Dorival dificilmente muda o semblante quando conta detalhes da história do Santos que comanda há três meses e que se prepara para seu primeiro teste de fogo, contra o São Paulo, na semifinal do Paulista. Não entra na badalação de que a equipe é alvo por jogar bem e bonito. Sabe que o torcedor, do Santos e dos outros times também, exceto o do Morumbi, já lhe entregou a taça mesmo sem ter jogado as partidas decisivas. Sua obrigação é manter os pés de todos no chão até que o troféu seja mesmo ganho nos quatro jogos que ainda restam para a equipe, se ela chegar à final. O treinador, que começou a carreira no Figueirense e completará 48 anos no dia 25, recebeu o Estado no CT Rei Pelé. Vai mesmo pôr apenas um volante contra o São Paulo?Para eu me defender como profissional, poderia resguardar o Santos, porque jogamos por dois empates. Seria o mais lógico. Mas ainda não sei se vou fazer isso. Não decidi se vou com um ou mais volantes. Quero ver a escalação do Ricardo (técnico do São Paulo).Quando assumiu o time, chegou a pensar que ele poderia render tanto tão rapidamente?Eu tinha a noção de um Santos com necessidades no elenco. Foi um time que não deu certo no Brasileiro de 2009 e que não teve aceitação boa. A maioria dos atletas era contestada e havia muita gente duvidando da capacidade de um ou outro. Mas logo no início deu para perceber que o grupo tinha potencial. Já no primeiro treino, eu chamei os jogadores e mostrei a eles o que tinha visto em 40 minutos de trabalho. E aí eles foram readquirindo confiança. O resto foi ocorrendo naturalmente, sem queimar etapas. Não acho possível queimar etapas no futebol. A equipe então conseguiu se achar e ter confiança nas disputas.Mas esse time não caiu pronto na sua mão.Não. Sou acostumado a montar equipes. É assim desde o Figueirense (2003). Mas no Santos foi diferente. Encontrei um elenco que ficou de um ano para o outro, com algumas baixas apenas. Sabia que precisava de reforços. Pedi três zagueiros, dois laterais, mais um volante e um atacante. E outro meia, o Marquinhos. Também não queria a troca do Rodrigo Souto pelo Arouca, mas ela já estava encaminhada. E Fiz questão de que o Wesley voltasse ao clube. E o Santos foi ganhando cara...Mas não esperava que chegássemos a um amadurecimento tão rápido. Vi no primeiro treino que o time tinha qualidade. E admito que montei a equipe em cima de Neymar e Paulo Henrique. Eles sempre me chamaram a atenção. E estavam diferentes do que foram no ano anterior. Viviam um degrau acima de onde estavam em 2009. Ganharam afirmação dentro da equipe. Entenderam seu papel e mudaram a postura. Eu só pedi ao Neymar que fosse mais efetivo. Será um dos grandes do futebol brasileiro. É questão de tempo. Montou o Santos em função de Neymar e Ganso, mas teve de repensar tudo com Robinho...Tudo, não. Mas mudei um pouco. Não tinha como deixar o Robinho no banco. Então, com sua chegada, mudei um pouco o que pensava do time. Tivemos de reformular. Mesmo com a equipe bem, o Robinho não podia ficar fora. Ele comprova em campo o que vale. E como lida com todas essas "molecagens" dos jogadores? Não perde a paciência?Não perco, porque as brincadeiras acabam dentro de campo. Nem preciso pedir. Pode ser no treino mais simples que for. Esses meninos brincam as 24 horas do dia, se deixar. E isso eles não podem perder. O ser humano está muito grosso e ranzinza. E eles são alegres e jamais vou tirar isso deles. O Santos está no seu ápice? A equipe tem espaço para crescer. Vamos entrar em processo de oscilação, natural após o campeonato, ganhando ou perdendo, mas podemos crescer na Copa do Brasil e no Brasileiro.Mas não tem data para acabar: na próxima janela da Europa?Se o Santos quer ser diferente e quer montar um grande time, não pode fazer como todo mundo faz. Ou você tem um objetivo ou tem outro. Por isso, defendo a manutenção de todos por dois ou três anos. Esse time tem três meses. Tem de se preparar mais para que possa futuramente ter destaque.