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Por Reginaldo Leme
Atualização:

Esta foi uma semana em que falei de Fórmula 1 mais do que o habitual. Estive fazendo palestras na Bahia, onde estavam reunidas 1,1 mil pessoas, quase todos homens e divididos em dois tipos: os que não perdem uma corrida pela TV e os fanáticos pela F-1. Saí de lá feliz por constatar a força que o automobilismo mantém. Falamos de Felipe Massa, do progresso da Williams, da aposta no futuro de Felipe Nasr e de uma "quase certeza'' de que, com Vettel, a Ferrari "já alcançou a Mercedes''. E para explicar que este era um pensamento ainda precipitado? Entre os fanáticos, mesmo os que se confessavam "loucos pela Ferrari'', havia um entendimento melhor de que a vitória na Malásia tinha se originado mais no arrojo estratégico da equipe. De qualquer forma, a evolução da Ferrari é real - no carro e, principalmente, no motor -, assim como é indiscutível que Vettel reencontrou a alegria que faz dele um piloto diferente dos outros. É bom ver que Vettel não perdeu nada de sua técnica. E ainda ganhou um novo amor. Até então era uma paixão que trazia desde a criança que guardava nas paredes do seu quarto uma coleção de pôsteres do ídolo Michael Schumacher. No domingo, depois de soltar, em italiano, a frase "a Ferrari está de volta!'' sabendo que o mundo inteiro estaria ouvindo a comunicação pelo rádio com a equipe, Vettel mostrou no pódio tudo o que representava para ele estar ali naquela mesma posição e com "aquele'' macacão vermelho que por tanto tempo dominou seus sonhos. A Ferrari está de volta, sim. Mas não ainda como ameaça constante ao domínio da Mercedes. Foi uma vitória da aposta certeira do engenheiro Toni Cuquerella, espanhol contratado em janeiro, ao contrariar a lógica de parar no box quando o "safety car'' entrou na pista logo na quarta volta. Todas as rivais seguiram a lógica de aproveitar a chance para fazer a primeira das três paradas programadas. A Ferrari resolveu tentar apenas dois pit stops na pista de asfalto mais abrasivo e a temperatura mais alta de todo o campeonato. A partir daí a decisão arriscada do engenheiro, apoiado pela equipe, dependeu da competência de Vettel em conseguir andar em ritmo forte mesmo economizando pneu para fazer uma parada a menos. Para quem tinha esquecido, ou até duvidado, do talento do alemão, era chegada a hora de ele lembrar a todos por que é um tetracampeão. Depois de curta passagem pela BMW, Toni Cuquerella tinha sucumbido junto com a fracassada equipe espanhola HRT. Mas manteve-se ligado ao paddock da F-1 trabalhando como consultor da TV espanhola. A sua contratação foi sugestão de James Allison, diretor técnico da Ferrari, e com a importante missão de ser o coordenador dos engenheiros de pista. O risco assumido por ele foi amplamente recompensado ainda na mureta dos boxes, quando o chefe Maurizio Arrivabene o apontou e foi em sua direção para dar um abraço especial, logo depois de abraçar Allison. A primeira vitória desde o GP da Espanha em maio de 2013 (há quase dois anos), prudentemente, não deve ser vista como ameaça imediata à Mercedes, mas o rendimento do SF15-T, complicado nome do novo modelo, e o desempenho impecável de Vettel já serviram para que a equipe alemã carregue essa dúvida até o GP da China. É bom não esquecer que, ao assumir a direção geral da Ferrari, numa reestruturação total que incluiu até mesmo a saída do presidente Luca di Montezemolo, Arrivabene prometeu como meta para este ano vencer duas corridas. Metade já foi cumprida em apenas duas etapas. Desligo o botão da F-1 e ligo o da Stock Car. Já estou em Ribeirão Preto, onde acontece a primeira etapa do Campeonato Brasileiro no sistema habitual de rodadas duplas. Antes disso, houve a corrida de duplas, que é uma abertura festiva da temporada. A partir dessa etapa, as rodadas duplas passam a ter uma duração maior. A primeira bateria será de 48 minutos mais uma volta (antes eram 40). E a segunda, mais curta, passa de 20 para 28 minutos mais uma volta. O intervalo entre as duas é de 20 minutos, as alterações nos carros são proibidas, inclusive o reabastecimento, que é obrigatório, mas fazê-lo na primeira ou na segunda bateria é opção de cada piloto.

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