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A técnica do gol

Boleiros

Por Daniel Piza e daniel.piza@grupoestado.com.br
Atualização:

Fred voltou da França e marcou dois gols na estreia pelo Fluminense. Washington, que já fez 11 gols em 13 jogos pelo São Paulo, marcou um bonito contra o Marília, antecipando o toque para desviar do goleiro. Keirrison fez o 14º gol em 13 jogos pelo Palmeiras, que ganhou muito com sua mobilidade e pontaria. No Milan em má fase, Pato vive grande momento e fez mais dois, um deles com um chute de meia distância. Como se vê, centroavantes estão em alta de novo, e os técnicos e as torcidas agradecem. Ou melhor, o futebol agradece. Sempre me diverti com os comentários do tipo "ele é apenas um finalizador", como se finalizar fosse fácil, fosse para qualquer um, e como se o ludopédio não fosse feito de gols, de resultado, daquilo que alguns chamam de "detalhe" e outros de "mero avanço numérico"... E os grandes atacantes sempre foram grandes jogadores, ou seja, com visão de jogo, habilidade, pensamento rápido - tudo que jogadores de qualquer posição devem ter. Com camisa 9 ou 10, nunca perderam o tesão de balançar a rede. Por falar nisso, dois gols relevantes da rodada não foram de homens de área: o de Hernanes, numa legítima folha seca, e o de Neymar, promissor talento santista. Ronaldo é um dos mais extraordinários atacantes da história. Curiosamente, precisou voltar ao Brasil para deixar de ser tão maldito em seu próprio país - digo, pela opinião "especializada", não pela torcida em geral, que sempre foi grata a seus gols e títulos. Escrevi sobre ele na semana passada, mas problemas de transmissão impediram que o texto chegasse na íntegra (está no meu blog: http://blog.estadao.com.br/blog/piza). Contei como foi a notícia de sua façanha contra o Palmeiras lá no Alto Purus, num barco, por telefone satelital. "Tem coisas que só ele faz" - eis o tom da reação. Daí a dizer, porém, que o Corinthians sentiu sua falta contra o Santo André, falta consistência. Não é de hoje que o Corinthians sente falta não especificamente de Ronaldo, mas de um artilheiro. (Além disso, o gol anulado de Dentinho foi legalíssimo, pois ele não tinha como tirar a mão da trajetória da bola.) Eu que tantas vezes defendi Ronaldo me sinto à vontade para reclamar desse excesso midiático em torno dele, desse "Big Brother" de todos seus movimentos dentro e fora de campo, dessa exaltação global. O que ele mais precisa é fazer uma temporada cheia, como não faz desde 2005, e nesse sentido Mano está certíssimo em preservá-lo de algumas partidas. Mas a pergunta que não quer calar é: por que comentaristas o subestima(ra)m tanto? A resposta é clara: porque têm um conceito limitado do que é a técnica em futebol. Acham que ela é apenas malabarismo, os efeitos vistosos de um Robinho ou (lembra dele?) Ronaldinho Gaúcho. Não, o futebol é mais que isso; envolve percepção de tempo, passe, chute, domínio. Há pouco tempo o jornal Lance publicou uma foto de Ronaldo treinando finalização e, em segundo plano, jogadores como Douglas boquiabertos com o que viam. A maneira de bater na bola, e com os dois pés; o repertório de dribles, incluindo a pedalada e o elástico; o posicionamento e a frieza - Ronaldo tem tudo, exceto a excelência no cabeceio, embora tenha melhorado neste fundamento. Armando Nogueira se queixou de que ele é "objetivo demais"; Paulo Vinícius Coelho o acusou de não ter "refinamento técnico"; o mesmo Lance disse que Keirrison tem igual habilidade. Quase todos disseram que ele era um ex-jogador, celebridade em vez de atleta, "fenômeno de marketing", que não voltaria de novo - e ele voltou. O talento ri por último e melhor.

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