17 de setembro de 2012 | 03h01
Repetência existe no futebol e vem na forma de Série B. Cair é um pavor que tira o sono de time decente, que causa calafrios em dirigentes zelosos. Exceto clubes com perfil e vocação adequados para a divisão de acesso, como eufemisticamente se chama a passagem pelo purgatório esportivo, os demais se incomodam com rebaixamento. A queda humilha quem tem amor-próprio.
A história mostra que o descenso vira lição inesquecível e encorajadora, desde que saiba aproveitá-la. O Corinthians campeão da América é prova disso. Caiu em 2007, mas depois ganhou Paulista e Copa do Brasil em 2009, Brasileiro em 2011 e a inédita Taça Libertadores em 2012. A história também pune os teimosos e zombeteiros, que encaram a experiência na Segundona como tropeço ocasional e irrepetível, e desdenham a possibilidade de encará-la de novo.
O Palmeiras encaixa-se nessa categoria. Dez anos atrás, viveu o vexame de ser escorraçado da elite, sem um esboço sequer de reação da diretoria. Na época era comandado por mago da administração que havia optado por elenco "bom e barato", virava as costas para a equipe e se preocupava com sede, com indicação de conselheiros vitalícios, com a unidade de sua turma, com a permanência no poder e sabe-se lá com que diabo mais!
O time foi promovido em 2003, voltou para o paraíso em 2004, mas de lá para cá não se livrou das sequelas daquele episódio. O complexo de inferioridade, plantado e regado com esmero pela visão arcaica de seus guias, se consolidou, rendeu, deu frutos - o mais recente pode ser o retorno para a Série B ao final da temporada. O título paulista de 2008 e o da recente Copa do Brasil foram acidentes de percurso, fenômenos passageiros, que iludiram os torcedores e só fizeram reforçar a mentalidade de gente que parou no tempo. E teve ainda assombração que voltou a dar as caras na Turiaçu! Incensado como guru!
O bando de rapazes esforçados (mas, na maioria, tecnicamente limitados) a correr sem rumo, ontem à tarde, no clássico com o Corinthians, é o retrato do Palmeiras, dentro e fora de campo. Um Palmeiras menor, amedrontado. Um Palmeiras sem ousadia, sem equilíbrio. Um Palmeiras espezinhado, maltratado - mais por quem aparentemente veste suas cores do que pelos rivais.
O gesto de Romarinho, ao festejar o primeiro gol com beijo no escudo corintiano e perto da torcida palestrina, não foi ofensivo, como equivocadamente entenderam Luan e companheiros. Aborrece, e não é de hoje, executivo assumir ar blasé diante de catástrofe iminente, fazer galhofa na hora da tensão para mostrar serenidade, apelar para ironia que não escamoteia a incompetência, demitir treinador para livrar a própria pele.
Luan não é o vilão da vez; é vítima do movimento interno para apequenar o Palmeiras. Luan é dos que mais suam a camisa, uma camisa que, em outras épocas, não vestiria. Discussão à parte sobre os amarelos (ambos exagerados) recebidos por ele, o destempero que mostrou nos 26 minutos em que ficou no gramado sintetizou o que passa na mente desse grupo: a perspectiva de cair o apavora.
O torcedor, porém, não deve ver os atletas como traidores. A traição maior comete quem desprezou a história e as lições de 2002/2003.
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