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‘A história do cavalo é na Hípica, no Jockey’, diz Rodrigo Pessoa

Campeão olímpico em 2004 critica a escolha de Deodoro para ser a sede do hipismo nos Jogos do Rio em 2016

Foto do author Marcio Dolzan
Por Marcio Dolzan
Atualização:

Ouro na Olimpíada de 2004 e duas vezes medalhista de bronze, o cavaleiro Rodrigo Pessoa está prestes a se tornar o brasileiro que mais disputou os Jogos Olímpicos. Em 2016, será sua sétima participação.

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Radicado na Bélgica, Pessoa esteve no Rio no início do mês para o lançamento da versão em português de sua biografia, Você será cavaleiro, meu filho – A Saga Pessoa. Horas antes de retornar para a Europa, ele conversou com o Estado na Sociedade Hípica Brasileira, localizada em frente à Lagoa Rodrigo de Freitas, na zona sul da cidade.

Com a mesma calma com que maneja os cavalos nos concursos de equitação, Rodrigo Pessoa falou sobre a ansiedade por competir no Rio. Mas, mesmo afirmando que o Complexo de Deodoro “será excelente”, criticou a escolha do lugar para sediar as provas de hipismo. “A história do cavalo no Rio de Janeiro é aqui na Hípica, é aqui no Jockey. Quando se fala de cavalo no Rio de Janeiro se fala daqui”, destacou. Pessoa também demonstrou preocupação com a falta de animais para os Jogos Olímpicos. “O que nos falta realmente são os fundos para poder adquirir alguns cavalos extras, para podermos ter várias possibilidades. Este ano de 2015 vai ser determinante.”

Em 2016 será sua sétima Olimpíada, um recorde nacional, e você disse que ela será especial. Por quê? A oportunidade de participar de uma Olimpíada no seu país é uma coisa única, uma emoção muito especial. Eu tenho que me preparar da melhor forma possível para ter um desempenho aqui de alta qualidade, brigar por medalha tanto na prova individual quanto na por equipe.

Rodrigo defende disputas na Hípica da Lagoa, no Rio Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO

Recentemente o Brasil ficou em quinto no Mundial de Hipismo, perdendo o bronze por diferença de décimos de segundo. Como você avalia o atual momento do País na modalidade?O resultado do Mundial, apesar de nos decepcionar por não termos ganhado uma medalha por equipe, passando muito perto, acho que foi um resultado muito bom. Ficamos atrás de grandíssimas equipes. Temos que continuar nessa direção, trabalhando. Temos o Pan ano que vem, que é mais uma competição para nos prepararmos.

O Pan vai valer mais pela busca de medalha ou como preparação para os Jogos Olímpicos? É um campeonato com uma qualidade técnica um pouquinho inferior, mas é sempre um bom termômetro. A equipe dos Estados Unidos é sempre forte – ganhou o último Pan, nós ficamos em segundo –, assim também como a do Canadá. São sempre as duas equipes que são nossas concorrentes principais no Pan.

O Brasil ganhou o ouro de hipismo no Pan do Rio, em 2007, com as provas no Complexo de Deodoro. Como será voltar a competir por lá? A infraestrutura no Pan foi boa, o local de competição foi bom, e muita coisa vai ser feita agora visando a Olimpíada. Acho que o calor do público será determinante, mas é claro que vai haver uma pressão muito grande e uma cobrança muito forte em cima da nossa equipe. Temos que tentar virar isso em incentivo, como uma forma de motivação.

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Você já disse que considera que Deodoro não é o local ideal para as provas de hipismo. Por quê? A história do cavalo no Rio de Janeiro é aqui na Hípica, é aqui no Jockey (Club Brasileiro). Quando se fala de cavalo no Rio de Janeiro se fala daqui, mas por diversos motivos o local escolhido foi lá em Deodoro. Talvez a Hípica não fosse um local perfeito para sediar a Olimpíada por ser muito pequena, mas o Jockey seria uma possibilidade. A gente gostaria tanto de participar por aqui, no meio dessa febre olímpica (a Lagoa Rodrigo de Freitas receberá provas de remo e canoagem), aos pés do Cristo Redentor. Seria muito bom, mas o local escolhido foi outro. Vai haver muita obra lá, o local de competição será excelente, sem nenhuma dúvida, mas pena que longe deste grande centro. Mas agora já está feito, a decisão já está tomada e espero que o público compareça em grande número.

O que os competidores de outros países têm falado sobre os Jogos de 2016?  A gente teve a sorte e a oportunidade de sediar aqui no Brasil vários eventos cinco estrelas – o Athina Onassis, sendo dois em São Paulo e quatro no Rio. Todos os colegas gostam de vir ao Brasil, ao Rio. Aqui tem um bom público, com fair play, que acolheu todo mundo de uma maneira muito desportiva. Acho que está todo mundo ansioso.

Você tem manifestado preocupação com os cavalos, dizendo que seria importante o Brasil ter uma equipe maior de animais para competição. Você considera que isso esteja muito distante de acontecer? O que nos falta realmente são os fundos para poder adquirir alguns cavalos extras, para podermos ter várias possibilidades, para dois, três ou quatro cavaleiros terem pelo menos uma boa montaria e uma reserva. Mas depende de um incentivo privado. Além disso, é preciso encontrar os cavalos, que também é uma tarefa bem complicada agora, porque está todo mundo no mesmo barco. Este ano de 2015 vai ser determinante nesse ponto de vista, mas vamos ver. Nunca vamos perder a esperança de que se possa realizar isso, com algum grupo privado que possa levantar fundos e adquirir animais, para no momento da inscrição e de viajar da Europa pra cá para a Olimpíada poder embarcar com quatro animais top em forma para termos um desempenho fantástico.

O ideal seria ter quantos? Quanto mais você tiver, melhor. Temos que preparar melhor o que a gente tem e tentar batalhar para termos algum a mais.

Qual o investimento? Depende, você pode estar no local certo e no dia certo e encontrar um cavalo por um bom preço. Hoje em dia, devido à demanda, inflacionou bastante o mercado. Os cavalos estão sendo vendidos por milhões na Europa. É uma situação difícil encontrar o dinheiro e depois encontrar o animal. 

O mercado se concentra na Europa?Sim, a criação toda é lá, as maiores competições são lá. Os americanos vão comprar lá.

Os Jogos Olímpicos vão ajudar a divulgar o hipismo no Brasil? Claro, a Olimpíada é um grande incentivador. A oportunidade de ter um campeonato desses, para todos os esportes, é um estímulo muito grande. Para o esporte nacional é um momento único ter uma Olimpíada no País, é algo que acontece uma vez, às vezes duas. Sem contar o legado de infraestrutura (esportiva) que irá deixar.

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Como é sua rotina como cavaleiro? Treino quatro ou cinco horas por dia, com três ou quatro cavalos. Depois tenho que estudar as programações, as diferentes competições, para levar os cavalos adequados para os concursos adequados – tem concurso dentro, tem concurso fora, tem concurso na grama, tem concurso na areia –, além da logística.

O livro que traz a biografia do ex-tenista Gustavo Kuerten é uma de suas aquisições antes do retorno para a Europa. O que te motivou a lê-lo? Ele foi muito importante para a história do esporte brasileiro. O que ele fez pelo Brasil com suas conquistas lá fora foi realmente sensacional, mas, além de ele se destacar como esportista, como pessoa ele também é muito especial, muito carismático. A gente conhece o Guga na quadra, vencendo, mas queremos conhecer também as dificuldades, tudo o que passou, a família, as lesões. A gente conhece o produto terminado, mas como se chegou a isso acho interessante. Leio muito biografia de esportistas para saber essas coisas.

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