
14 de junho de 2015 | 02h02
Este jornal, na edição do dia 11, publicou um quadro com a situação de cada país na competição que começa. Uma das informações era quanto ao craque de cada time, quem era o craque e onde jogava. Pois bem, nenhum dos que foram classificados como craque do time joga em seu país de origem.
Li com atenção todo o quadro procurando em vão nas equipes tradicionalmente mais fracas alguém que pudesse estar jogando no seu país, ou por perto. Vi minhas esperanças diminuírem até que se resumiram na Venezuela, país de pouquíssima tradição futebolística. E, mesmo lá, seu craque joga no Zenit, da Russia!
Que Copa é essa que vai acontecer neste continente devastado? Que significa ainda chamá-la de Copa América? Essa competição é apenas uma sub competição europeia, vista certamente com algum desprezo e sarcasmo pelos poderosos clubes de fora que cedem seus jogadores para que eles finjam um nacionalismo que, de resto, nunca existiu.
Passamos o tempo todo nos perguntando o que aconteceu. Como é possível que o Mercosul original, esse grupo de nações que se uniram como bloco para enfrentar o desafio da globalização, seja exatamente o que fornece o trio central de uma única equipe europeia? Se, voltando ao início, o futebol pode ser mesmo uma pista para se entender países e sua verdadeira situação, o Mercosul, por exemplo, beira o ridículo. De fato, Brasil, Argentina e Uruguai, o núcleo fundador do Mercosul, fornecem, apenas ao Barcelona seus três melhores, e, talvez, únicos craques. Neymar, Messi e Suárez deveriam voltar para defender seus países na Copa América quase como um concessão que os europeus nos fazem.
Depois das festividades e das comemorações pela verdadeira Copa que acabaram de ganhar, os craques vêm se curar da ressaca na Copa América e, acredito, com o ânimo correspondente. Essa competição não tem nenhuma importância internacional.
Tudo é política no mundo. Tudo é ferramenta política. A Espanha compreendeu perfeitamente isso. País que desfruta de uma posição não de extraordinária relevância no coração da Europa - não faz parte, por exemplo, do G7, grupo das sete nações mais industrializadas do mundo - viu no futebol uma maneira de aumentar seu prestígio entre as nações. Barcelona e Real Madrid fazem parte de um projeto político. Só ingênuos ainda acham que são dois clubes de futebol. Não são. Verdadeiras seleções, é o que são, destinadas a afirmar a Espanha enquanto nação. São mais fortes e representativos do que a própria seleção espanhola. É um plano que se desenvolve há muitos anos, cuidadosamente. E deu certo. Pelas ruas de São Paulo vejo crianças, e não tão crianças, desfilando orgulhosamente com suas camisas do Barcelona e Real Madrid, isto é, da Espanha. Política de relações exteriores também é isso. Nossas autoridades nada percebem aqui no Brasil. Continuamos a tratar o futebol como um fenômeno isolado que não tem nada a ver com a política nacional. Falo da grande política, não da politicalha, bem entendido. Um dia, ao abrir os olhos, percebemos que perdemos nossa única manifestação de poderio no mundo. Os 7 a 1 da última Copa vieram enterrar esse poderio, não sei se para sempre. A verdadeira tragédia é que não há sinal de mudança de atitude. O alheamento quanto ao destino da seleção começa nas categorias de base. Nesse time que disputa o Mundial Sub 20, existem muitos jogadores que já atuam fora do Brasil. Não por acaso, os melhores. Mas é como se isso não dissesse respeito aos poderes públicos e o futebol brasileiro fosse uma terra de ninguém.
Pobre América Latina.
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