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A seleção ainda comove o torcedor?

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Por Luiz Zanin
Atualização:

Francamente, não vi qualquer sinal de decepção entre os torcedores pela desclassificação da seleção brasileira da Copa América. Alguns, pelo contrário, se disseram contentes pelo fato de "seus" jogadores poderem voltar antes aos clubes, pois estão fazendo falta no Campeonato Brasileiro. Entre estes, os santistas eram os principais interessados, pois sentiam saudades de Elano, Ganso e Neymar. Mas os são-paulinos também festejavam a volta de Lucas para o Morumbi. Falta de patriotismo? Sei não, mas acho, no fundo, que ninguém estava ligando muito para esta Copa América. A não ser, claro, que fizéssemos a final contra a Argentina. Nesse caso, acredito, ninguém ficaria indiferente ao jogo, embora ache difícil que as comemorações fossem daquelas de parar a Avenida Paulista. A Copa América não empolga. Vale mesmo é a Copa do Mundo. E olhe lá. Digo isso porque muita gente boa (e muita gente de má-fé também) acredita que a Copa do Mundo, do jeito que a conhecemos, estaria com os anos contados. Alguns donos de poderosos clubes europeus, por exemplo, gostariam de vê-la substituída por um super torneio entre clubes. Afinal, raciocinam, são eles que pagam fortunas para reunir os melhores jogadores do mundo. Não veem sentido em cedê-los para seleções nacionais. Mas, convenhamos, seleções nacionais são ainda a última fronteira contra o poder absoluto da grana no mundo do futebol. A Argentina, por exemplo, pode estar em crise econômica permanente, e ter em sua seleção todos aqueles jogadores que atuam fora dos seus domínios. Inclusive Messi, que poderia ter optado pela Espanha, mas escolheu a Argentina natal para defender (estaria arrependido?)Outros argumentos supostamente mais refinados se valem do conceito de globalização para diagnosticar o enfraquecimento das seleções no imaginário do torcedor. Com a teórica debilitação das nações, a própria definição de seleção nacional teria se tornado um tanto obsoleta. As fronteiras se afrouxam, as mercadorias circulam, os trabalhadores viajam, etc. Tudo, neste maravilhoso presente depõe contra o nacionalismo - que estaria na base psicológica da devoção do torcedor à sua seleção. Essa indiferença em relação à Copa América poderia ser sintoma de tudo isso. Afinal, basta consultar a história e ver as reações fanáticas que despertavam os antigos Campeonatos Sul-Americanos, que estão na origem da atual Copa América. Tudo mudou. Mas mudou mesmo? Quem não conhece alguém que teve problemas ao passar por uma alfândega, em especial na Europa, em Londres ou Madri? A Itália também não tem se destacado pela delicadeza com que recebe imigrantes. E vai por aí. Além do mais, o termo globalização faz a gente imaginar um paraíso hipotético em que tudo - de mercadorias a seres humanos - circularia com liberdade pelo planeta. Nada mais fictício. Para ficar no futebol: eu vou acreditar em globalização da bola quando houver tantos jogadores sul-americanos atuando na Europa quanto europeus batendo sua bolinha aqui na América do Sul. Antes, não. Acho, pelo contrário, que foi essa pseudo globalização que tirou muito do interesse do torcedor pela seleção. Afinal, como se identificar com times formados por jogadores que não nos dizem muito respeito? Até que a seleção de Mano tem em seus quadros alguns "brasileiros". Mas o número deles é insuficiente para inspirar o torcedor comum. E, afinal, como levar a sério um torneio como a Copa América se ele sequer interrompe a realização do Campeonato Brasileiro? No domingo, por exemplo, enquanto a seleção dava vexame com os quatro pênaltis perdidos (deve entrar no Guiness), o São Paulo jogava contra o Internacional em Porto Alegre. Assim não dá.

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