Publicidade

''A torcida do Corinthians é a melhor do mundo para o jogador''

Ronaldo: atacante do Corinthians; craque diz estar adorando a vida em São Paulo e no novo clube e estabelece como meta fazer 30 gols na temporada

PUBLICIDADE

Por Daniel Piza
Atualização:

"Estou adorando." Ronaldo repetiu a frase algumas vezes, durante a entrevista concedida anteontem à noite no hotel onde o Corinthians se concentrou, em São Paulo. Nem precisava. Sorridente, bem mais magro do que há seis meses, muito entrosado com o grupo, ele está visivelmente satisfeito com a decisão que tomou de voltar ao Brasil e ao time de uma torcida que o emociona pelo apoio incessante aos jogadores. Mas mantém a cautela: diz ter 80% da forma ideal, precisando perder mais três quilos e recuperar os arranques, que tem certeza de que estão voltando. Já morando num pequeno apartamento seu com a mulher, Bia, e a filha de três meses, Maria Sofia, Ronaldo deve se mudar em breve para o apartamento maior que comprou, com vista para o Pacaembu. Apesar do assédio, "muito, muito grande", e do trânsito, que "enrola até o GPS", ele elogia a cidade e diz que está concentrado no futebol. Seu objetivo é fazer uma temporada inteira, de mais de 30 jogos, e também chegar aos 30 gols. Para isso, dá um recado aos colegas de equipe: lançar em profundidade. Ele está decidido a continuar "adorando". Quatro meses depois de ter assinado com o Corinthians, o que você acha da decisão tomada? Tudo indica que fiz a melhor coisa. Estou feliz de ter tomado essa decisão, de encarar esse desafio, porque todo mundo desacreditava, todo mundo achava que era uma grande ação de marketing e que, no final, eu não jogaria futebol. Não adiantava ficar respondendo a esse tipo de comentário, porque a melhor resposta que o jogador pode dar é dentro de campo. Quando ele faz a parte dele, aí todo mundo cala a boca, engole tudo aquilo que falou. Ou bota na boca dos outros como se não tivesse falado nada. O primeiro balanço é muito positivo. Achava que fosse estar assim? A evolução aparece a cada semana, com os treinamentos, com os jogos, o próprio jogo serve para melhorar a movimentação, a mobilidade. Você estreou antes por causa das polêmicas? Não, não teve nada disso, não. A gente precisava tomar uma decisão de qual seria o melhor momento. Especulava-se muito sobre organizar uma estreia maravilhosa, com grande apresentação. Da maneira que foi, foi perfeito. Foi tranquilo, não teve influência nenhuma das polêmicas. Eu já estava querendo estrear, até para ver. Já tinha feito três coletivos com os juniores, mas precisava ter noção no jogo profissional. Foi boa essa parada contra o Santo André? Foi. A gente tem de tomar cuidado nesse início, planejar os jogos em que vou atuar. Tive contusões importantes e ainda não estou 100%. Está quanto agora? Acho que 80%. Falta perder esses três quilos que estão incomodando ainda. Perder os primeiros oito é mais fácil, depois perder três fica mais difícil. Se o Corinthians passar para o quadrangular final, vai jogar todos? Aí vai ser um jogo por semana. Esse é o ideal. O pico máximo de cansaço depois do jogo vem dois dias depois, não no dia seguinte. A gente faz um teste, CPK, eles abreviam também para CK, que diz o quanto cansado você está. Se o CK dá 800, 1.000, o risco de lesão é maior, as fibras musculares não se reagruparam. A última temporada que você jogou praticamente inteira foi em 2005, no Real Madrid. Em 2006 ficou parado antes da Copa, em 2007 ficou quatro meses, em 2008 teve a lesão no patelar. É, mas agora espero que vá dar tudo certo. Tem que ter cuidado. Nunca vi você pular no alambrado para comemorar gol. Era o aviãozinho, o dedinho. É, nem na Copa de 2002 fiz isso... Mas foi tanta emoção ali na hora, um clássico contra o Palmeiras, fazer um gol no último minuto depois de um ano sem jogar. Minha reação foi a de ir para a galera, pular no meio deles. Você sempre falou da torcida do Corinthians. E agora o que acha? Ainda melhor do que eu imaginava. Sou torcedor do Flamengo, sei que a torcida vaia com 10 minutos de jogo, pede nome de outro jogador. A do Corinthians, para o jogador, é a melhor coisa do mundo. O time pode estar perdendo por um, dois gols, e eles estão ali, aumentam ainda mais o ritmo. Foi assim contra o São Caetano? Foi. Eles aumentaram, debaixo de chuva, cantando como loucos mesmo. Até o fim! Sei que eles são exigentes, que num passado recente até entraram na sede, para cobrar jogador e diretoria, o que também acho um pouco demais. Mas no campo a torcida é incrível, apoia o tempo todo. Eles são perfeitos. E a garotada? O Dentinho chorando depois do seu gol... É, é muito legal. É um time humilde, bem jovem, muitos me viram quando tinham 10, 12 anos. É só alegria o dia todo, brincando, sacaneando. Mas também falamos sério, passo minha experiência para eles, muitos pedem a opinião. Por exemplo? Ah, opinião de tudo, de comportamento, de relação com a imprensa... E de bola, claro, o dia todo. Eu até estava falando com o Mano outro dia, porque eles me viram jogar mas não sabem o que é jogar comigo em campo. Dou muita opção para receber atrás dos zagueiros, em profundidade. Também dou opção, claro, para a tabelinha. Mas às vezes o meio-campo, quem está com a bola, pega e olha para o lado sem olhar para o ataque. Se olha para o atacante e vê o zagueiro distraído, mete para o ataque. Não precisa ser sempre a jogada trabalhada, o toque de lado. Olhar sempre para o atacante é o que falo para eles. Não é curioso que depois de voltar para o Brasil muitas pessoas passaram a reconhecer seu papel na história? É, por isso também foi bom ter voltado. Fiquei muito tempo fora. Me viram apenas na seleção ou de vez em quando nos campeonatos europeus. Agora vão acompanhar de perto. É diferente para mim, mas estou adorando. É meu povo, meu País. E estamos pegando os indecisos, quem não tinha time agora começa a torcer pelo Corinthians (risos)... Até pessoas que não acompanham futebol. Teria voltado antes? Não, foi na hora certa. O assédio está muito grande? Muito, muito. Até a Bia, minha mulher, que é sempre low profile, é reconhecida em todos os lugares em São Paulo. Fui para Maresias, na casa do Luisão, a praia estava vazia. Do nada, apareceram dez pessoas com câmeras e tudo. Por que escolheu morar em Higienópolis? Já sabe o caminho para o Corinthians? É um bairro tranquilo, familiar, e o caminho para a marginal (Tietê) é fácil. Já sei ir sozinho, sim, mas quando tento desviar do trânsito não consigo. Até o GPS se enrola. Como se divertir sem afetar a forma e sem cair o mundo em cima? É, parece que jogador não pode se divertir. Aproveitar o dia de folga não tira a forma. No Brasil parece que todo mundo é santo... Se você não quisesse mais jogar bola de forma competitiva, teria ido ganhar dinheiro em algum país distante, ou nos EUA. Por que tantas pessoas não viram isso? Acho que porque sempre tem a dúvida, tem pessoas que ficam julgando. Era óbvio. Não tinha outra razão para voltar a jogar a não ser meu amor pelo futebol. Sempre quis voltar a disputar títulos, fazer gols importantes, decidir campeonatos. Isso que dá emoção. Tenho 32 anos e me sinto novo. Seu arranque vai voltar? Volta, volta, sim. O que é preciso é ter resistência, é fazer esse arranque voltar mais vezes, muito mais vezes do que estou fazendo. A habilidade, lógico que existe. Uso os recursos que tenho, buscando sempre o gol. Tem o passe, a colocação; tudo isso é técnica. Uma vez no Real Madrid você decidiu voltar para ajudar a defesa e teve um estiramento muscular. Isso pode acontecer? Como evitar? O problema é desperdiçar um pique que deveria ser para a frente (risos)... O corpo manda avisos constantemente. De cansaço, ou até de confiança. Quando você é jovem, não entende esses avisos. Qual seria a temporada 2009 ideal ou perto do ideal para você? O ideal seria jogar uma por semana, 30 partidas ou mais. E gols? Por aí também, 30. Vamos ver, não é tão fácil quanto as pessoas dizem, mas vamos fazer o máximo possível. Trinta é um número bom, eu gosto, pode ser uma boa meta. Já contando com os dois, hein? (risos) Tem acompanhado o Santos? Tenho. O Neymar é muito bom, tranqüilo, leve. Tem de se cercar de gente competente para se focar só no futebol. Tem muita gente querendo se aproveitar, oferecendo mundos e fundos. Independentemente de quanto ganhar, ele tem que se concentrar em melhorar, em aprender. É bom ver tantos artilheiros? É bom para o futebol brasileiro. Isso traz as pessoas de volta aos estádios. Traz competição maior entre os clubes, e até entre os artilheiros. Jogar aqui é muito diferente de jogar na Europa, aqui os zagueiros não são tão bons? É diferente, não tem como dizer que é mais fácil ou mais difícil. Na Europa você encontra todos os jogadores em 20, 30 metros. Aqui é mais afastado, o time marca em 40, 50 metros. Há muito mais espaço, não é aquela marcação por pressão, compacta. Então é bom para você? Não, ali onde eu fico o jogo já é fechado de novo, colado. No meio-campo tem mais espaço. O time do Corinthians às vezes parece não ter muita experiência, não ter ainda muita consistência. Mas é um time jovem, a gente não perdeu, é a defesa menos vazada. Não é perfeito, mas vai lutar para disputar títulos. O time já sofreu o que tinha que sofrer no ano passado. Pensa em jogar Libertadores, em seleção? Penso, mas penso mais no momento, no agora. Vamos pensar primeiro neste ano. Aguenta os 90 minutos hoje? Acho que não, se for um ritmo muito intenso. Penso em dosar, mas depende da necessidade do jogo. CAUTELA - Ronaldo admite que ainda precisa perder três quilos, diz estar impressionado com o assédio e o trânsito em São Paulo e garante não pensar em seleção, por enquanto. ?Vamos pensar primeiro neste ano?

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.