretendia. Seguiu-se a firmeza, sem fanfarronadas nem histerismos, na negociação altiva com a Traffic, que foi convencida a manter os melhores jogadores no time. Finalmente, a atitude nova do clube ao diretamente adquirir direitos de atletas como aconteceu com Pierre, e agora com Marcelo Ramos. O caso Marcelo Ramos me parece exemplar. Não é das estrelas, não é um dos jogadores badalados e sua transferência poderia ser tolerada. Mas não saiu, num sinal aos demais jogadores de que o clube está atento a todos, precisa de todos e, sobretudo, que tem comando. São mensagens emitidas pela diretoria do Palmeiras que de uma maneira ou de outra acabam por ser lidas corretamente por todos, e é por isso que o clube está mais do que nunca nos noticiários. Isso é sintomático, porque a imprensa só se ocupa do que é importante e de quem protagoniza os acontecimentos. Luiz Gonzaga Belluzzo sabe perfeitamente que um grande clube não pode ficar à margem das decisões maiores do futebol brasileiro. Provavelmente sabe que ganhar ou perder é do jogo, o que não se pode é perder humildemente, como se a derrota fosse algo normal. Para um clube como o Palmeiras a derrota nunca é normal. Pode acontecer, e se acontecer tem de ser com grandeza, e o adversário deve comemorar e muito. Por fim, a presença do professor Belluzzo vai além do Palmeiras e se incorpora ao pequeno panteão de dirigentes brasileiros especiais, diferenciados, acostumados a enfrentar as questões com racionalidade, e que deveriam ser regra, não exceções.

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