EXCLUSIVO PARA ASSINANTES

Acaba o Pan. Graças a Deus

PUBLICIDADE

Por Ugo Giorgetti
Atualização:

Com a graça de Deus acabam hoje os Jogos Pan-Americanos. Vou poder voltar em paz ao meu futebolzinho, pobre, mal jogado, cheio de jogadores médios e medianos. Mas ainda assim, pra mim pelo menos, muito mais interessante do que qualquer competição de atletismo, natação, saltos ornamentais, etc, etc. Passei as últimas semanas bombardeado por fotos e imagens de pessoas saltando, apoiadas numa vara, tentando desesperadamente passar por cima de uma barra transversal a não sei quantos metros do chão. Tomei conhecimento de esportes inacreditáveis, que jamais julguei pudessem existir e, principalmente, chamar a atenção de alguém. Nem tento saber o que seria softbol, por exemplo, com medo de que a explicação possa comprometer o que ainda me resta de sensibilidade e razão. Vi que um passatempo que pensava extinto, e que só aparece em alguns filmes americanos para simbolizar o tédio de casais em crise, o boliche, virou um esporte incluído no Pan. Ouvi locutores se esgoelando, acompanhados dos inexoráveis fundos musicais para comemorar vitórias do Brasil, emocionados porque no quadro de medalhas o País se aproximava cada vez mais de uma ilha cuja população talvez seja menor do que a cidade de São Paulo. Enfim, como dizem os politicamente corretos, nada contra todos esses esportes e modalidades. Nada contra também quem torce por eles. No fundo acho uma injustiça falar essas coisas desses esportes que nunca têm visibilidade, que são sempre ofuscados pelo futebol, com atletas que fazem toda a espécie de sacrifícios para competir. Sim, concordo, é uma injustiça. Mas o que posso fazer? Só gosto de futebol. Aliás, as semanas que passaram, me mostraram com toda a clareza o que é ser minoria, porque o futebol foi abandonado. Queria saber o resultado de alguns jogos. Não conseguia saber, porque estavam transmitindo alguma prova do Pan. Queria ver os melhores lances de uma partida. Tinha antes que aturar todas as mais recentes informações do Pan, incluindo manifestações enlouquecidas de fãs, parentes e lágrimas em profusão. E o futebol, o Campeonato Brasileiro? Nada. Tinha de procurar trabalhosamente, mudar canais, perseguir horários, para uma mísera notícia. Algumas transmissões de jogos foram intercaladas com imagens de competições do Pan, sendo que um jogo, não me lembro qual, teve sua transmissão interrompida para que se assistisse a uma entrega de medalhas! Até meus amados teipes das partidas, que aprecio mais do que as partidas ao vivo, escassearam, quando passavam. Ao término da épica vitória do Palmeiras na última quarta feira contra o Vasco, esperei com inegável ansiedade pelo teipe da partida. Não é comum nos últimos tempos alguém esperar ansiosamente para ver uma partida do Palmeiras. E justamente essa, diferente e especial, não consegui ver. Em lugar desse jogo havia saltos, corridas, braçadas, cortadas, golpes de caratê e judô. Talvez até tenham se lembrado do futebol e a partida tenha passado aí pelas quatro da manhã aproximadamente. Tenho certeza de que outros apreciadores de futebol tiveram o mesmo problema. Por isso, neste momento de suprema alegria pelo fim do Pan, convido todos os boleiros a esquecerem as agruras e o difícil período que atravessamos. Agora que voltamos a ser maioria, podemos retornar serenamente para nossos amados, péssimos jogos de futebol.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.