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A praga dos porcos

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Por Paulo Vinícius Coelho
Atualização:

Em 21 de março de 2002, um torcedor do Palmeiras mandou publicar uma foto de Alex, com a descrição do gol que havia marcado na véspera, contra o São Paulo. O outdoor terminava com a frase "Obrigado, Alex!" e foi instalado exatamente em frente ao Centro de Treinamento do Tricolor. Se o terceiro gol daquela vitória palmeirense por 4 x 2 foi incomum - três chapéus, o último em Rogério Ceni - o jogo também se tornou especial. Há nove anos representa a última vitória do Palmeiras sobre o São Paulo no Morumbi."Isso é praga de são-paulino", reagiu Alex, em conversa por telefone, ao ser lembrado da importância do lance e do longo tabu. Não é!O longo jejum de vitórias como visitante contra o rival histórico tem tudo a ver com o que aconteceu com o Palmeiras nos últimos dez anos. É praga de palmeirense.A sequência dos acontecimentos desta semana evidencia isso. O time viveu uma crise por semana, desde o início do campeonato. Entrou no Brasileirão com o rescaldo da eliminação do Paulistão pelo Corinthians e da goleada por 6 x 0 para o Coritiba. Quando as coisas pareciam mais calmas, o tsunami Kleber-Flamengo virou manchete. Passada a turbulência e com o ambiente suportando até a seca de vitórias, explode a crise entre o vice-presidente de futebol, Roberto Frizzo e o técnico Luiz Felipe Scolari. Frizzo garante que não telefonou a Carpegiani e este demonstra indignação com a hipótese de ter acertado as bases salariais para substituir Felipão: "Ele é meu amigo desde 1975", disse Carpegiani. O ponto alto da crise não foi esse, mas o empréstimo de Pierre ao Atlético-MG, negociação pedida pelo treinador que, no entanto, queria a contrapartida. Ou o centroavante Ricardo Bueno - que agora virá - ou R$ 250 mil para contratar outro jogador. Frizzo fechou o negócio sem atender nem uma nem outra exigência. Pierre recebeu R$ 100 mil de luvas e só: "O Atlético não pagou mais nada! Eu disse ao Frizzo: como é bom assim, quando os clubes negociam, sem nenhum intermediário", conta o presidente do Atlético-MG, Alexandre Kalil.O episódio dá noção de que Frizzo e Felipão são dois homens de bem à procura da mesma coisa: o sucesso do clube. E, como todos os homens de bem ou do mal que habitam o Palmeiras, não se entendem - a propósito, conversaram olhos nos olhos na quinta-feira à noite e estão mais perto desse entendimento.A falta de paz tem tudo a ver com os longos tabus palmeirenses, o de títulos, que dura 12 anos, com o hiato do Paulistão 2008, e o de vitórias como visitante no Morumbi. Não se trata só de montar times badalados. "No jogo do gol de placa, nosso time não era bom. Tinha o Daniel, improvisado na lateral-esquerda... Fomos para o estádio meio assustados", lembra Alex. "O Vanderlei Luxemburgo montou o time para o Magrão e o Claudecir, porque sabia que o São Paulo me marcaria individualmente. Magrão e Claudecir marcaram os dois primeiros gols", completa.Aquele time ganhou no Morumbi, mas também não vivia em paz. Oito meses depois, seria rebaixado no Brasileirão. O time de hoje, em guerra, está em sexto no lugar.O grande congresso. Muricy Ramalho disse no Bola da Vez, da ESPN, que gostaria de ver mais gente conversando sobre futebol no Brasil."O único debate que temos é o que o Parreira promove no fim do ano." A tendência é que isso mude. Até o final do ano, a CBF deve concluir o trabalho para promover congressos anuais a partir de 2012. Onde estamos e para onde vamos? Assim como a Espanha decidiu que sua seleção deveria seguir a filosofia tiki-taka e desde 2004 joga à base da posse de bola, o Brasil pode discutir por que não consegue mais criar armadores cerebrais e depende dos craques de potência e velocidade. Por que não chegou às semifinais da duas últimas Copas do Mundo. Em síntese, ter um projeto para o futebol brasileiro, que parece precisar mesmo.

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