24 de outubro de 2010 | 00h00
Aí entra em cena a ironia. Para qualquer treinador, não é tarefa nem um pouco leve dirigir uma equipe com nervos em pandarecos e com torcedores no cangote dos jogadores. Pior ainda se paira no ar o medo de ver um ano especial como o do centenário passar apenas em branco em vez de alvinegro.
Panorama ruim? Sim, menos para o Tite, porque acabou de chegar. Como restam oito rodadas até o encerramento do campeonato, e como o Corinthians não depende agora só de seus resultados, o técnico vê diminuída a responsabilidade nesse bafafá. Não poderá ser cobrado por eventual fracasso, que se desenhou antes de sua contratação.
A barra pesada sobrou para Adilson Batista. O antecessor de Tite desembarcou de Belo Horizonte com o time quase a nadar de braçada. Estava na liderança, ajustado e se imaginava que o penta seria questão de tempo. Vieram os tropeços, a inevitável comparação com Mano Menezes, a queda para a terceira colocação. Só podia dar em demissão. Adilson foi embora com as orelhas a arder.
Não existe essa perspectiva tenebrosa para Tite. Pela lógica, não será tripudiado nem pela turma que frequenta treinos e gosta de dar preleção para atletas, sob olhar passivo de cartolas. (Se bem que nunca se sabe o que se passa na cabeça de certos torcedores.) Ao contrário, só tem a ganhar. Se a equipe reagir e faturar a taça, o que não é nada improvável, o recém-chegado treinador sairá na foto do título, vestirá a faixa, entrará para a história corintiana como o "mestre" campeão na passagem dos 100 anos.
Com isso, não estou a insinuar que Tite encarou o desafio por considerar pequena a chance de prejuízo pessoal. Ele conhece os riscos e não é novato no ramo. Nem me passa pela cabeça diminuir sua capacidade. Trata-se de constatação - por acaso boa pra ele e para o Corinthians. Por assumir com a alma leve, pode tornar mais fácil a tarefa de reação. Por não ser visto como o salvador da pátria, pode no fim das contas ser o salvador da pátria. Contraditório? Claro. Assim é o futebol. A hora é de Tite.
Para a maré ser favorável a Tite desde o começo, cairá bem uma vitória contra o Palmeiras logo mais no Pacaembu. E não vejo nenhum despautério nessa projeção, apesar de o time amargar jejum de sete jogos na arrancada final da Série A. Pesam em seu favor a presença de Ronaldo e o retorno de titulares como Alessandro, Jucilei e Bruno César. Falta Jorge Henrique para que o Corinthians se exibir com força total.
Outro detalhe animador é o retrospecto contra os grandes rivais paulistas na temporada: cinco vitórias (duas contra São Paulo e Santos, uma diante do Palmeiras), um empate com o Palmeiras e uma derrota para o Santos. Números encorajadores.
Só não vale abusar do otimismo. E não teve gente a enxergar em Ronaldo um carrasco para os palestrinos, porque fez três gols nos dérbis?! Em dois desses duelos, houve empate e no terceiro o Palmeiras ganhou por 3 a 0 - o Fenômeno saiu de campo machucado. Se Ronaldo não bateu o alviverde, quem é a vítima? Exagero tem hora.
Quer dizer que o Palmeiras é zebra no 335.º clássico com seu maior rival? Nem por sombra. Felipão e turma sustentam sequência de nove jogos de invencibilidade - entre Brasileiro e Sul-Americana - e vivem fase estável. Há baixas, mas o time recuperou a autoconfiança e Valdivia. "Dá pra ganhar fácil", inflama-se, aqui ao lado, o Nilson Pasquinelli, diagramador do Estadão que tem sangue verde. Menos, Nilsão! Olha o coração...
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